SAÚDE MENTAL APÓS A VIVÊNCIA DE UM CICLONE EXTRATROPICAL:
ESTUDO DESCRITIVO NO MUNICÍPIO DE CARAÁ - RS
MENTAL HEALTH AFTER EXPERIENCING AN EXTRATROPICAL CYCLONE:
DESCRIPTIVE STUDY IN THE MUNICIPALITY OF CARAÁ - RS
SALUD MENTAL DESPUÉS DE SUFRIR UN CICLÓN EXTRATROPICAL:
ESTUDIO DESCRIPTIVO EN EL MUNICIPIO DE CARAÁ - RS
Autores:
Stephanie Soares Cardoso
Psicóloga pela Universidade La Salle - Canoas/RS, sendo o presente estudo oriundo do seu Trabalho de Conclusão de Curso.
ORCID: https://orcid.org/0009-0005-0060-807X
Isadora Casal Dalla Lasta
Psicóloga pela Universidade La Salle - Canoas/RS. Bolsista voluntária de iniciação científica.
ORCID: https://orcid.org/0009-0008-6189-9693
Rayana Rolante Tedesco
Psicóloga, Mestranda em Saúde e Desenvolvimento Humano pela Universidade La Salle, Canoas, RS
ORCID: https://orcid.org/0009-0007-7895-2465
Luan Paris Feijó
Psicólogo. Doutor em Psicologia. Coordenador Adjunto e professor do curso de Psicologia da Universidade La Salle, Canoas, RS.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7587-3987
Camila Bolzan de Campos:
Psicóloga. Doutora em Psicologia. Coordenadora e professora do curso de Psicologia da Universidade La Salle, Canoas, RS. Professora Colaboradora do PPG Saúde e Desenvolvimento Humano da Universidade La Salle e orientadora do presente estudo.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4041-1694
RESUMO
Desastres ambientais vem acontecendo com maior frequência nos últimos anos e esses eventos possuem o potencial de provocar grandes impactos sejam eles materiais ou emocionais, tanto na cidade atingida quanto nos indivíduos que nela residem. Com isso, o objetivo deste trabalho é compreender os possíveis impactos emocionais em pessoas atingidas pelo ciclone extratropical no município de Caraá, Rio Grande do Sul, da mesma forma, entender os sentimentos e emoções de pessoas afetadas e analisar a importância do apoio comunitário na reconstrução pós-desastre. Para isso, utilizou-se de um desenho qualitativo, descritivo. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram de Grupo de comunicação virtual; Grupo focal; Entrevistas não estruturadas, Observação naturalística e registros fotográficos do ambiente. A pesquisa contou com o total de 10 participantes residentes do município de estudo, que tiveram suas casas e/ou comércios atingidos pelo ciclone em junho de 2023, sendo 6 mulheres e 4 homens, entre 18 a 70 anos, dentre os 10 participantes, 5 dessas pessoas referem-se às entrevistas individuais não estruturadas e 5 destes ao Grupo focal. A análise foi realizada utilizando análise de conteúdo de Bardin. Os resultados demonstram que os impactos emocionais despotencializadores foram mais expressivos nos participantes, demonstrando a vulnerabilidade dos mesmos mesmo um ano e meio após o desastre. Por outra parte, verificou-se a resiliência comunitária e apoio mútuo como sendo um fator importante para a reconstrução da vida desses após o desastre.
PALAVRAS-CHAVE: Desastre ambiental; Ansiedade climática; Resiliência; Psicologia dos desastres e emergências.
ABSTRACT
Environmental disasters have been occurring more frequently in recent years and these events have the potential to cause major impacts, whether material or emotional, both on the affected city and on the individuals who live there. Therefore, the objective of this work is to understand the possible emotional impacts on people affected by the extratropical cyclone in the municipality of Caraá, Rio Grande do Sul, in the same way, to understand the feelings and emotions of affected people and to analyze the importance of community support in reconstruction post-disaster. For this, a qualitative, descriptive design was used. The instruments used for data collection were virtual communication group; Focus group; Unstructured interviews, naturalistic observation and photographic records of the environment. The research included a total of 10 participants living in the study municipality, who had their homes and/or businesses hit by the cyclone in June 2023, 6 women and 4 men, between 18 and 70 years old, among the 10 participants, 5 of these people refer to individual unstructured interviews and 5 of these to the focus group. The analysis was carried out using Bardin's content analysis. The results demonstrate that the disempowering emotional impacts were more significant in the participants, demonstrating their vulnerability even a year and a half after the disaster. On the other hand, community resilience and mutual support were found to be an important factor in rebuilding their lives after the disaster.
