USO DE ÁLCOOL E APOIO SOCIAL ENTRE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS
ALCOHOL USE AND SOCIAL SUPPORT AMONG COLLEGE STUDENTS
USO DE ALCOHOL Y APOYO SOCIAL ENTRE ESTUDIANTES UNIVERSITARIOS
Letícia Pinho Gomes - Mestre em Imunologia e Parasitologia (UFMT), Especialista em Docência no Ensino Superior (UNIVAR). Docente no Centro Universitário do Vale do Araguaia - UNIVAR. ORCID: https://orcid.org/0009-0005-1557-5303
Érika Maria Neif - Docente no Centro Universitário do Vale do Araguaia - UNIVAR. Doutora em Ciências pela Universidade Estadual de Maringá. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2480-9122
Andreia Correia de Souza Cioffi - Docente do Centro Universitário do Vale do Araguaia - UNIVAR. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Mato Grosso; Enfermeira. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2396-9343
Lindomar Campos Rodrigues - Docente no Centro Universitário Unicathedral. Especialista em Ciências Físicas (UFMT). ORCID: https://orcid.org/0009-0003-7999-0800
Wemerson Borges Afonso - Psicólogo clínico. Especialista e psicólogo pelo Centro Universitário do Vale do Araguaia. ORCID: https://orcid.org/0009-0006-0848-6860
Vilnei Félix - Graduando em Enfermagem pelo Centro Universitário do Vale do Araguaia – UNIVAR. ORCID: https://orcid.org/0009-0002-8935-6435
Marcos Vítor Naves Carrijo - Docente do Centro Universitário do Vale do Araguaia - UNIVAR. Mestre e Doutorando em Enfermagem pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8843-0499
RESUMO
Objetivou-se verificar a associação entre o uso de álcool e o apoio social entre estudantes universitários. Trata-se de um estudo transversal, analítico com abordagem quantitativa. A amostra por conveniência foi composta por acadêmicos regularmente matriculados. A coleta de dados ocorreu entre os meses de maio a agosto de 2023. Os dados foram obtidos por meio de um questionário constituído por três instrumentos, o primeiro para a caracterização da amostra, de autopreenchimento, construído pelo pesquisador do estudo, dividido em sessões com as características sociodemográficas, profissionais, religiosas e espirituais. A escala Social Support Scale que verifica o apoio social e o Alcohol Use Disorders Identification Test, para averiguação do uso de álcool. Utilizou-se o programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences versão 20.0, empregando-se o teste de Qui-quadrado de Pearson. Participaram da pesquisa 261 estudantes. A amostra foi constituída em sua maioria por estudantes do gênero feminino, com faixa etária entre 18 a 65 anos. Com relação ao uso de álcool, 164 (62,8%) estudantes universitários fazem uso arriscado, não obtendo correlação entre este uso de álcool e apoio social. Conclui-se assim a alarmante prevalência de consumo arriscado de álcool e constata-se como fatores associados os acadêmicos dos cursos da área da saúde, dos anos iniciais e sem companheiro. Destaca-se ainda que a presente pesquisa encontrou altos níveis de apoio social, o que pode estar relacionado ao fato de a variável não ter apresentado correlação com o uso de álcool.
PALAVRAS-CHAVE: Consumo de Álcool na Faculdade; Apoio Social; Saúde Mental.
ABSTRACT
The objective was to verify the association between alcohol use and social support among university students. This is a cross-sectional, analytical study with a quantitative approach. The convenience sample was composed of regularly enrolled academics. Data collection took place between the months of May and August 2023. Data were obtained through a questionnaire consisting of three instruments, the first for characterizing the sample, self-completed, constructed by the study researcher, divided into sessions with sociodemographic, professional, religious and spiritual characteristics. The Social Support Scale, which verifies social support, and the Alcohol Use Disorders Identification Test, to investigate alcohol use. The statistical program Statistical Package for the Social Sciences version 20.0 was used, employing Pearson's Chi-square test. 261 students participated in the research. The sample consisted mostly of female students, aged between 18 and 65 years. Regarding alcohol use, 164 (62.8%) university students use it riskily, with no correlation between this use of alcohol and social support. This concludes the alarming prevalence of risky alcohol consumption and associated factors include students studying health courses, in the initial years and without a partner. It is also noteworthy that the present research found high levels of social support, which may be related to the fact that the variable did not show a correlation with alcohol use.
KEYWORDS: Alcohol Drinking in College. Social Support. Mental Health.
