ESTRATÉGIAS UTILIZADAS NA CAMPANHA DE VACINAÇÃO COVID-19: REVISÃO DE ESCOPO

STRATEGIES USED IN THE COVID-19 VACCINATION CAMPAIGN: A SCOPING REVIEW

ESTRATEGIAS UTILIZADAS EN LA CAMPAÑA DE VACUNACIÓN CONTRA LA COVID-19: REVISIÓN DE ALCANCE

Julia Fantini - Graduada em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Catarina. ORCID: https://orcid.org/ 0009-0006-6289-8604.

Luiza Sheyla Evenni Porfírio Will Castro - Doutora em Bioquímica. Universidade Federal de Santa Catarina.  ORCID: https://orcid.org/ 0000-0003-2988-2230.

Rosani Ramos Machado - Doutora em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Catarina.  ORCID: https://orcid.org/ 0000-0001-8287-4171

Aniela Noelle Coelho - Residência Multiprofissional em Saúde da Família. Prefeitura Municipal de Florianópolis. ORCID: https://orcid.org/ 0009-0005-9626-5082

Denise Elvira Pires de Pires - Doutora em Ciências Sociais. Universidade Federal de Santa Catarina.  ORCID: https://orcid.org/ 0000-0002-1754-0922

Monica Motta Lino - Doutora em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Catarina. ORCID: https://orcid.org/ 0000-0003-0828-7969

Carla Sílvia Fernandes - Doutora em Enfermagem. Escola Superior de Enfermagem do Porto. ORCID: https://orcid.org/ 0000-0001-7251-5829

Felipa Rafaela Amadigi - Doutora em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Catarina. ORCID: https://orcid.org/ 0000-0003-1480-1231

RESUMO

Objetivo: Mapear as estratégias extramuros utilizadas durante a campanha de vacinação contra a COVID-19. Métodos: Trata-se de um estudo de revisão sistemática de escopo, cuja busca foi realizada em dezembro de 2022 e atualizada em dezembro de 2024, em 5 bases de dados. Foram obtidos 2.102 artigos, após a exclusão dos estudos, 30 artigos foram analisados através da análise temática de conteúdo. Resultados: A análise resultou em 5 categorias temáticas: “vacinação extramuro na campanha contra a COVID-19”; “estratégias e capacitações direcionadas para a atuação na campanha de vacinação”; “elegibilidade dos grupos prioritários para vacinação”; “representatividade social, religiosa e comunitária como dispositivo integrador entre a comunidade e o acesso à vacina”; e “inovações tecnológicas utilizadas na disseminação de informações acerca da vacinação”. Considerações finais: A análise dos dados permitiu observar que a vacinação extramuro é uma ferramenta potente de combate à doença, via imunização dos indivíduos e mitigação da transmissão viral.

DESCRITORES: COVID-19; Vacinação em Massa. Programas de Imunização, Fluxo de Trabalho, Enfermagem em Saúde Pública.

ABSTRACT

Objective: To map the extramural strategies used during the COVID-19 vaccination campaign. Methods: This is a systematic scoping review study, whose search was conducted in December 2022 and updated in December 2024, in 5 databases. A total of 2,102 articles were obtained; after the studies were excluded, 30 articles were analyzed through thematic content analysis. Results: The analysis resulted in 5 thematic categories: “extramural vaccination in the campaign against COVID-19”; “strategies and training aimed at acting in the vaccination campaign”; “eligibility of priority groups for vaccination”; “social, religious and community representation as an integrating device between the community and access to the vaccine”; and “technological innovations used in the dissemination of information about vaccination”. Final considerations: The analysis of the data allowed us to observe that extramural vaccination is a powerful tool to combat the disease, through immunization of individuals and mitigation of viral transmission.

DESCRIPTORS: COVID-19; Mass Vaccination. Immunization Programs, Workflow, Public Health Nursing.