KEYWORDS: Environmental disaster; Climate anxiety; Resilience; Psychology of disasters and emergencies.
RESUMEN
Los desastres ambientales han estado ocurriendo con mayor frecuencia en los últimos años y estos eventos tienen el potencial de causar importantes impactos, ya sean materiales o emocionales, tanto en la ciudad afectada como en las personas que viven allí. Por lo tanto, el objetivo de este trabajo es comprender los posibles impactos emocionales en las personas afectadas por el ciclón extratropical en el municipio de Caraá, Rio Grande do Sul, de la misma manera, comprender los sentimientos y emociones de las personas afectadas y analizar las importancia del apoyo comunitario en la reconstrucción post-desastre. Para ello se utilizó un diseño descriptivo cualitativo. Los instrumentos utilizados para la recolección de datos fueron grupo de comunicación virtual; Grupo focal; Entrevistas no estructuradas, observación naturalista y registros fotográficos del entorno. La investigación contó con un total de 10 participantes residentes en el municipio de estudio, quienes vieron sus viviendas y/o negocios afectados por el ciclón en junio de 2023, 6 mujeres y 4 hombres, entre 18 y 70 años, entre los 10 participantes, 5 de estas personas refieren a entrevistas individuales no estructuradas y 5 de ellas al grupo focal. El análisis se realizó mediante el análisis de contenido de Bardin. Los resultados demuestran que los impactos emocionales desempoderantes fueron más significativos en los participantes, demostrando su vulnerabilidad incluso un año y medio después del desastre. Por otro lado, se descubrió que la resiliencia comunitaria y el apoyo mutuo eran un factor importante para reconstruir sus vidas después del desastre.
PALABRAS CLAVE: Desastre ambiental; Ansiedad climática; Resiliencia; Psicología de los desastres y emergencias.
Recebido: 04/02/2025 Aprovado: 20/02/2025
Tipo de artigo: Artigo Original
INTRODUÇÃO
O município Caraá foi parte da cidade de Santo António, tendo sido emancipado em 28 de dezembro de 1995, através da Lei Estadual nº 10.641. Possui uma extensão de 292,5km² de área e fica situada na Região Litoral Norte do Estado do Rio Grande do Sul, entre a serra, a metrópole e o mar; estando entre os municípios de Maquiné, Santo Antônio da Patrulha, Osório e Riozinho. O município apresenta um relevo acidentado, possui vales e é banhado pelo Rio dos Sinos e Rio Caraá, toda área do Município está inclusa na Bacia do Rio Jacuí, sendo que neste território está localizada a nascente do Rio dos Sinos (1).
Entre os dias 15 e 16 de junho de 2023, segundo a Defesa Civil do Rio Grande do Sul (2), 14 municípios decretaram situação de emergência devido ao ciclone extratropical e ao grande volume de chuva que atingiu parte do Estado. Entre essas cidades, está Caraá, que de acordo com o site de notícias G1 (3), ocorreu o óbito de 5 pessoas, sendo então o município com o maior número de mortes registradas naquele momento. Conforme o Decreto nº 57.069, de 21 de junho de 2023 (4), de acordo com o Art 1º deste decreto, foi homologado a situação de emergência no município de Caraá no Rio Grande do Sul. Logo após, em 11 de julho de 2023, Caraá reportou à Defesa Civil (5) uma nova ocorrência de vendaval, chuvas intensas, e outras ocorrências na cidade.