RESUMEN
El objetivo de este estudio fue verificar la asociación entre el consumo de alcohol y el apoyo social entre los estudiantes universitarios. Se trata de un estudio transversal, analítico con un enfoque cuantitativo. La muestra por conveniencia estuvo compuesta por estudiantes matriculados regularmente en la universidad. La recolección de datos se realizó entre mayo y agosto de 2023. Los datos fueron obtenidos mediante un cuestionario compuesto por tres instrumentos: el primero para la caracterización de la muestra, de auto-relleno, elaborado por el investigador del estudio, dividido en secciones con características sociodemográficas, profesionales, religiosas y espirituales; la Escala de Apoyo Social para medir el apoyo social; y el Alcohol Use Disorders Identification Test para verificar el consumo de alcohol. Se utilizó el programa estadístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versión 20.0, empleando la prueba de Chi-cuadrado de Pearson. Participaron en la investigación 261 estudiantes. La muestra estuvo compuesta en su mayoría por estudiantes del género femenino, con edades entre 18 y 65 años. En cuanto al consumo de alcohol, 164 (62,8%) estudiantes universitarios consumen alcohol de manera riesgosa, sin que se haya encontrado correlación entre el consumo de alcohol y el apoyo social. El estudio concluye con una alarmante prevalencia de consumo riesgoso de alcohol, encontrando factores asociados entre los estudiantes de los cursos de salud, en los primeros años de estudio y sin pareja. Además, se destaca que la presente investigación encontró altos niveles de apoyo social, lo que podría estar relacionado con la ausencia de correlación entre el consumo de alcohol y el apoyo social.
PALABRAS CLAVE: Consumo de alcohol en la universidad; Apoyo social; Salud mental.
Recebido: 30/01/2025 Aprovado: 10/02/2025
Tipo de artigo: Artigo Quantitativo
INTRODUÇÃO
O ingresso na universidade constitui um período de transição repleto de oportunidades e desafios únicos que distinguem essa fase na vida de um jovem.1 Percebe-se que este momento é marcado pelo surgimento das responsabilidades acadêmicas, atividades extracurriculares, iniciação científica e alta competitividade universitária.2 É comum que o estudante possa experimentar sensações de sobrecarga e estresse, que, por sua vez, podem desencadear consequências adversas para a saúde mental, manifestando-se por meio de sintomas de ansiedade, depressão e até mesmo transtornos de adaptação.3
O alcoolismo é reconhecido como um desafio de saúde pública, com ramificações que afetam tanto o indivíduo quanto a sociedade. O álcool é uma substância psicoativa legal que pode ser utilizada de maneira descontrolada e é prontamente disponível, especialmente entre os estudantes universitários.4 As altas demandas, a competição intensa e a incerteza sobre o futuro podem levar os estudantes a buscarem formas de aliviar o estresse, muitas vezes recorrendo ao álcool.3 Recentemente estudos realizados em território nacional, indicam que o consumo de álcool e outras substâncias psicoativas é uma preocupação entre os universitários, sendo que 60% dos estudantes relataram ter ingerido álcool no mês anterior a pesquisa.5
No Brasil, a discussão e produção de conhecimento relacionadas à vulnerabilidade psicológica dos estudantes ao vivenciar o ensino superior têm aumentado progressivamente e, ainda assim, vê-se a necessidade de ampliar as discussões em torno dessa temática. Aproximadamente 15% a 25% dos estudantes são estimados a vivenciar algum tipo de distúrbio psicológico, sendo que os transtornos de ansiedade e depressão são os mais predominantes nesse grupo.6
Diante este fato, justifica-se a elaboração desta pesquisa perante a elevada exposição dos universitários ao uso de abuso de álcool, favorecendo assim complicações a sua vida acadêmica e riscos a sua saúde mental e física, se fazendo de suma importância o rastreio dos fatores inerentes para auxílio na construção de ações e estratégias de prevenção e promoção à saúde destes estudantes.
Destarte as informações supracitadas, o presente estudo tem como objetivo verificar a associação do uso de álcool e o apoio social entre estudantes universitários no interior de Mato Grosso.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal, correlacional com abordagem quantitativa. O desenho de estudo seguiu as orientações da iniciativa STROBE (Strengthening the Reporting of Observational studies in Epidemiology).7
A pesquisa foi realizada em uma instituição de ensino superior privada, no interior de Mato Grosso. A instituição foi fundada em 1989 e atualmente possui 16 cursos, com aproximadamente 2764 estudantes.
