EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA A DIVERSIDADE: PESQUISA-AÇÃO COM CRIANÇAS PRÉ-ESCOLARES
HEALTH EDUCATION FOR DIVERSITY: ACTION RESEARCH WITH PRESCHOOL CHILDREN
EDUCACIÓN EN SALUD PARA LA DIVERSIDAD: INVESTIGACIÓN-ACCIÓN CON NIÑOS EN EDAD PREESCOLAR
Ágata Guerra Fraga Souza - Graduanda em Enfermagem na Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP), Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0008-3001-1874
Gabriela Rodrigues Bragagnollo - Pesquisadora de Pós-Doutorado na Faculdade de Enfermagem na Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP), Brasil. Professora Doutora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1480-8046
Isabela Oliveira de Almeida - Estudante de Pós-Graduação em Enfermagem na Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP), Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7517-0827
Vitória Cabral - Graduanda em Farmácia na Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP), Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0001-7721-6374
Wallacy Jhon Silva Araújo - Doutorando pela Faculdade Federal de Pernambuco, Recife (PE), Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7916-1250
Débora de Souza Santos - Professora Doutora da Faculdade de Enfermagem na Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP), Brasil . ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9060-3929
RESUMO
Objetivo: desenvolver estratégias eficientes de educação em saúde na escola, abordando questões sociais, raciais e de gênero no ambiente escolar, além de outras demandas emergentes na interação com a comunidade escolar. Métodos: trata-se de uma Pesquisa-Ação, com o uso de estratégias pedagógicas lúdicas trabalhadas de forma participativa e dialógica. Resultados: o desenvolvimento se deu em duas fases, uma virtual e outra presencial, abordando diversos eixos temáticos e houveram dois momentos de avaliação com as educadoras da instituição em relação aos impactos das atividades. Conclusão: a proposta mostrou-se exitosa, com algumas fragilidades ajustadas durante a pesquisa, mas reforça-se a necessidade de mais estudos na área. Contribuições para a prática: reforça a importância da atuação da enfermagem na educação e promoção à saúde, com relato de experiência exitosa e potencialmente transformadora para os profissionais, estudantes e sociedade.
DESCRITORES: Educação em Saúde; Educação Infantil; Enfermagem; Preconceito
ABSTRACT
Objective: to develop efficient health education strategies in schools, addressing social, racial and gender issues in the school environment, in addition to other emerging demands in the interaction with the school community. Methods: this is an Action Research, with the use of playful pedagogical strategies worked in a participatory and dialogical way. Results: the development took place in two phases, one virtual and one in person, addressing several thematic axes and there were two evaluation moments with the educators of the institution in relation to the impacts of the activities. Conclusion: the proposal proved to be successful, with some weaknesses adjusted during the research, but the need for more studies in the area is reinforced. Contributions to practice: it reinforces the importance of nursing work in education and health promotion, with a report of a successful and potentially transformative experience for professionals, students and society.
DESCRIPTORS: Health Education; Child Rearing; Nursing; Prejudice.
RESUMEN
Objetivo: Desarrollar estrategias eficaces de educación en salud en la escuela, abordando cuestiones sociales, raciales y de género en el entorno escolar, además de otras demandas emergentes en la interacción con la comunidad escolar. Métodos: Se trata de una Investigación-Acción, con el uso de estrategias pedagógicas lúdicas trabajadas de forma participativa y dialógica. Resultados: El desarrollo se dio en dos fases, una virtual y otra presencial, abordando diversos ejes temáticos y hubo dos momentos de evaluación con las educadoras de la institución en relación con los impactos de las actividades. Conclusión: La propuesta resultó exitosa, con algunas debilidades ajustadas durante la investigación, pero se refuerza la necesidad de más estudios en el área. Contribuciones para la práctica: Refuerza la importancia de la actuación de la enfermería en la educación y promoción de la salud, con relato de experiencia exitosa y potencialmente transformadora para los profesionales, estudiantes y la sociedad.
DESCRIPTORES: Educación en Salud; Educación Infantil; Enfermería; Prejuicio.
Recebido: 15/01/2025 Aprovado: 27/01/2025
Tipo de artigo: Artigo Original
INTRODUÇÃO
As crianças em idade escolar vivenciam estigmas e preconceitos relacionados a questões sociais, raciais e de gênero. Desde a tenra idade, as crianças são continuamente expostas a informações sobre o que é considerado “normal” e “bonito”, internalizando um discurso hegemônico que despreza, mesmo que de maneira inconsciente, tudo que difere do padrão socialmente aceito, sãos situações que retroalimentam os discursos de ódio e discriminação(1).
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes ao Censo Demográfico de 2022 revelaram que houve um crescimento significativo nos últimos anos das pessoas autodeclaradas pretas e pardas, representando 55,5% da população brasileira. Além disso, as mulheres representam 51,5% da população do país, mas ainda dedicam mais tempo aos cuidados domésticos e recebem quase metade do que os homens ganham, com uma disparidade ainda maior entre mulheres pretas e pardas(2). Considera-se que esse grupo seja o mais afetado pela desigualdade social e discriminação.