O Ministério da Integração Nacional com a Instrução Normativa nº 2, de 20 de dezembro de 2016 “Estabelece procedimentos e critérios para a decretação de situação de emergência ou estado de calamidade pública…”, esta divide as situações em níveis. Sendo o nível I de pequena intensidade, onde há somente danos humanos superáveis e a situação pode ser facilmente estabelecida. O nível II de média intensidade, decorre de situações que são superáveis com o apoio de recursos Estaduais e Municipais. No nível III de grande intensidade, há a ocorrência de óbitos, isolamentos das comunidades, interrupção de serviços essenciais, interdição ou destruição de unidades habitacionais, entre outras situações e se torna necessário o apoio das três esferas de atuação do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (6). Nesse estudo, os dados informados referem-se a situações de emergência nível III na cidade de Caraá.
Desastres climáticos impactam a saúde dos indivíduos em diferentes níveis de prejuízo e severidade. Em termos técnicos, eles são definidos como avalanches, epidemias, inundações, desabamentos e incêndios, sejam eles causados ou não pelo ato do ser humano, e esses, têm ocorrido com maior frequência nos últimos tempos em todo o mundo, causando um grande impacto na população, seja ela afetada diretamente ou indiretamente (7). A Defesa Civil do Rio Grande do Sul refere que nos últimos anos esses eventos se intensificaram no Estado, devido ao aquecimento global. Os efeitos do ENOS (El Niño e La Niña), que referem-se a Temperatura da Superfície do Mar (TSM), influenciam diretamente as condições climáticas do Estado. (8)
Existem algumas características que devem ser observadas para compreender o desastre, nesse sentido, é preciso observar as questões sócio-político-culturais de vulnerabilidade, exposições pessoais e dos bens, capacidade de gestão integral de riscos, percepções de risco e meio ambiente. Segundo o Conselho Federal de Psicologia eventos como esses podem acarretar diversas manifestações nas pessoas envolvidas, pois alteram a geografia no qual estão inseridos, dificultando ações do cotidiano, e provocando desorganização social. Da mesma forma, diversas emoções e sensações estarão implicados nesse momento, como cita o CFP: “medo, horror, sensação de impotência, confrontação com a destruição, com o caos, com a própria morte e/ou de outrem, bem como perturbação aguda em crenças, valores e significados”. (9)
O impacto emocional nas pessoas afetadas pelo desastre pode estar presente de forma imediata, crônica ou duradoura. Essas respostas emocionais, podem acarretar em psicopatologias como o stress agudo e o stress pós-traumático gerando uma situação de mal-estar, advinda dessas situações estressoras. Neste sentido, se evidencia a importância da atuação do profissional de psicologia com as intervenções em crise e/ou primeiros socorros psicológicos, que visam minimizar o sofrimento psíquico e promover a recuperação emocional (10).
Os riscos de desastres ambientais podem se ampliar através da negligência desses eventos, quando não se dá a devida importância sobre essas ocorrências. Torna-se papel das Políticas Públicas e Privadas estarem envolvidas nesses cenários, não somente no pós-desastre, mas principalmente, na prevenção e planejamento de situações de crise, visto que é possível evitar maiores danos materiais e imateriais, protegendo as pessoas e cidades e desenvolvendo maior resiliência (9).
O objetivo deste estudo foi descrever os possíveis impactos emocionais de desastres climáticos em pessoas atingidas pelo mesmo. Da mesma forma, buscou-se compreender os sentimentos e emoções de um grupo de pessoas afetadas pelo desastre e analisar a importância do apoio comunitário na reconstrução pós-desastre.
MÉTODO
Delineamento
Para investigar os impactos emocionais em uma comunidade afetada por um desastre climático, optou-se pela realização de um estudo com delineamento qualitativo, exploratório, com abordagem de coleta de dados multimétodos e triangulação de dados. A estratégia multimétodo contribuiu de forma analítica neste tipo de cenário pois oferta diversos meios de coleta e a análise de dados são integrados em uma concepção ampla e abrangente do estudo (11). Neste sentido, optou-se pela aproximação do fenômeno através de métodos diversos grupos de comunicação virtual, observação naturalística e registros fotográficos do ambiente, entrevistas individuais e grupo focal.