RESUMEN

Objetivo: Mapear las estrategias extramuros utilizadas durante la campaña de vacunación contra la COVID-19. Métodos: Se trata de un estudio de revisión sistemática de alcance, cuya búsqueda se realizó en diciembre de 2022 y se actualizó en diciembre de 2024, en 5 bases de datos. Se obtuvieron 2.102 artículos, y después de excluir los estudios irrelevantes, se analizaron 30 artículos a través del análisis temático de contenido. Resultados: El análisis resultó en 5 categorías temáticas: “vacunación extramuros en la campaña contra la COVID-19”; “estrategias y capacitaciones dirigidas a la participación en la campaña de vacunación”; “elegibilidad de los grupos prioritarios para la vacunación”; “representatividad social, religiosa y comunitaria como dispositivo integrador entre la comunidad y el acceso a la vacuna”; y “innovaciones tecnológicas utilizadas en la difusión de información sobre la vacunación”. Consideraciones finales: El análisis de los datos permitió observar que la vacunación extramuros es una herramienta potente para combatir la enfermedad, a través de la inmunización de los individuos y la mitigación de la transmisión viral.

DESCRIPTORES: COVID-19; Vacunación masiva; Programas de inmunización; Flujo de trabajo; Enfermería en salud pública.

INTRODUÇÃO

A COVID-19 foi decretada como pandemia em março de 2020 pela OMS (1). A disseminação do vírus ocorreu de forma veloz e alarmante, sendo necessário que as autoridades de todos os países elaborassem planos de contingência com o intuito de mitigar a transmissão do vírus e suas consequências (2).

Desta forma, a vacinação foi uma estratégia para o combate a pandemia, visto que a imunização promove a prevenção de doenças (3). Autores destacam que os estudos em relação a criação de uma vacina segura e eficaz contra a COVID-19 foram realizados em todos os países do mundo pelos governos, instituições não governamentais e farmacêuticas (4).

Os planos para iniciar a vacinação, sendo uma das estratégias elencadas a vacinação extramuro, consiste em ofertar vacina à população fora dos estabelecimentos de saúde credenciados, as salas de vacinas (5). Essa estratégia descentraliza a imunização e facilita o acesso da população aos imunizantes, o que resulta em cobertura vacinal efetiva e por conseguinte a mitigação da doença (6).

A vacinação extramuros se apresenta como uma estratégia essencial na saúde pública para atender populações com acesso limitado aos serviços de saúde convencionais. Esta abordagem tem sido particularmente vital em campanhas de erradicação de doenças globais, como a varíola e a poliomielite, onde alcançar comunidades em áreas remotas se torna fundamental ao sucesso da erradicação (5–7). Além disso, em situações de emergência, como epidemias de febre amarela, cólera e Ebola, a vacinação extramuros provou ser uma estratégia eficaz para imunizar rapidamente as populações vulneráveis, garantindo uma resposta ágil e abrangente a crises de saúde, a exemplo do que ocorreu com a COVID-19 (5–7).

Trata-se de um estudo relevante para planejadores do programa de imunização em situações de pandemia ou epidemias, essencial para entender as práticas de vacinação extramuros, visando maximizar a cobertura vacinal e mitigar os impactos de crises sanitárias futuras (5–7). Nessa perspectiva, o presente estudo tem como objetivo mapear as estratégias extramuros utilizadas durante a campanha de vacinação COVID-19.

 

MÉTODO

Trata-se de um estudo realizado através da metodologia de revisão de literatura de Joanna Briggs Institute - JBI, por meio do método do protocolo de Scoping Review (revisão de escopo) (8). O estudo foi registrado na plataforma Open Science Framework (OSF Associated Project Registration: osf.io/6amvb) e recebeu o seguinte DOI: https://doi.org/10.17605/OSF.IO/6AMVB, assegurando o seu percurso metodológico nas recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR): Checklist and Explanation (9) segundo o método Joanna Briggs Institute Reviews’ manual (10).