A amostra por conveniência foi composta por acadêmicos regularmente matriculados em um dos cursos do Centro Universitário do Vale do Araguaia (UNIVAR). A coleta de dados ocorreu entre os meses de maio a agosto de 2023.
Os dados foram obtidos por meio de um questionário constituído por três instrumentos, sendo o primeiro para a caracterização da amostra, de autopreenchimento, construído pelo pesquisador do estudo, dividido em sessões com as características sociodemográficas, profissionais, religiosas e espirituais. A escala Social Support Scale (SSS) que verifica o apoio social com 19 itens que abrangem cinco dimensões de apoio social: material; afetiva; interação social; emocional; informacional e o AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test) para averiguação do uso inadequado de álcool.
Após a coleta de dados, os mesmos foram inseridos no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20.0, utilizando a dupla digitação para possibilitar a verificação de potenciais inconsistências durante a confecção do banco de dados.
Para análise descritiva das variáveis contínuas utilizou-se média e desvio-padrão, enquanto que as variáveis categóricas foram expressas por meio de frequências relativa e absoluta. O uso de álcool obtido por meio do instrumento AUDIT, teve seu escore categorizado de acordo com os princípios de sua aplicabilidade orientados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo valores menores que 8 para aqueles com baixo risco e valores iguais ou superiores à 8 para aqueles em uso problemático, empregou-se o teste de Qui-quadrado de Pearson (X²), sendo adotado nível de confiança de 95% e significância estatística valor p < 0,05.
Este estudo respeitou os preceitos éticos da Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, garantiu o anonimato de cada participante. No primeiro momento foi apresentado a pró-reitoria da referida instituição e concebida a anuência, posteriormente, submetido ao comitê de ética em pesquisa obtendo parecer favorável, sob o número 6.030.808 e Certificação de Apresentação e Apreciação Ética (CAAE) nº 67498523.7.0000.5587. Todos os participantes tiveram sua participação precedida perante aceite via assinatura ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo que neste foi apresentado todos os riscos e benefícios da pesquisa assim como a permissão de sua retirada da pesquisa em qualquer momento.
RESULTADOS
Participaram da pesquisa 261 estudantes. A amostra foi constituída em sua maioria por estudantes do gênero feminino (78,5%), com faixa etária entre 18 a 65 anos, heterossexuais (82,8%), com cor de pele não branca (58,5%), sem parceiro (77,0%), que possuem emprego (59,8%), com crença religiosa (80,1%), moram acompanhadas (85,1%) e que não precisaram mudar de cidade para ingressar no centro universitário (53,3%).
Quanto as variáveis acadêmicas, a maior parte dos acadêmicos estavam matriculados no curso desejado (90,8%), satisfeitos com o curso (90,8%), cursando os anos iniciais (50,2%), sendo das áreas de agrárias e sociais aplicadas (50,2%) e que tiveram alguma reprovação no último semestre avaliado (58,2%).
Com relação ao uso de álcool, utilizou-se escores menores que 8 para aqueles com baixo risco e valores iguais ou superiores à 8 para risco elevado, desta forma percebeu-se que 164 (62,8%) estudantes universitários fazem consumo arriscado de álcool. Para verificação de possíveis correlações, foi aplicado o teste de Qui-quadrado de Pearson (X²), conforme apresentado a seguir na Tabela 1.
Tabela I - Análise bivariada entre uso de álcool e variáveis socioeconômicas e acadêmicas em estudantes universitários. Brasil, 2023. (n= 261)
Variáveis | Uso arriscado de álcool | ||
Sim | Não | p | |
Sexo biológico | 0,320 | ||
Feminino | 132 (50,6%) | 73 (28,0%) | |
Masculino | 32 (12,3%) | 24 (9,2%) | |
Orientação sexual | 0,665 | ||
Heterossexual | 137 (52,5%) | 79 (30,3%) | |
Outros | 27 (10,3%) | 18 (6,9%) | |
Cor de pele | 0,271 | ||
Branco | 60 (23,0%) | 29 (11,1%) | |
Não branco | 104 (39,8%) | 68 (26,1%) | |
Relacionamento conjugal | 0,026 | ||
Com parceiro | 45 (17,2%) | 15 (5,7%) | |
Sem parceiro | 119 (45,6%) | 82 (31,4%) | |
Curso | 0,044 | ||
Área da saúde | 124 (47,5%) | 62 (23,8%) | |
Outras áreas | 40 (15,3%) | 35 (13,4%) | |
Período que está cursando | 0,049 | ||
Anos iniciais | 90 (34,5%) | 41 (15,7%) | |
Anos finais | 74 (28,4%) | 56 (21,5%) | |
Curso desejado | 0,051 | ||
Sim | 138 (52,9%) | 72 (27,6%) | |
Não | 26 (10,0%) | 25 (9,6%) |
Percebe-se assim que houve correlação significativa entre o uso de álcool e estudantes que não possuíam parceiros (p=0,026), estavam em cursos da área da saúde (p=0,044) e cursando os anos iniciais (p=0,049).