Por meio dos grupos de comunicação virtual, utilizou-se da abordagem da netnografia, que consiste em um método de pesquisa qualitativa que adapta técnicas etnográficas para o estudo de interações e comportamentos em ambientes virtuais. Esse método inclui a observação, a análise de conteúdos e, em alguns casos, a interação do pesquisador com os membros da comunidade para compreender suas experiências e dinâmicas sociais. Na perspectiva da observação naturalística e registros fotográficos do ambiente foram realizadas uma proposta qualitativa exploratória.
Participantes
Os participantes são descritos conforme procedimentos multimétodos. O processo de seleção dos participantes centrou-se em pessoas residentes do município afetado pelo ciclone de 2023, que manifestaram interesse voluntário em participar da pesquisa. Com isso, foram analisadas as interações de 10 pessoas com idades entre 18 e 70 anos, sendo 6 mulheres e 4 homens. Dentre os 10 participantes, 5 pessoas participaram das entrevistas individuais não estruturadas e 5 participaram do Grupo focal no qual aceitaram o convite realizado através do Grupo de WhatsApp administrado pela Prefeitura Municipal. Os participantes foram selecionados por conveniência. Entende-se que neste tipo de pesquisa, participam aqueles que possuem interesse e estão disponíveis, com base no convite realizado pelos pesquisadores.
Instrumentos
Grupo de comunicação virtual (rede social Whatsapp):
Com objetivo de aproximação e introdução do estudo na comunidade impactada pelo ciclone, a partir da mediação da Prefeitura, os membros da equipe de pesquisadores foram inseridos num grupo de Whatsapp que tratava do tema. Este ingresso tratou de transmitir orientações gerais e éticas, mas também, contribuiu para a formação de vínculo com os envolvidos. Torna-se possível analisar os dados provenientes de redes sociais como whatsapp a partir dos atores sociais e das suas relações sociais. O acesso ao grupo também respondeu a uma demanda de observação e registro sobre padrões de comportamento entre os participantes e trocas entre os mesmos considerando o tema dos impactos do ciclone no cotidiano destes moradores neste espaço virtual (12).
Observação naturalística com registros fotográficos do ambiente:
Durante o processo de coleta de dados, foram realizados registros fotográficos de ambientes e espaços onde foi possível identificar impactos do ciclone, sendo este transversal a toda a coleta. Estes registros, por sua vez, tiveram conexões e relações com a compreensão do fenômeno. A proposta de observar e registrar as características do entorno assim como os possíveis impactos do ciclone no território, está de acordo com os objetivos do estudo. As técnicas de observação naturalística devem ser empregadas in loco, sobretudo quando se necessita informações preliminares sobre a situação real (11).
Entrevistas não estruturadas:
A partir da base teórica ou conhecimento prévio da situação, a equipe de pesquisa direcionou perguntas e temas relacionados aos objetivos da sua pesquisa, podendo encaminhar a entrevista para questões que não estavam programadas de acordo com as reflexões do participante, mas sem sair do tema e estrutura proposto (13). Neste tipo de entrevista, faz-se uma lista de tópicos a investigar e registram-se as informações a serem codificadas num sistema de categorias (11).
Nesta etapa da pesquisa foram abordados temas relacionando percepções e emoções relacionando o passado, presente e futuro referente ao evento climático, tendo como pergunta central “Como você está depois de um ano e meio após o ciclone?” diretamente no território. Esta modalidade de entrevista, segundo (11) abrange os aspectos físicos, o funcionamento e os atributos sociais nos quais as pessoas trabalham, moram, o que está de acordo com a proposta de investigação (11).
A entrevista não estruturada pode ser utilizada como uma técnica de coleta de dados única ou em conjunto com outros. Com ela, é possível identificar a subjetividade e os comportamentos de cada sujeito entrevistado, podendo assim, alcançar pensamentos, sentimentos e percepções associados ao fenômeno. Esta deve ser composta de perguntas pré-determinadas e deixando em aberto questões que venham a surgir durante o diálogo entre participante e pesquisador (14).