Essas estatísticas sublinham a urgência de combater as barreiras sociais e estruturais que perpetuam as vulnerabilidades das populações majoritárias do país. Salienta-se que ao abordar essas questões desde a infância, de maneira lúdica e dinâmica, é crucial para empoderar e valorizar crianças desses grupos, bem como educar aquelas que não pertencem a eles desde os primeiros anos de educação.
A educação é um instrumento de transformação da realidade, no qual o aluno é o protagonista. O educador deve se inserir na realidade da comunidade, conectando o conhecimento popular ao saber científico, com o objetivo de romper as barreiras sociais. Dessa forma, educadores e alunos poderão construir juntos uma mudança significativa na realidade de vida, enfatizando uma relação horizontal entre educandos e educadores, adaptando o processo educativo ao público específico. No ambiente escolar, é essencial que as crianças vivenciem as discussões sobre raça, gênero e sociedade de maneira adequada ao seu entendimento, oferecendo novas perspectivas ao estimular o pensamento crítico(3).
Considerando os aspectos raciais nas relações escolares, onde o racismo estrutural e institucional é permeado desde a família até a sala de aula, o conhecimento teórico-prático de educação antirracista relevante para promover espaços de descolonização das mentes de professores e estudantes(4). A teórica destaca que o resgate ancestral da conversação e da contação de histórias é uma estratégia eficaz para despertar o pensamento crítico de forma lúdica, visando a transgressão e transformação(5).
A metodologia de contar histórias permite que os aprendizes conheçam uns aos outros e seus símbolos culturais, despertando sentimentos e afetos que contribuem para a construção do pensamento crítico, articulando vivência e teoria(6).
Com o advento da pandemia do COVID-19, desde março de 2020, necessitou-se de estratégias pedagógicas de ensino em ambiente virtual, tornando as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) ferramentas essenciais para as práticas de educação à distância(7).
Nesse contexto, ressalta-se que as TICs são componentes intrínsecos às experiências de infância e adolescência na atualidade. Crianças e adolescentes desenvolvem uma familiaridade crescente com dispositivos e recursos digitais, que ocupam um espaço significativo em seu cotidiano. Portanto, incorporar TICs no meio educacional é uma estratégia promissora, considerando que essas tecnologias já fazem parte da vida de muitas crianças no seio familiar(8).
Esta pesquisa destaca a importância da abordagem, por meio de diversas estratégias, temas sociais, raciais e de gênero desde o primeiro contato das crianças com a escola e a educação, dado que as crianças frequentemente reproduzem preconceitos e estigmas, mesmo sem intenção. Dados estatísticos e literatura científica justificam a necessidade de abordar essas temáticas em todos os meios possíveis, visando derrubar barreiras estruturais que colocam alguns grupos como principais alvos de discriminação.
Assim, utilizando o projeto “EducaSaúde” e os princípios pedagógicos de educação libertadora e antirracista(3-5), a pesquisa teve como objetivo desenvolver estratégias de educação em saúde na escola, abordando questões sociais, raciais e de gênero, além de demandas emergentes na interação criança-família-comunidade.
MÉTODOS
Tipo de estudo
Trata-se de uma Pesquisa-Ação, metodologia que tem como fundamento o saber empírico da ação social para o desenvolvimento do conhecimento(9). Esta pesquisa utilizou como base metodológica a Pesquisa-ação, que se baseia na construção do conhecimento associada à interação com a comunidade, visando que o pesquisador se envolva com os participantes(10).
Cenário do estudo
O estudo foi desenvolvido em uma instituição de ensino público, localizada em um bairro periférico de uma cidade do interior do estado de São Paulo. As atividades de pesquisa sempre estiveram associadas às atividades de extensão. O projeto "EducaSaúde" promove desde 2018 atividades educativas em parceria com a comunidade, visando a saúde de crianças, suas famílias e educadores em uma creche pública. O propósito do projeto é a troca de conhecimentos e experiências que enriqueçam o trabalho com as crianças, abordando questões sociais e raciais desde os primeiros anos de educação, com o objetivo de impactar positivamente o desenvolvimento das crianças.
Participantes e período do estudo
A pesquisa foi desenvolvida entre 2022 e 2023, com a coleta de dados tendo início em janeiro de 2022. Entretanto, as atividades do projeto de extensão na instituição já aconteciam antes desse período, em caráter de extensão vinculada à Faculdade de Enfermagem da Unicamp.