Por conseguinte, formulou-se a questão de pesquisa por meio dos elementos do mnemônico CC (Conceito - Contexto), definindo-se como acrônimo “C” (conceito): vacinação extramuros e o “C” (contexto): campanha de vacinação COVID-19 (10). Neste sentido, o protocolo de revisão de escopo teve como pergunta norteadora: Quais estratégias extramuros foram utilizadas durante a campanha de vacinação COVID-19.

O critério de inclusão foi definido por meio da estratégia CC (Conceito - Contexto) e considerou manuscritos publicados que abordavam estratégias de vacinação extramuros no contexto da COVID-19. Estudos que detalham a logística, implementação, comunicação, parcerias com entidades locais, e outras estratégias relevantes. Como critérios de exclusão considerou-se estudos que não focam especificamente em estratégias de vacinação extramuros ou que são gerais demais sobre a vacinação. Estudos realizados antes da pandemia de COVID-19, pois não seriam relevantes para o contexto atual.

Foram incluídas as evidências disponíveis nas bases de dados selecionadas: Embase (Elsevier®); Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS)/Base de dados de Enfermagem (BDENF); Medline/PubMed®; SciELO; Scopus (Elsevier®). A construção da estratégia de busca da pesquisa foi realizada em dezembro de 2022, com apoio de uma bibliotecária da Biblioteca Universitária (BU) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e atualizada em dezembro de 2023, usando o protocolo para elaboração de estratégia de busca BU/UFSC (Figura 1). Todos os idiomas foram considerados e não houve recorte temporal.

Figura 1 - Estratégia de Busca BU/UFSC em bases de dados. Florianópolis/SC, Brasil.Texto

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Elaborado pelos autores.

Após a pesquisa, todas as citações identificadas foram agrupadas e carregadas no software Rayyan (Qatar Computing Research Institute,  Doha,  Qatar),  as  duplicatas foram identificadas  e  removidas.  Os títulos e resumos foram selecionados por dois revisores e, em seguida, importados para o gerenciador de referências Mendeley. O texto completo das citações selecionadas foi organizado em pastas e avaliado em detalhes em relação aos critérios de inclusão por dois revisores independentes. Os motivos para a exclusão de estudos de texto completo que não atendem aos critérios de inclusão foram registrados e relatados na revisão de escopo. Quaisquer divergências que surgiram entre os revisores em cada etapa do processo de seleção do estudo foram resolvidas por meio de consenso. Os resultados da seleção foram agrupados e representados na forma de fluxograma de   Itens   de   Relatório Preferidos para Revisões Sistemáticas e Meta-análises para Revisão do Escopo (PRISMA –ScR) (8–10).

Os dados foram extraídos dos artigos incluídos na revisão abrangente por dois revisores independentes, usando uma ferramenta de extração de dados desenvolvida pelos revisores, que ordenava/enumerava os artigos, mencionava o ano, país, autor(es), o título do artigo e a estratégia vacinal utilizada. Os dados extraídos incluíram detalhes específicos sobre os estudos, contemplando os principais achados relacionados com a pergunta da revisão.

Os achados foram apresentados esquematicamente detalhando a extração dos dados e analisados conforme a análise temática de conteúdo (11,12), com etapas de pré-análise, leitura exploratória, codificação e categorização temática para interpretar os resultados.

RESULTADOS

Foram obtidos 2.102 artigos na busca nas bases de dados que foram exportados e selecionados com o auxílio do Rayyan. Após a exclusão de estudos duplicados ficaram 1300 artigos que depois da análise dos títulos prosseguimos com 291 artigos, dos quais foi realizada a leitura dos resumos, onde ficaram 46 artigos para leitura na íntegra, e destas 30 publicações foram utilizadas na pesquisa (Figura 2).

Figura 2 - Fluxograma Prisma. Florianópolis/SC, Brasil

Diagrama

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Fonte: Elaborado pelos autores.

Os resultados foram categorizados segundo as características dos documentos selecionados e organizados em uma tabela identificando o ano, país, autores, título e estratégia vacinal utilizada (Figura 3).