Grupo Focal:
Os grupos focais têm proporcionado ao campo da pesquisa compreensões significativas e se baseia em gerar e analisar a interação entre participantes ao invés de realizar a mesma questão para cada integrante do grupo de maneira individual. O objetivo do grupo focal é que os participantes interajam entre si, com um tema em comum, para que assim possa haver a discussão e colaboração entre os integrantes juntamente com a mediação do pesquisador (15). Destaca-se ainda que é importante evitar que a discussão seja monopolizada por um dos membros, inibindo e influenciando aos demais (11).
Com base na realização do Grupo Focal, com os participantes previamente selecionados com alguma característica em comum para a pesquisa, executa-se uma profunda análise teórico-crítica das informações coletadas. Para isso é necessário uma observação atenta do pesquisador para com as interações e ocorrências entre os integrantes do grupo. O pesquisador irá mediar e estimular o grupo, mas sem propor ideias ou realizar interferências significativas (16).
Seguindo a mesma linha, no grupo focal, foram abordados temas relacionando percepções e emoções relacionando o passado, presente e futuro referente ao evento climático de forma coletiva, propondo as temáticas à medida em que a discussão foi ocorrendo.
Procedimentos de coleta de dados
A coleta de dados ocorreu em três etapas. A primeira etapa consistiu na observação naturalística e registro fotográfico de espaços do território onde foi possível identificar impactos do ciclone na população. Esta etapa ocorreu de forma contínua complementando as demais etapas.
A segunda e a terceira etapa da coleta ocorreram em parceria com a Prefeitura Municipal de Caraá. Esta disponibilizou a lista de cidadãos atingidos pelo evento climático e que permaneceram sem retorno para suas residências. Neste sentido, a equipe de pesquisa foi inserida em um grupo de WhatsApp intitulado “Reconstrução das Casas” administrado pela Prefeitura, configurando a primeira etapa.
O ingresso no grupo ocorreu no dia 01 de novembro de 2024 e a partir disso iniciou o processo de netnografia no mesmo. Foram apresentados os objetivos da pesquisa aos participantes do grupo mediante um vídeo de apresentação. Além disso, convidou-se aos membros para participar do grupo focal de forma voluntária que ocorreria em um segundo momento. A observação e registros das interações ocorridas neste grupo foram centradas no tema impacto emocional do ciclone nestes participantes.
A segunda etapa, o grupo focal, ocorreu no dia 14 de novembro de 2024, no espaço disponibilizado pela prefeitura, na Escola Estadual de Ensino Médio Marçal Ramos. Este teve duração de 2 horas e os temas trabalhados centraram-se na discussão sobre o impacto do ciclone nos cidadãos, considerando a linha do tempo do desastre e perspectivas futuras após o desastre.
A quarta etapa, entrevista não estruturada, foi realizada diretamente no território, junto a espaços comerciais localizados na margem do Rio do Sinos, região que foi fortemente impactada pelo ciclone. Os proprietários dos estabelecimentos e colaboradores dos mesmos espaços foram contatados presencialmente in loco. Neste contato, foi apresentada a pesquisa e os mesmo foram convidados a participar da entrevista, de forma voluntária. Ainda nesta etapa, ao identificar pontos do território onde haviam impactos do ciclone, os registros fotográficos foram realizados e validados junto aos participantes para contrastar seu conteúdo simbólico, enfatizando a complementaridade da etapa inicial final.
Procedimentos de análise de dados
Após a coleta de dados, foi realizada a análise de Análise de Conteúdo (17). Essa estratégia de análise foi definida por Sampaio e Lycarião (18) como uma técnica de pesquisa científica baseada em procedimentos sistemáticos, intersubjetivamente validados e públicos para criar inferências válidas sobre determinados conteúdos verbais, visuais ou escritos, buscando descrever, quantificar ou interpretar certo fenômeno em termos de seus significados, intenções, consequências ou contextos. Os dados brutos foram analisados e transformados em unidades de análise que reuniram sentido relacionados à temática da pesquisa e agrupados em categorias a priori alinhadas com a literatura. Por fim, optou-se pela enumeração da frequência de aparição das categorias a priori nas unidades de análise.
Procedimentos éticos
A pesquisa foi realizada levando em consideração os aspectos éticos necessários, sendo que os dados coletados foram tratados com confidencialidade e anonimato. Assim, a pesquisa seguiu os preceitos da Resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde.