A amostra foi composta por 60 participantes, sendo 40 crianças com idade entre 4 anos e 5 anos e 11 meses, e 20 educadoras vinculadas à creche. As crianças foram selecionadas por conveniência, com critérios de inclusão sendo: crianças ativamente matriculadas na creche, de quatro a seis anos incompletos, e educadoras com vínculo empregatício no período da pesquisa. O convite para participação foi feito à coordenadora pedagógica, que autorizou formalmente a participação da creche. Posteriormente, o convite foi estendido aos responsáveis pelas crianças através de reuniões com os familiares e envio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O convite às educadoras foi feito diretamente pela equipe de pesquisa, com apresentação do projeto e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Toda a pesquisa foi conduzida de acordo com os princípios éticos estabelecidos, assegurando o respeito e o bem-estar dos participantes.
Coleta e organização dos dados
As atividades de coleta ocorreram nos espaços físicos e/ou virtuais utilizados pelo projeto de extensão "EducaSaúde". Foram desenvolvidas estratégias como conversas, brincadeiras, exibição de vídeos e filmes, contação de histórias e músicas, com foco em questões sociais, raciais e de gênero. A atividades foram desenvolvidas em dois momentos: o primeiro, se deu de maneira remota, com encontros virtuais com as educadoras para planejar as atividades; o desenvolvimento das atividades com as crianças foi feito pelas próprias educadoras, uma vez que os alunos extensionistas não poderiam frequentar a instituição por conta das restrições sanitárias advindas da pandemia de COVID-19.
O segundo momento aconteceu quando o projeto de extensão e esta pesquisa retornaram com as atividades presenciais, realizadas no espaço físico da instituição, mediante liberação das restrições sanitárias da creche e da Faculdade de Enfermagem da Unicamp. Neste período, foram desenvolvidas sete atividades com as crianças, em diferentes eixos temáticos, sendo quatro delas focadas nas questões sociais, raciais e de gênero.
Durante a implementação dessas atividades, houve uma avaliação contínua do impacto das ações sobre as crianças. A equipe de pesquisa fez relatórios e documentou imagens das atividades, além de realizar duas avaliações estruturadas com as educadoras: uma no meio e outra no final do projeto. As avaliações foram feitas por meio de um formulário contendo cinco perguntas objetivas (avaliadas em uma escala numérica) e cinco perguntas subjetivas, onde as educadoras descreveram suas experiências e sugeriram mudanças; o objetivo desses encontros eram, além de aproximar a relação dos alunos extensionistas com as educadoras, ouvir quais tinham sido suas experiências com o desenvolvimento das atividades, assim como suas sugestões para o ano seguinte. Essa avaliação foi usada não apenas para sintetizar os resultados deste trabalho, mas também para nortear o desenvolvimento das atividades no ano de 2023, que seguiram acontecendo por meio do projeto de extensão. Após o preenchimento dos formulários, foram realizadas reuniões para discutir os resultados. Relatórios das reuniões entre a equipe do projeto de extensão também foram elaborados, com fins de planejamento e avaliação das atividades realizadas.
Importante destacar que a partir de 2023, o projeto deixou de chamar “EducaSaúde: educação lúdica promovendo qualidade de vida na escola” e passou a se chamar “Projeto Amoras: Amor às vidas pretas”, reforçando ainda mais o compromisso com a educação antirracista e com enfoque nas questões sociais, raciais e de gênero.
Análise dos dados
Os dados coletados nas entrevistas e nas reuniões foram transcritos e organizados no word. A análise dos dados seguiu o método de Análise de Conteúdo Temática, que envolveu as seguintes fases: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados e interpretação(9). Além disso, todas as observações feitas durante o estudo foram registradas nos diários de campo das pesquisadoras, onde foram documentados aspectos como as interações com os participantes, os espaços utilizados e os recursos empregados nas atividades.
Aspectos éticos
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas. O estudo foi conduzido conforme a Resolução 466/2012, que regula pesquisas com seres humanos. Com número CAAE é: 53030221.3.0000.5404, e parecer 5.217.358/2022.
RESULTADOS
Participaram do estudo 40 crianças e 20 educadoras. As crianças, todas em fase pré-escolar, tinham entre quatro e cinco anos e residiam no bairro onde a creche está localizada, uma região periférica com vulnerabilidades significativas em termos de saneamento e infraestrutura. Além disso, o bairro está localizado em uma das regiões de Campinas onde atualmente concentram-se os maiores índices de desigualdade, violência e narcotráfico, além de menor disponibilidade de recursos na área de saúde, educação e habitação.
A maioria dessas crianças dependia de serviços públicos, como escolas e unidades de saúde, para atender às suas necessidades básicas. As famílias apresentavam diversas configurações, incluindo não apenas pais, mães e irmãos, mas também avós, tios, primos e, em alguns casos, casais homoafetivos.
As educadoras incluíam tanto professoras quanto monitoras, que auxiliavam nas atividades dentro e fora da sala de aula. Predominantemente mulheres, as educadoras tinham idades variando entre 20 e 60 anos. Uma parte significativa delas residia no bairro São Marcos, o que facilitava o conhecimento prévio das crianças e suas famílias, tanto pela convivência na comunidade quanto pelas interações na creche.