Figura 3 - Característica dos documentos selecionados. Florianópolis/SC, Brasil

Tabela

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Fonte: Elaborado pelos autores.

Após a análise das 30 publicações, procedemos com a síntese temática de conteúdo. Este processo nos permitiu classificar as publicações em cinco categorias distintas: Vacinação extramuro na campanha contra a COVID-19; Estratégias e capacitações direcionadas para a atuação na campanha de vacinação contra a COVID-19; Elegibilidade dos grupos prioritários para vacinação contra a COVID-19; Representatividade social, religiosa e comunitária como dispositivo integrador entre a comunidade e o acesso à vacina; e Inovações tecnológicas utilizadas na disseminação de informações acerca da vacinação.

 

DISCUSSÃO

Vacinação extramuro na campanha contra a COVID-19

Com a intensificação da pandemia global, laboratórios aceleraram pesquisas para criar imunobiológicos contra a COVID-19, permitindo o rápido desenvolvimento de vacinas com variadas tecnologias (5). Estratégias globais de vacinação contra a COVID-19 ampliaram a oferta, incluindo a vacinação extramuro para atingir mais pessoas e reduzir a transmissão (11; 13).

A OMS destacou a vacinação como resposta efetiva à pandemia, visando reduzir a transmissão da COVID-19. Na China, a imunização em massa começou em dezembro de 2020, oito meses após a declaração da pandemia, enquanto o Brasil adotou uma abordagem mais lenta (11; 9).

Num contexto de intensa circulação do vírus e surgimento de variantes, a vacinação precisa ser rápida e dinâmica. Entretanto, nos Estados Unidos e na Europa, até junho de 2021, menos de 60% da população estava totalmente vacinada, exigindo ações imediatas, como a expansão de locais de vacinação para aumentar a cobertura e proteger a população (2).

Globalmente, países implementaram estratégias de vacinação, incluindo a reativa, desacelerando surtos, e a não reativa, como a vacinação em massa, amplamente adotada durante a pandemia da COVID-19. Realizadas em salas de vacinação e locais não convencionais, essas estratégias facilitaram o gerenciamento epidemiológico, mitigando a propagação do vírus (2; 15; 25; 26; 27; 29).

Países globalmente adotam a vacinação em massa como estratégia principal, sendo uma prática não vista desde a erradicação da Varíola na década de 70 (15; 25; 26; 27; 29). Locais não convencionais para vacinação em massa foram selecionados considerando estrutura, proximidade e acessibilidade a todas as classes sociais. Utilizando transporte público, automóveis ou a pé, buscou-se garantir equidade. Essa abordagem alcançou eficientemente um grande número de pessoas em curto prazo, com agilidade e segurança (3; 5; 13; 16; 25; 26; 27; 29).

Esses locais extramuro, como clínicas de vacinação, unidades satélites e drive-thru, demandaram organização rigorosa, planejamento e supervisão para mitigar a transmissão da doença e aumentar a cobertura vacinal (11; 13; 15). A vacinação extramuro foi vital na pandemia, ampliando o acesso à imunização. A estratégia reativa visava imunizar contatos diretos e locais frequentados por casos positivos. Eficiente em surtos, a vacinação reativa, junto a medidas de distanciamento e máscaras, mostrou-se eficaz (2; 12). Na COVID-19, contudo, a transmissão por assintomáticos desafia essa abordagem (2).

A estratégia de vacinação reativa pode não ser tão eficaz sem o rastreamento precoce e ágil vacinação dos contatos. A viabilidade depende de ações como testes regulares e estoque de vacinas. Conforme a pandemia avançou, a abordagem reativa mostrou-se menos eficiente do que estratégias não reativas, como a vacinação em massa. Essa última, ágil e abrangente, destaca-se na gestão pandêmica (2; 15).