Os participantes foram informados sobre os riscos e benefícios da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Universidade La Salle (CEP) sob o protocolo CAAE 83120724.9.0000.5307.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados e discussão foram apresentados considerando as estratégias de coleta de dados empregadas na pesquisa. Ressalta-se que, embora os procedimentos de coleta de dados do estudo foram subdividido em etapas, entendeu-se que estas ocorreram de forma complementar e continuada traduzindo a complexidade do fenômeno sob diversas fontes em todos os momentos do estudo.
Grupo de comunicação virtual (rede social WhatsApp)
Foi observado que alguns dos participantes ainda se encontravam sensibilizados e alguns deles evidenciando manifestações hostis. Isso ficou demonstrado com a manifestação de uma das participantes do grupo: “O nome desse grupo é RECONSTRUÇÃO DAS CASAS e esse tema é muito importante e já estamos nessa luta há mais de 1 ano. Todos devem concordar que ter suas casas é mais importante que uma pesquisa” (participante 1) .
Estudos abordam as consequências na saúde mental dos sujeitos afetados por desastres climáticos, no qual, podem ocorrer diversas manifestações psicopatológicas, sendo elas agudas, subagudas e de longo prazo. Por esse motivo, mesmo após muito tempo depois do ocorrido, pode-se notar a presença de mudanças comportamentais, aumento do uso de substâncias, depressão, ansiedade e comportamentos agressivos (19).
Além disso, foi possível verificar atravessamentos políticos que envolvem a reconstrução das suas casas, o que acarretou em uma recusa inicial na participação na pesquisa de alguns membros deste grupo. Tanto na prevenção, com no enfrentamento e no pós-desastre, destaca-se que com uma lamentável frequência, o fato de existirem desastres anunciados não tem sido impactante o suficiente para mobilizar aos que têm autoridade para decidir sobre o que é necessário fazer e isso gera revolta nos impactados (20).
Por fim, destaca-se que a observação realizada neste grupo, oportunizou verificar o quão abertos e disponíveis alguns destes moradores estavam a expor suas vulnerabilidades relacionadas ao desastre. Na manifestação de um dos participantes, pode-se contrastar esta abertura ao compartilhamento de emoções: “Penso que assim, fique claro o intuito da pesquisa e o impacto que pode amenizar na vida de outras pessoas daqui pra frente”
A literatura vem demonstrando o quão relevante para o processo de recuperação após um desastre é a oportunidade de compartilhar com outras pessoas que tiveram a mesma experiência. Franco (20) chama a atenção para a necessidade de reaprender o mundo, após uma perda, a partir da experiência de haver se vinculado. Vincular-se pode ser a uma pessoa, a um lugar, a uma família, a uma abstração que construa nossa identidade.
Grupo focal e Entrevistas não estruturadas
Os resultados provenientes do grupo focal e das entrevistas foram analisados a partir da análise de conteúdo de Bardin (17), considerando categorias a priori que guardavam entre si temáticas prevalentes, incluindo as unidades de análise (trechos de frases) nas categorias a partir da epistemologia indutiva. Após a transcrição pormenorizada das manifestações dos participantes, estas foram examinadas, interpretadas e alocadas em uma das quatro categorias: “Desastre Climático”; “Resiliência”; “Emoções” e “Ansiedade Climática”. A distribuição da frequência de aparição das categorias das unidades de análise estão descritas na Tabela 1.
Tabela 1
Frequência de aparição das categorias nas unidades de análise
Unidade de Análise | Desastre Climático | Emoções | Resiliência | Ansiedade Climática |
Grupo Focal | 15 | 15 | 7 | 0 |
Entrevista | 32 | 24 | 10 | 14 |
Total | 47 | 39 | 17 | 14 |
A categoria “Desastre climático” contemplou conteúdos relacionados a descrições e narrações do episódio climático ocorrido na cidade de Caraá em junho de 2023 e suas consequências, perdas materiais e afetivas. Desastres são eventos que causam um grande impacto na vida dos sujeitos devido ao elevado nível de perigo e risco à integridade física e emocional. Esses desastres geram sofrimento, pois suas consequências podem ser diversas, sejam elas materiais ou afetivas. Com o aumento da tecnologia, as divulgações desses desastres nas mídias têm ocorrido com maior frequência, contudo, o alvo das notícias se dão para as questões físicas dos desastres, como aspectos geográficos e climáticos, deixando de lado os aspectos psicológicos (21).