Na Figura 1 estão descritas as atividades desenvolvidas na primeira fase das atividades, que foi realizada de maneira remota (planejada pela equipe de pesquisa e de extensão e aplicada pelas educadoras, que estavam frequentando presencialmente a creche).
Atividade | Objetivo | Proposta |
“Xô coronavírus: Me protegendo e protegendo a minha família” | Realizar uma apresentação com informações importantes sobre a pandemia de COVID-19 com as educadoras e apresentar materiais já existentes e também novos produzidos pela equipe para trabalhar com as crianças. | Atividades com as crianças:
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“Mexendo o corpo na pandemia” | Reforçar a importância da realização de atividades físicas pelas crianças e propostas de atividades simples e que exploram o uso do corpo na escola. | Atividades com as crianças:
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“Como cuidar do meu coração” | Trabalhar com as educadoras e também com as crianças como abordar e lidar com o luto, especialmente nos anos de pandemia, em que muitas pessoas perderam entes queridos. | Atividades com as crianças:
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Figura 1 - Atividades desenvolvidas de maneira remota na instituição. Campinas, SP, Brasil. 2022
Nesta fase, as estratégias foram apresentadas às educadoras durante reuniões virtuais via plataforma Google Meet pelos alunos do projeto de extensão e discutidas em conjunto com a equipe da creche, analisando a viabilidade e pertinência das mesmas. Após os ajustes, as atividades foram colocadas em prática com as crianças, com condução das próprias educadoras da instituição e, posteriormente, era dado um retorno à equipe de extensão e de pesquisa sobre os impactos da atividade.
A segunda etapa aconteceu de forma presencial, com participação dos alunos extensionistas e também das educadoras. Ressalta-se aqui que nem todas as atividades realizadas com as crianças tiveram como foco as questões sociais, raciais e de gênero, sendo algumas delas mais focadas em questões de saúde física como alimentação saudável e escovação dos dentes, pelo próprio caráter da metodologia desta pesquisa. Isso porque, a Pesquisa-Ação é baseada na inserção do pesquisador no cenário pesquisado e na interação contínua com os participantes da pesquisa, atendendo primeiramente as necessidades mais imediatas daquela comunidade e depois partindo para a aplicação da temática inicial de pesquisa.
Dessa forma, como foi trazido pelas próprias educadoras as demandas de questões de saúde mais tradicionais da infância, optou-se por trabalhar essas questões antes das questões sociais propriamente ditas.
O planejamento das atividades foi feito baseado em metodologias educativas que tivessem o elemento lúdico como principal pilar. O desenvolvimento das atividades com as crianças acontecia no período de uma hora e meia, com o acompanhamento da equipe de educadoras e monitoras da instituição e era registrado em formato de relatórios e imagens previamente autorizadas. Na Figura 2 estão descritas as quatro atividades com enfoque nas questões trabalhadas neste estudo.
Atividade | Temática | Perguntas disparadoras das roda de conversa | Metodologias utilizadas | Materiais digitais e físicos |
Todo mundo pode | Valorizando a diversidade de gênero | “Meninos podem limpar a casa e cozinhar? Meninos podem ser bailarinos e meninas podem jogar futebol?” | Leitura do livro “Ceci tem pipi?”, apresentação de bonecos e discussão de qual era o gênero deles e porquê as crianças pensavam aquilo | Livro “Ceci tem pipi?” de Thierry Lenain, bonecos de pano de uma aluna do projeto de extensão |
Valorizando o diferente | Valorizando a diversidade étnico-racial | “As pessoas são iguais? O que torna elas diferentes? Quais são os diferentes tons de pele? Quais são os diferentes tipos de cabelo?” | Apresentação do episódio “Zula, a Menina Azul” do Castelo Rá Tim Bum, Construção de uma árvore da diversidade com a marca dos polegares de todas as crianças, varal de desenhos de auto retrato | Vídeo do episódio “Zula, a Menina Azul” do Castelo Rá Tim Bum, cartolina com uma árvore desenhada, material de desenho e varal de barbante |
O que é uma família? Parte 1 | Relações familiares - Parte 1 | “O que é uma família? O que as famílias fazem juntas? Como é a sua família? Quais pessoas podem compor uma família? Quais os diferentes tipos de família?” | Música “Nossa Família”, leitura do “Livro da Família”, construção de um mural de qualidades necessárias a todas as famílias trazidas pelas crianças | Música “Nossa Família” do Mundo Bita, livro “Livro da Família de Todd Parr, cartolina para construção do mural |
O que é uma família? Parte 2 | Relações familiares - Parte 2 | Retomada das perguntas feitas na última atividade. | Leitura do livro “Família é feita de amor”, cultivo de semente de feijão em copo de plástico, desenho dos membros de sua própria família | Livro “Família é feita de amor” de Carolina Rodrigues da Silva Souza, copos plásticos e algodão, material para desenho |
Figura 2 - Atividades realizadas em 2022 de maneira presencial. Campinas, SP, Brasil, 2022
Todas essas atividades foram conduzidas pelos alunos extensionistas, acompanhadas pela docente coordenadora do projeto e por alunos de pós-graduação responsáveis pela supervisão das ações.