Vacinação em massa ocorreu fora de salas credenciadas, em locais diversos como arenas esportivas, escolas, shoppings, igrejas, entre outros (2; 5; 11; 13; 20; 23). A estratégia incluiu identificar locais amplos, como universidades, centros de eventos e shoppings, que permitissem distanciamento, evitando aglomerações durante a vacinação em massa (5; 11; 17; 23; 30). Também, é crucial a proximidade estratégica entre o local de vacinação e a rede de frio para garantir distribuição eficiente e rápida do imunobiológico, otimizando o êxito vacinal na pandemia (11; 13; 15).

O drive-thru foi uma estratégia inovadora na vacinação em massa, ocorrendo em espaços com tráfego controlado, onde as pessoas permaneciam nos carros, garantindo segurança, distanciamento e eficiência (5; 7; 13). Uma desvantagem na modalidade drive thru foi a restrição para quem não dirigia (13). Contudo uma opção para sanar essa questão eram os pontos de vacinação de pedestres (11).

Pontos pedestres de vacinação visavam ampla cobertura. Próximos aos drives, eram organizados com fluxo único, evitando aglomerações. Os indivíduos passavam por filas, cadastro, aplicação e observação (3; 5; 11; 13).

Outros métodos incluíram vacinação domiciliar para pessoas com mobilidade reduzida, já empregada na atenção primária; agendamento online para datas específicas (8; 16; 18; 22); "noite aberta", que vacinava à noite indivíduos vulneráveis sem documentação, sem agendamento (10). Essas ações buscavam ampliar a cobertura vacinal e mitigar a transmissão em larga escala.

 

Estratégias e capacitações direcionadas para a atuação na campanha de vacinação contra a COVID-19

Capacitações online e just-in-time para profissionais da COVID-19 foram institucionalizadas, evidenciando eficácia na estratégia de vacinação em massa (5). Essas capacitações eram cruciais para garantir segurança dos usuários e profissionais (7).

Na campanha de vacinação, a enfermagem se reinventou diariamente, aprendendo e aplicando conhecimentos simultaneamente. Ações de educação permanente foram insuficientes devido ao ritmo acelerado e falta de tempo para orientações técnicas (8). 

Educação em saúde incluiu capacitações frequentes devido à dinâmica da vacinação, abordando fluxo, imunobiológicos, via de administração, armazenamento e monitoramento de temperatura, com resultados práticos efetivos (5; 11). Observou-se a necessidade de treinamentos frequentes devido ao rodízio de profissionais, sendo uma equipe fixa mais favorável para o funcionamento eficiente do serviço (11).

A importância de planejamento, execução de medidas em locais públicos de vacinação e treinamento de enfermeiros como vacinadores foi enfatizada, ampliando a capacidade de vacinação (15). Concomitantemente às capacitações, instruções diárias eram realizadas em formato de círculo, brevemente relembrando tópicos essenciais para alinhar informações aos usuários e garantir a eficácia da vacinação (11).

 

Elegibilidade dos grupos prioritários para vacinação contra a COVID-19

Antes do lançamento das vacinas contra a COVID-19, era essencial planejar a distribuição considerando a escassez global de vacinas e insumos, atraso na produção e distribuição (14,15).

Grupos prioritários foram escolhidos com foco na população mais vulnerável, considerando a limitação de doses. Critérios incluíram exposição ao vírus, mortalidade e comorbidades (15) (9; 14). Grupos iniciais prioritários em alguns países incluíram profissionais de saúde expostos, idosos e residentes em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), devido a maior risco (14; 15; 24).

Em alguns países, estratégias variadas para priorizar grupos na primeira fase incluíram residentes de ILPIs e idosos antes de profissionais de saúde (9). Em outras nações, a ênfase inicial foi em pessoas mais velhas, especialmente aquelas com 80 anos ou mais, seguido por transições para faixas etárias mais jovens (24). Embora a vacinação dos mais jovens pudesse reduzir a propagação, a prioridade aos idosos foi mantida para mitigar a morbimortalidade por COVID-19, conforme evidências (14, 15).