Quanto a avaliação do apoio social em suas diferentes dimensões, foi estabelecido como ponto de corte <6 pontos para o fator material, <12 pontos para o fator emocional/informacional, <6 para o fator interação e <4 para o fator afetivo.8 Percebeu-se que 49% (128) apresentaram baixo apoio material, 28% (73) baixo apoio emocional/informacional, 18% (47) baixo apoio afetivo e 18,8% (49) baixa interação, sendo assim a maior parte da amostra em ambas facetas se demonstraram com apoio suficiente e adequado, fato este justiçável em parte devido a população possuir religião e morarem acompanhadas, sendo dois fatores protetivos para a autopercepção de baixo apoio social. Na Tabela 2, verificou-se a correlação entre os escores do apoio social e o uso de álcool entre os universitários participantes, sendo possível inferir que nenhuma faceta demonstrou correlação significativa com o uso de álcool.
Tabela II - Análise bivariada entre uso de álcool e as dimensões do apoio social em estudantes universitários. Brasil, 2023. (n= 261)
Dimensões do Apoio Social | Uso arriscado de álcool | ||
Sim | Não | p | |
Apoio Material | 0,380 | ||
Baixo apoio | 77 (29,5%) | 51 (19,5%) | |
Apoio adequado | 87 (33,3%) | 46 (17,6%) | |
Apoio emocional/informacional | 0,747 | ||
Baixo apoio | 47 (18,0%) | 26 (10,0%) | |
Apoio adequado | 117 (44,8%) | 71 (27,2%) | |
Apoio de interação | 0,468 | ||
Baixo apoio | 33 (12,6%) | 16 (6,1%) | |
Apoio adequado | 131 (39,8%) | 81 (31,0%) | |
Apoio afetivo | 0,530 | ||
Baixo apoio | 28 (10,7%) | 20 (7,7%) | |
Apoio adequado | 136 (52,1%) | 77 (29,5%) |
DISCUSSÃO
Este estudo investigou o padrão de consumo alcoólico e sua relação com o apoio social entre estudantes universitários.
A prevalência do consumo de bebidas alcoólicas na amostra estudada foi substancialmente alta, refletindo padrões observados em outras pesquisas sobre o consumo de álcool entre estudantes universitários.9-11 Esses dados evidenciam uma consistência nos índices de consumo de álcool entre universitários em diversas regiões do Brasil, sugerindo a necessidade de estratégias preventivas mais eficazes para lidar com os altos níveis de consumo entre esse público.
Os resultados indicaram uma correlação significativa entre o uso de álcool e variáveis como a ausência de parceiro(a), a matrícula em cursos da área da saúde e estar cursando os primeiros anos da graduação, enquanto nenhuma faceta do apoio social apresentou correlação relevante com o consumo de álcool.
Os dados revelaram uma prevalência mais elevada de consumo alcoólico entre os estudantes matriculados nos anos iniciais, um achado consistente com pesquisas anteriores. Em um estudo realizado com acadêmicos do curso de medicina de uma instituição de ensino superior no norte do Brasil, observaram que 60,5% dos estudantes que consumiam álcool estavam nos primeiros anos do curso, com uma prevalência ainda mais acentuada entre as mulheres (65,2%) em comparação com os homens (55,0%).10
Esse padrão pode estar relacionado a uma série de fatores psicológicos e sociais, como a sensação de liberdade adquirida ao ingressar na universidade, o aumento das interações sociais e a busca por aceitação no novo ambiente. Os estudantes ingressantes nas universidades apresentam maior predisposição ao consumo de álcool devido à sua maior vulnerabilidade, influenciada tanto pelas expectativas relacionadas à transição para a vida universitária quanto pelas pressões sociais exercidas por veteranos e colegas.11 Tais elementos, combinados, podem contribuir para a adoção de comportamentos de risco, incluindo o aumento no consumo de bebidas alcoólicas.