A frequência de aparições quanto ao Desastre Climático centraram-se em dois tópicos: consequências do evento (n=39) e a forma como o evento ocorreu, denominada como descrição propriamente dita (n=8), sobre o evento. Quanto às manifestações relativas às Consequências, pode-se identificar manifestações sobretudo sobre perdas afetivas ou materiais como pode ilustrar com os trechos a seguir:
“A loja aqui, sim, foi muito atingida, que nem o mercado ali (...) Engraçado, que nós temos seguro, e o seguro não cobriu um real”.
Participante 2
Conforme Silva, Martins e Cardoso (21) a partir da análise das consequências, pode-se criar estratégias de enfrentamento para cada sujeito, pois cada um, enfrentará de maneira singular as consequências, e elas podem ser diversas, como sofrimento psicológico, físicos, doenças contraídas após o desastre, perda de vínculos afetivos e materiais, entre outros. Por outra parte, ainda no tópico de consequências, pode-se identificar o impacto que a memória tem sobre o evento na manifestação da Participante 3:
“Já faz mais de ano, né, mas parece que é tão recente porque desde o dia que aconteceu, todos os dias a gente fala nisso, sabe? Que realmente foi uma coisa que marcou todo mundo, né?”
Para o tópico de descrição propriamente dita, considerando a experiência traumática de ser, ao mesmo tempo, enlutado e sobrevivente, como é o caso dos participantes do estudo, para Franco (20), estes viveram uma forte experiência de transição psicossocial, a partir da quebra de seu mundo presumido e pela forçosa necessidade de responder às demandas do cotidiano, viveram perdas simbólicas. Ao citar evento, podemos citar a manifestação do Participante 1:
“No que eu cheguei aqui, já estava começando a entrar aguá aqui pra dentro também. Foi muito rápido. Daí nós conseguimos levantar algumas coisas e... Dez e meia, quinze para as onze nós estávamos com água aqui, na cintura. Foi muito rápido.”,
A categoria de “Emoções” reuniu conteúdos vinculados a sentimentos, sensações e afetos relacionados ao evento climático, sendo Potencializadores: afetos positivos, construtivos (n=3) ou Despotencializadores: afetos negativos, destrutivos (n=36). Nesta categoria faz sentido a subdivisão em duas subcategorias pois identificou-se polaridade entre as emoções. As informações analisadas vão ao encontro ao que se define na estima de lugar, tratando das emoções relacionadas ao espaço como Potencializadoras e Despotencializadoras (22). A emoção potencializadora junto ao lugar verificam-se sentimentos como: alegria, pertencimento, satisfação, prazer, acolhimento, etc. Sendo estas emoções que são positivas para o sujeito, trazem uma sensação de bem-estar e felicidade. Por outro lado, as emoções despotencializadoras, geram padecimento ao sujeito, trazendo sensações de tristeza, medo, raiva, insegurança, desesperança, entre outros. Na grupo de participantes do estudo, pode-se verificar a proeminência de emoções despotencializadoras em detrimento das emoções potencializadoras, o que reforça a tese de que um desastre climático gera uma série de instabilidades emocionais que de certa forma perduram e acarretam no processo de recuperação.
Como ilustração de Emoções potencializadoras, pode-se verificar na contribuição da Participante 3 a importância do apoio comunitário para a reconstrução física e emocional do municípios e sujeitos:
“Muitas pessoas, às vezes, que não estavam limpando, perguntavam, ah, vocês precisam de alguma coisa? Preciso de ajuda para limpar? Então, eu acho que isso, com certeza, a gente se sentiu amparado”.