Os critérios da primeira fase consideraram alto risco de mortalidade/internação e maior exposição ao vírus, priorizando idosos, residentes de ILPIs, comorbidades e profissionais de saúde da linha de frente (24). Nas fases seguintes, grupos como portadores de doenças crônicas e vulneráveis socialmente (quilombolas, indígenas, negros, pessoas em situação de rua, populações privadas de liberdade, pessoas com deficiência permanente, refugiados, entre outros) foram vacinados conforme disponibilidade (1; 19; 24). Com o avanço da vacinação, todos foram alcançados, incluindo os mais jovens (20-49 anos), cuja imunização substancialmente mitigou a transmissão do vírus (14).

 

Representatividade social, religiosa e comunitária como dispositivo integrador entre a comunidade e o acesso à vacina

Na campanha da COVID-19, estratégias eram ajustadas diante de grupos hesitantes, impactando a imunização e a transmissão viral. Investir em campanhas combatendo a hesitação, envolvendo líderes comunitários e promovendo informações positivas foi crucial. A conscientização, com autoridades, celebridades, líderes religiosos, e horários específicos em locais de culto, foi bem-sucedida em superar relutâncias vacinais (10; 12; 13; 22).

A comunicação dos líderes religiosos é poderosa na promoção da saúde. A igreja se envolveu na vacinação da COVID-19, utilizando seus templos como locais de imunização (20).  Estratégias de vacinação incluíram alianças com líderes comunitários, envolvidos no planejamento e execução, identificando locais de difícil acesso, como comunidades marginalizadas e ocupadas, comunidades ciganas, entre outros (10).

Recomenda-se a mobilização de setores diversos, como organizações religiosas, associações de bairro, grupos minoritários, empresas, organizações sem fins lucrativos e órgãos governamentais, para promover informações sobre vacinação (7; 23).

           

Inovações tecnológicas utilizadas na disseminação de informações acerca da vacinação.

Tecnologias são meios de trabalho, mediando relações entre seres humanos, natureza e ambiente social, sendo historicamente e socialmente definidas para diversos usos (16,17). Nesse cenário, países usaram tecnologias inovadoras, especialmente mídias sociais e aplicativos, eficazmente na disseminação rápida de informações, gerenciando o curso da doença e reduzindo a disseminação do vírus da COVID-19 (9).

Complementando essas estratégias, mensagens via aplicativos, lembretes textuais, vídeos, mídia televisiva, propagandas, jornais, programas de rádio e outros foram estratégias amplamente utilizadas (18) (4; 21; 22). Universidades organizaram palestras e webinars educativos sobre COVID-19 e vacinação, ampliando a divulgação e instrumentalizando a comunidade sobre o tema (20).

A tecnologia é eficaz para disseminar informações, mas campanhas de educação em saúde são essenciais, abordando a hesitação vacinal. A educação deve ser contínua, antecipando-se e durante o lançamento de vacinas, além de abordar inseguranças e desinformação na mídia. Informações objetivas e organizadas combatem eficazmente a desinformação (5; 6).

A educação em saúde deve ser compreensível e abrangente, atendendo indivíduos de todos os níveis educacionais. Essa estratégia é essencial para ampliar o conhecimento, aumentar a vacinação e incentivar o autocuidado. São ferramentas cruciais para mudanças a longo prazo (7; 8; 23).

O uso da tecnologia é essencial para compreender as campanhas de vacinação. Uma abordagem de modelagem de dinâmica de sistemas, no estado indiano de Madhya Pradesh, identificou intervenientes, suas interligações e perspectivas. Modelos capturaram desafios e inovações, auxiliando acadêmicos, profissionais e formuladores de políticas (28).

Inovações tecnológicas foram essenciais para a saúde global na pandemia da COVID-19. Nos países menos desenvolvidos, a acessibilidade poderia ser limitada devido a custos e qualidade, resultando em desvantagens. Acordos entre governos, financiadores e fabricantes foram feitos para aumentar o acesso mundial às tecnologias durante e após a pandemia (19,20).