Os resultados do presente estudo evidenciam uma correlação entre o consumo de álcool e o status de solteiro(a) dos estudantes, o que também é apoiado por outros estudos, a exemplo uma investigação entre estudantes de medicina de Minas Gerais, evidenciando a associação entre uso de álcool e o estado civil.12 Em uma outra pesquisa realizada em uma universidade pública do nordeste do Brasil, identificaram uma maior prevalência de consumo alcoólico entre os estudantes solteiros, embora com taxas inferiores às observadas neste estudo.13 A ausência de relacionamentos afetivos pode levar os estudantes a utilizar o álcool como uma estratégia para lidar com tensões emocionais ou sociais, possivelmente devido à falta de vínculos afetivos significativos.14
Outro achado relevante foi a correlação entre o consumo de álcool e a matrícula em cursos da área da saúde. Isso pode estar relacionado às altas exigências desses cursos, que, por sua vez, geram estresse e ansiedade entre os estudantes. Estudos anteriores apontam que os universitários da área da saúde são mais propensos a adotar comportamentos de abuso de substâncias, incluindo o consumo excessivo de álcool, fenômeno frequentemente associado ao binge drinking (consumo excessivo de álcool em um curto período).4,15-16
O abuso de álcool entre universitários pode ser atribuído tanto a fatores externos quanto internos. O álcool tem sido cada vez mais utilizado como uma estratégia para superar a timidez, aliviar tensões e facilitar a interação social, o que o torna um elemento importante no processo de socialização entre os jovens.17
Em uma investigação realizada no sudeste brasileiro, alguns participantes relataram que recorreram ao uso de substâncias psicoativas como uma estratégia para lidar com as adversidades vivenciadas no ambiente universitário como discriminação, falta de pertencimento, reconhecimento e representatividade também foi apontada como um fator relevante, contribuindo para a utilização dessas substâncias como um mecanismo de alívio emocional frente a essas dificuldades.18,19 Contudo, a adoção desse comportamento como uma forma de enfrentamento pode ter consequências a longo prazo para a saúde física e mental dos estudantes.
Finalmente, no que se refere à relação entre consumo de álcool e apoio social, não foi identificada correlação significativa. Este resultado corrobora os achados em estudo similar, onde também não encontraram evidências de correlação entre o consumo de álcool e as dimensões do apoio social. Os autores sugerem que o elevado nível de apoio social entre os participantes da pesquisa pode ter influenciado a ausência de correlação, e discutem a possibilidade de que o abuso de álcool esteja mais associado à esfera afetiva do apoio social do que às suas outras facetas.1,20-22
CONCLUSÃO
Percebeu-se uma alarmante prevalência de consumo arriscado de álcool entre estudantes universitários. Este estudo identificou fatores associados a esse comportamento, como a matrícula em cursos da área da saúde, os anos iniciais de graduação e a ausência de companheiro(a). A análise revelou também que, embora o consumo de álcool seja elevado em grupos específicos, os níveis de apoio social entre os participantes foram consideravelmente altos, o que pode explicar a ausência de correlação entre o apoio social e o consumo de álcool nesta pesquisa. Este achado sugere que, em contextos onde o apoio social é robusto, o comportamento de consumo pode ser influenciado por outros fatores psicossociais ou contextuais, como as exigências acadêmicas e o ambiente social universitário.
Com base nesses resultados, é fundamental destacar a importância de intervenções que promovam a socialização saudável e o bem-estar emocional dos estudantes, especialmente aqueles nos anos iniciais e em cursos que demandam alta carga de estresse, como os da área da saúde. A implementação de centros de convivência e programas de integração social poderia ser uma estratégia eficaz para reduzir o consumo excessivo de álcool, ao promover espaços seguros para interação e suporte entre os acadêmicos. Além disso, políticas de apoio social mais direcionadas, com foco no acolhimento e acompanhamento psicológico, podem ser essenciais para ajudar estudantes a enfrentar os desafios do ingresso na vida acadêmica e prevenir comportamentos de risco relacionados ao abuso de substâncias.
Este estudo, ao fornecer uma visão detalhada dos fatores associados ao consumo de álcool entre universitários, abre novas perspectivas para a investigação de comportamentos de risco no ambiente universitário. Sugere-se que futuras pesquisas explorem a relação entre o consumo de álcool e outras variáveis, como o estresse acadêmico, a percepção de suporte social e os padrões de socialização entre os estudantes. Além disso, investigações longitudinais poderiam contribuir para uma compreensão mais profunda de como esses fatores se desenvolvem ao longo da trajetória acadêmica, permitindo a criação de estratégias preventivas mais eficazes e personalizadas.
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