Conforme proposto na metodologia do trabalho, foi realizada uma avaliação parcial e uma final com as educadoras. A primeira avaliação aconteceu por meio de um Formulário on-line do Google, para entendimento do impacto das atividades nas crianças, na perspectiva das profissionais que as acompanham diariamente, além do ajuste dos pontos de melhoria no desenvolvimento das ações.
Entretanto, seguindo os preceitos da metodologia de Pesquisa-Ação, a equipe do projeto de extensão, da pesquisa e da instituição mantiveram contato próximo e um canal de comunicação aberto para que os ajustes necessários fossem feitos ao longo do desenvolvimento das atividades. O formulário de avaliação parcial foi composto de cinco perguntas objetivas (quatro sendo respondidas através de uma escala numérica de 1 a 5 e uma respondida com “sim” ou “não”) e cinco perguntas subjetivas. Foram recebidas cinco respostas, compiladas na Tabela 1.
Tabela 1 - Perguntas objetivas presentes no Formulário de Avaliação das educadoras. Campinas, SP, Brasil, 2022
Perguntas | Respostas (média) |
Quanto às atividades desenvolvidas pelo projeto "EducaSaúde" foram úteis para o trabalho com as crianças presencialmente na creche? (escala de 1 a 5) | 4,6 |
Os temas estavam adequados às necessidades das crianças? (escala de 1 a 5) | 5,0 |
As atividades propostas estavam adaptadas à realidade da creche e das crianças? (escala de 1 a 5) | 4,2 |
As atividades estavam fáceis de compreender para o público infantil? (escala de 1 a 5) | 4,8 |
O tempo para realização das atividades (1h/1h30) é adequado? (SIM ou NÃO) | SIM |
Ainda, neste mesmo formulário, foram feitas cinco perguntas subjetivas para as educadoras, sendo elas: “Quais formas as reações das crianças nas atividades? Conte um pouco como elas se comportaram”; “Você percebeu alguma mudança de comportamento ou atitude nas crianças após a realização da atividade, considerando os temas trabalhados? Se sim, quais?”; “Você possui alguma sugestão para que as atividades fiquem melhores e mais adaptadas ao que as crianças precisam?”; “Quais temas você acha que seriam interessantes trabalhar com as crianças no futuro?” e “Existe alguma necessidade das crianças, das famílias, da própria creche ou da equipe em que nós poderíamos ajudar?”.
Destacam-se algumas respostas dentre as recebidas: Atentas, compartilhando suas experiências pessoais e comentando entre si sobre o conteúdo falado, nos momentos após as conversas (P1) relativa à pergunta 1. É possível ver que já existe uma bagagem de conhecimento por parte das crianças, mas é nítido observar o enriquecimento dessa bagagem (P2) respondendo a questão 2. Mais atividades como desenho das propostas (P3) como resposta à pergunta 3. Alimentação, Comportamento, Família e Diversidade (P1), como sugestões para a questão 4. Se possível, atividades com relação a primeiros socorros (P4) como sugestão para a pergunta 5.
A avaliação parcial com as educadoras indicam que as atividades do projeto foram bem recebidas, com uma média de 4,6 para sua utilidade e 5,0 para a adequação dos temas às necessidades das crianças. A maior parte das educadoras também considerou que as atividades estavam adaptadas à realidade da creche (4,2) e fáceis de compreender pelo público infantil (4,8), além de considerarem o tempo de execução adequado. Nas respostas subjetivas, as educadoras relataram a atenção e engajamento das crianças, observaram enriquecimento no conhecimento delas e sugeriram temas como alimentação, diversidade e primeiros socorros para atividades futuras, ressaltando a relevância do projeto e seu potencial de aprimoramento.
Na segunda avaliação, o formulário de avaliação foi composto pelas mesmas perguntas, objetivas e subjetivas, respondidas em um documento físico. Além disso, essa segunda avaliação, que aconteceu no final do ano letivo, contou com uma reunião estruturada em que foram debatidos os pontos levantados pelas educadoras nos formulários.
Em relação às perguntas objetivas, mantiveram-se as mesmas do formulário anterior, porém como as pessoas podiam escrever, as respostas em sua maioria foram discursivas e não numéricas, como sugerido na pergunta. A principal consideração feita pelas educadoras nessa primeira parte do formulário foi a necessidade de adequação do tempo das atividades, que deveria ser reduzido, para que houvesse melhor aproveitamento e concentração das crianças.