Limitações do estudo 

Embora abrangente, limita-se pela escassez de pesquisas focadas na estratégia de vacinação reativa, um aspecto crucial no manejo efetivo de pandemias. Outra questão foi a significativa heterogeneidade tanto nas metodologias quanto nos resultados apresentados nos estudos examinados. Essa variação metodológica e de resultados, particularmente no que tange às estratégias de vacinação empregadas no combate à COVID-19, podem ser considerados como limites para o entendimento do fenômeno, com mais profundidade. Tais limitações reforçam a necessidade de mais pesquisas com vistas ao fortalecimento da base de conhecimento sobre estratégias de vacinação em situações pandêmicas.

Contribuições para a área

Ao mapear estratégias extramuros durante a campanha de vacinação COVID-19, o estudo oferece contribuições para a enfermagem, especialmente na preparação e respostas rápidas a futuras pandemias. Tais apontamentos podem contribuir com as práticas de imunização, fortalecendo a capacidade de resposta da enfermagem, enquanto agentes centrais do processo vacinal, em alcançar populações diversas e em áreas remotas. Além disso, o estudo demonstra a resiliência e a flexibilidade da enfermagem, elementos essenciais para enfrentar eficientemente os desafios de crises de saúde pública emergentes, garantindo uma resposta mais ágil e abrangente em cenários pandêmicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados desta pesquisa destacam que estratégias como a vacinação extramuro, reativa e não reativa, foram amplamente usadas globalmente contra a COVID-19. A vacinação reativa focou em casos positivos e contatos, desacelerando surtos, enquanto a não reativa, incluindo a vacinação em massa, imunizou rapidamente várias pessoas. Esta última mostrou-se mais eficaz devido ao ritmo abrangente de vacinação. O sucesso dessas estratégias dependeu de planejamento cuidadoso, execução de medidas em locais públicos e treinamento frequente de profissionais na campanha contra a COVID-19.

A escassez global de vacinas demandou a priorização de grupos para a distribuição dos imunobiológicos. Líderes comunitários desempenharam papel crucial na conscientização e superação da relutância vacinal, destacando-se como poderosos divulgadores de saúde.

Além disso, a tecnologia com foco nas mídias sociais e aplicativos móveis foram utilizadas no auxílio na disseminação das informações, firmando-se como uma ferramenta efetiva na gestão da doença. Pois possibilitou o acesso às notícias de forma mais ampla e rápida a toda a população, mitigando a probabilidade de ampliação do vírus da COVID-19.

Por fim, entende-se que o objetivo proposto pela presente pesquisa foi alcançado e que a discussão sobre o tema não se encerra no horizonte deste estudo, sendo necessário, portanto, que outros estudos sobre essa temática, tão importante à saúde pública, sejam realizados.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Universidade Federal de Santa Catarina pela realização do Projeto Imuniza Floripa: uma contribuição da universidade no combate à Covid-19 e ao Laboratório Interdisciplinar de Tecnologia Educacional em Saúde - LITES pelas contribuições relacionadas ao tema.

DECLARAÇÃO DE CONFLITO DE INTERESSES

O manuscrito foi extraído do trabalho de conclusão de curso “Estratégias utilizadas na campanha de vacinação COVID-19 no mundo: uma revisão de escopo”, defendido em 2023, no Curso de Graduação em Enfermagem, na Universidade Federal de Santa Catarina.

FINANCIAMENTO

Sem financiamento.

CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES

Concepção e/ou desenho do estudo: JF, LSEPWC, FRA.

Coleta, análise e interpretação dos dados: JF, LSEPWC, FRA.

Redação e/ou revisão crítica do manuscrito:  JF, LSEPWC, RRM, ANC, DEPP, MML, CSF, FRA.

Aprovação da versão final a ser publicada: JF, LSEPWC, RRM, ANC, DEPP, MML, CSF, FRA