Na segunda parte do formulário, como na primeira avaliação, foram feitas as mesmas perguntas subjetivas, com alguns destaques para as seguintes respostas: Foi possível ver o envolvimento das turmas, os temas vieram de encontro com a realidade do grupo e participaram de forma bem ativa com relatos de suas vivências (P1). Experiências mais lúdicas com tempo reduzido, brincadeiras e jogos, figuras teatro e musicalização (P2) em relação a avaliação das atividades já realizadas. Uso consciente das telas, valores, diversidade, educação alimentar e técnicas integrativas em saúde como sugestão de temas a serem trabalhados. Sempre trabalhar com o corpo (a criança como indivíduo com consciência corporal), desenvolvimento humano mesmo, conhecendo o desenvolvimento humano, os pais entenderiam melhor seus filhos e suas fase (P3) como sugestão de necessidade a ser suprida.
A avaliação anual das educadoras revelou considerações importantes para o aprimoramento das atividades do projeto. Embora as perguntas objetivas tenham sido mantidas, a maioria das respostas foi discursiva, destacando a necessidade de reduzir o tempo das atividades para melhorar o foco e a concentração das crianças. As respostas subjetivas reforçaram o envolvimento ativo das turmas, que se identificaram com os temas abordados. Entre as sugestões de melhoria, educadoras recomendaram atividades mais lúdicas, como jogos e musicalização, além de proporem novos temas, como uso consciente das telas, diversidade e técnicas integrativas em saúde. A valorização do corpo e do desenvolvimento humano também foi apontada como uma necessidade a ser trabalhada junto às crianças e seus pais.
DISCUSSÃO
A partir dos achados resultantes das intervenções observou-se que o ambiente doméstico, o círculo familiar e o contexto social e econômico impactam significativamente o desenvolvimento infantil, não apenas em indicadores cognitivos e psicomotores, mas especialmente na construção das relações e percepção da sociedade(11).
Além disso, o contexto socioeconômico exerce uma influência significativa, afetando o acesso a recursos educacionais, oportunidades de socialização e ambientes de aprendizagem enriquecidos. Em um estudo realizado no Amazonas que teve como objetivo avaliar a influência do ensino superior materno e da renda familiar no desenvolvimento motor lactentes, destacou que crianças provenientes de famílias com menor status socioeconômico frequentemente enfrentam desafios adicionais, como maior exposição ao estresse financeiro, menor acesso a materiais educativos e menor participação em atividades extracurriculares, o que pode limitar o desenvolvimento pleno de suas capacidades cognitivas e sociais. Esses fatores contribuem para a perpetuação de desigualdades sociais, onde crianças em contextos menos favorecidos têm menos oportunidades de alcançar seu potencial máximo(12).
Ademais, essa realidade se relaciona diretamente com o ODS 1 (Erradicação da Pobreza) e o ODS 4 (Educação de Qualidade), pois para garantir um desenvolvimento infantil adequado, é imprescindível que as famílias tenham acesso a condições de vida dignas e que as crianças tenham acesso à educação de qualidade desde a infância. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram adotados pela Assembleia Geral das Nações Unidas, como parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Esses objetivos têm como finalidade abordar questões sociais, econômicas e ambientais, visando erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir a paz e a prosperidade para todos(13).
Além do ambiente familiar imediato, o contexto social mais amplo, incluindo a comunidade e a infraestrutura local, desempenha um papel crucial no desenvolvimento infantil. Comunidades caracterizadas por forte coesão social, segurança e acesso a serviços essenciais de qualidade, como creches e escolas com boa infraestrutura e investimento, oferecem um ambiente mais favorável ao crescimento saudável das crianças(14). O fortalecimento das comunidades está alinhado com o ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis), que propõe a criação de ambientes inclusivos e seguros para todos(13).
A interação com pares e adultos fora do núcleo familiar, especialmente educadores e outros profissionais, enriquece significativamente a experiência social das crianças, fomentando habilidades de convivência, empatia e uma compreensão mais profunda das normas e valores sociais. A interdependência entre o ambiente doméstico, o círculo familiar e o contexto socioeconômico forma um ecossistema complexo que influencia profundamente o desenvolvimento infantil. Compreender essas interações é fundamental para a formulação de políticas públicas e programas de intervenção que busquem mitigar desigualdades e promover ambientes mais equitativos e propícios ao desenvolvimento integral das futuras gerações(15). Isso se alinha ao ODS 10 (Redução das Desigualdades), que visa promover a inclusão e a equidade(13).
O ambiente da creche mostrou-se propício para o desenvolvimento de atividades de educação em saúde, produzindo resultados positivos. A creche, enquanto espaço social, oferece um cenário único onde crianças têm a oportunidade de compartilhar experiências e interagir com seus pares, aprendendo princípios fundamentais de convivência que impactam diretamente seu comportamento futuro. Nesse contexto, a socialização não se limita apenas à aquisição de habilidades sociais, mas também se estende à formação de identidades e à construção de relações interpessoais saudáveis. A interação com outras crianças e educadores promove a empatia e a resolução de conflitos, habilidades essenciais para a vida em sociedade.
Ainda, a qualidade das interações sociais na infância está correlacionada ao desenvolvimento de competências emocionais e sociais ao longo da vida, reforçando a importância desse ambiente educativo inicial(16).
As temáticas abordadas nas atividades de educação em saúde foram cuidadosamente selecionadas para responder a necessidades identificadas pela equipe da instituição e pelo projeto de extensão. Esse alinhamento entre as atividades e as demandas do grupo é fundamental para garantir a relevância e a eficácia do aprendizado. Observou-se que o senso de coletividade e pertencimento cultivado entre as crianças influencia suas relações tanto dentro quanto fora da escola. Ao promover um ambiente onde a colaboração e o respeito mútuo são incentivados, as práticas educacionais contribuem para a formação de cidadãos mais conscientes e engajados. Esse foco na construção de comunidades solidárias se relaciona com o ODS 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes), que busca promover sociedades pacíficas e inclusivas(13).
Nesse sentido, as práticas de ensino baseadas na filosofia Ubuntu, que enfatiza a interconexão e a solidariedade entre os indivíduos, mostraram-se promissoras na educação antirracista. A abordagem Ubuntu não apenas enriquece a compreensão das crianças sobre diversidade e inclusão, mas também propõe uma reflexão crítica sobre as dinâmicas sociais, contribuindo para a formação de um ambiente mais justo e equitativo(17).
Além disso, percebeu-se a necessidade de desenvolver metodologias ativas na educação infantil, em que o aluno é colocado como o sujeito central do processo de aprendizado. Essas metodologias promovem uma interação mais dinâmica e estimulante, encorajando as crianças a explorar seu espaço físico e a expressar sua curiosidade natural. Atividades que envolvem jogos, experimentações e projetos colaborativos são exemplos de como essas abordagens podem ser implementadas. A Pesquisa-Ação, como metodologia que busca a transformação do contexto por meio da reflexão e da ação, está alinhada com a promoção de temas emergentes que surgem das experiências e interesses das crianças(10,18). Essa abordagem não apenas valida as vozes dos alunos, mas também enriquece o processo educativo, garantindo que as aprendizagens sejam significativas e contextualizadas, o que se relaciona com o ODS 4, que busca garantir uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade(13).
As crianças foram incentivadas a seguir abordagens lúdicas, com atividades como contação de histórias, músicas, vídeos educativos e rodas de conversa. Estudos mostram que o lúdico é essencial para o desenvolvimento infantil, pois facilita a aprendizagem ao associar novos conhecimentos à experiências significativas e à diversão(19-20). Intervenções educativas lúdicas são extremamente importantes no contexto do processo ensino-aprendizagem, sendo um excelente recurso didático e uma ótima estratégia para ações de extensão em programas de educação em saúde(18).
A contação de histórias, em particular, tem sido eficaz para abordar temas complexos de maneira acessível, permitindo que as crianças se conectem emocionalmente com as narrativas (18,21). Esses achados foram confirmados pelas avaliações das educadoras e monitoras, que relataram mudanças nos comportamentos das crianças, na forma de abordar os temas tratados e nas relações com colegas e educadoras, mostrando como os aprendizados escolares impactam a construção de princípios e valores sociais(21).
Em consonância com os pilares da Pesquisa-Ação, as atividades foram adaptadas às demandas da equipe da creche, refletindo um compromisso contínuo com a flexibilidade e a relevância das práticas educacionais. Esse alinhamento entre as ações do projeto e as necessidades expressas pelas educadoras é fundamental para garantir que os conteúdos abordados não apenas sejam pertinentes, mas também impactem efetivamente o desenvolvimento das crianças. Além de temas raciais, sociais e de gênero, que são cruciais para a formação de uma consciência crítica e cidadã, também foram discutidas questões práticas e imediatas, como alimentação e primeiros socorros. A inclusão dessas temáticas foi uma resposta direta às demandas espontâneas das educadoras, que perceberam a urgência em abordar aspectos que impactam diretamente o dia a dia das crianças e de suas famílias. Ao integrar temas de saúde e nutrição com a educação antirracista e social, o projeto enriquece o aprendizado e prepara as crianças para uma convivência mais consciente e saudável na sociedade(22).
Um achado importante desse processo é a necessidade de associar o setor de saúde ao setor de educação para promover saúde integral. Essa interseção é essencial, pois a saúde e a educação estão intrinsecamente ligadas no desenvolvimento humano. A colaboração entre estudantes e docentes da área da saúde e a equipe de educação não apenas enriquece as práticas pedagógicas, mas também permite identificar e suprir as necessidades de saúde das crianças de forma mais eficaz. Essa abordagem colaborativa possibilita uma compreensão mais ampla das condições que afetam o bem-estar infantil, abrangendo desde a nutrição adequada até a promoção de habilidades sociais e emocionais. Ao trabalharem juntos, os profissionais de saúde e educação podem desenvolver estratégias integradas que abordam as necessidades multifacetadas das crianças, promovendo não apenas o aprendizado cognitivo, mas também a saúde física e mental(23-24).
Essa parceria entre os setores é vital para a construção de um ambiente educacional que não só ensina, mas também cuida e protege as crianças, contribuindo para seu desenvolvimento integral e preparando-as para serem cidadãos saudáveis e engajados. Esse aspecto se relaciona diretamente com o ODS 3, que busca assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos(13).
O enfermeiro, como educador, precisa se comprometer com essa função, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem(25). Essa perspectiva é fundamental, pois a educação em saúde é uma estratégia eficaz para prevenir doenças e promover hábitos saudáveis(26). A oportunidade de desenvolver ações educativas durante a graduação é essencial para formar competências fundamentais que todo enfermeiro deve possuir. Ao participar de atividades educativas, os graduandos têm a chance de explorar e aprimorar habilidades de comunicação, que são essenciais durante as ações educativas. Além disso, o desenvolvimento de competências como adaptação às necessidades do público, liderança em contextos variados, tomada de decisões em situações complexas e gerenciamento de tempo eficaz são enriquecidos através dessas experiências práticas. Essas habilidades não apenas melhoram a atuação profissional dos enfermeiros, mas também contribuem para uma abordagem mais humanizada, integral e equânime(27).
Por fim, o vínculo entre profissionais de saúde e educação foi crucial para o sucesso do trabalho, promovendo a interação com a comunidade e o entendimento do território, características intrínsecas da Pesquisa-Ação(10,23,24). Essa colaboração entre diferentes setores é essencial para o fortalecimento das políticas de saúde e educação, pois permite que as intervenções sejam mais integradas e alinhadas às necessidades reais da população.
Quando enfermeiros e educadores trabalham em conjunto, eles podem identificar de maneira mais eficaz as necessidades de saúde da comunidade, promovendo ações que não apenas atendem a problemas imediatos, mas que também são sustentáveis a longo prazo. Essa parceria é fundamental, sendo ainda mais essencial em contextos vulneráveis, onde as desigualdades em saúde e educação são maiores.
A Pesquisa-Ação, que envolve reflexão e ação sobre a prática, possibilita um ciclo de aprendizagem contínuo que beneficia tanto os profissionais quanto os alunos. Essa abordagem colaborativa não apenas enriquece o aprendizado, mas também fomenta um senso de responsabilidade compartilhada pelo bem-estar da comunidade, criando um impacto positivo que se estende além das paredes da creche ou da instituição de saúde.
Limitações do estudo
Apesar dos resultados da pesquisa terem sido satisfatórios em cumprir o objetivo deste trabalho, reconhece-se que existem fragilidades próprias da metodologia escolhida. A aplicação de atividades de maneira remota, utilizada durante o período de restrições sanitárias, ainda desperta dificuldades tanto para quem aplica quanto para as crianças, trazendo um viés que não necessariamente representa a potencialidade da atividade, mas sim uma fragilidade do canal de comunicação, sendo esta a principal limitação do estudo. Além disso, foi utilizada para esta pesquisa uma amostra reduzida, fazendo-se necessária a reprodução destes métodos em outros cenários e contextos, fortalecendo os achados aqui apresentados.
Contribuições para a prática
Com a experiência deste trabalho, percebeu-se que o uso de metodologias amparadas na educação social, crítica e antirracista, com uso de estratégias diversificadas (contação de histórias, músicas, vídeos educativos, rodas de conversa, brincadeiras, construção conjunta de painéis, pinturas, desenhos), foi fundamental para manter as crianças engajadas, sensibilizadas e críticas. Reforça-se assim a importância da atuação da enfermagem na educação e promoção à saúde, com relato de experiência exitosa e potencialmente transformadora para os profissionais, estudantes e sociedade.
CONCLUSÃO
Por meio dos achados desta pesquisa, especialmente a avaliação das educadoras, percebe-se que existe um posicionamento majoritariamente positivo em relação ao trabalho que foi desenvolvido e que existem muitas demandas para serem exploradas à longo prazo, trazidas pela equipe. No que diz respeito à forma como as atividades foram propostas, percebe-se que a principal fragilidade percebida foi em relação ao tempo de aplicação das atividades, que deveria ser reduzido e ao uso do espaço, que poderia ser mais explorado.
Depreendeu-se por fim que, por mais que os achados deste trabalho tenham sido, no geral, positivos e que as fragilidades tenham sido criticamente apontadas, essa temática demanda mais espaço na literatura, com mais estudos e reproduções de cenários semelhantes, para consolidação dos achados e pressupostos para a educação em saúde para o público infantil.
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