Verifica-se estima positiva, no qual coloca o sujeito em conexão com a cidade, e traz sensações de bem-estar, amor e admiração (22). O que foi possível compreender através da Participante 4:
“Gosto desse lugar porque eu sinto paz aqui”
Quanto às emoções despotencializadoras, foi possível verificar emoções negativas de medo, tristeza, insegurança e desesperança, como traz o Participante 5:
“Mas eu tenho muita tristeza, assim, de ver que a gente é ninguém, sabe?”.
A categoria “Resiliência” considerou manifestações tanto da resiliência Individual (n=7) e Comunitária (n= 9) em relação ao fenômeno climático. Em situações de alto teor de estresse, como são os desastres ambientais, a resiliência pode ser fundamental, pois permite que indivíduos e comunidades, através de processos sociais e psíquicos, se adaptem e enfrentem de forma saudável acontecimentos como esses, reduzindo o risco de grandes impactos psicológicos (23)
Quanto a Resiliência Individual encontrou-se manifestações como a do Participante 6: “Que nós somos capazes de muita coisa”. Esse constructo de resiliência pode ser desenvolvido ao longo da vida do indivíduo a medida em que ele passa por desafios e dificuldades, fazendo com que suas habilidades de enfrentamento dessas adversidades sejam estimuladas. Com isso, pode-se encontrar pessoas com um maior nível de resiliência do que outras, e pessoas que possuem mais resiliência em determinadas situações, ou seja, ela é algo situacional e dinâmico, e fatores individuais, interpessoais e externos são importantes para a diminuição das consequências dos eventos adversos (24).
Em relação a Resiliência Comunitária, entende-se como uma visão ecossistêmica que enxerga o sujeito dentro de uma rede entre indivíduo, família e meio ambiente, fazendo com que essas esferas contribuam para que a comunidade humana seja capaz de se adaptar a situações adversas (23). Pode-se identificar nos participantes o papel que a resiliência comunitária desempenhou no apoio mútuo para a reconstrução e continuidade da comunidade e de sujeitos atingidos por situações de grande impacto conforme as seguintes manifestações:.
“Mas a gente teve um apoio também de bastante gente que veio nos ajudar e acho que isso acabou dando esse suporte, esse incentivo para a gente não desistir.”
Participante 7
A resiliência pode ser uma forma de Redução de Riscos de Desastres (RRD), mas para isso a gestão governamental precisa seguir algumas estratégias indicadas , sendo elas: organização e coordenação, atribuição de orçamento, análises de risco, desenvolvimento e melhoria da infraestrutura, segurança de escolas e serviços de saúde, planejamento do uso e ocupação do solo, programas de educação e treinamento, proteção de ecossistemas e implantação de sistemas de alerta. Seguindo esses passos, a gestão estará aumentando a resiliência e diminuindo os riscos a sua comunidade (25).
Na categoria “Ansiedade Climática” (n=14) reuniram-se aportes relacionando sentimentos e emoções característicos da ansiedade, porém sendo estas relacionadas às mudanças climáticas. A Ansiedade Climática pode causar respostas emocionais negativas no sujeito, e isso envolve sentimentos ruins, sensações físicas e preocupação com o futuro, ela está ligada à percepção das mudanças climáticas, podendo afetar pessoas que foram diretamente impactadas pelo evento, e também pessoas que não foram diretamente afetadas, mas que são expostas a reportagens da mídia que trazer o impacto desses eventos (26).
Pode-se identificar contribuições dos participantes referindo preocupações a partir de ciclone, como chuvas ou ventos, e também sentimentos negativos relacionados às mídias com a temática de desastres ambientais e mudanças climáticas. Seguem algumas manifestações relacionadas a esta categoria:
“Que nem deu esses dias, a situação dos ventos, né? Ah, mas vai dar só vento. Mas o vento pode ser tão devastador quanto a enchente.”
Participante 3
Clayton e Karazsia (26) trazem que há uma diferença entre estar preocupado e estar muito preocupado com as mudanças climáticas, sendo que um nível baixo de preocupação considerando as mudanças climáticas do mundo, é algo real, contudo, quando essa preocupação se torna excessiva, pode ser prejudicial para a vida do sujeito.
“Eu tenho bastante trauma, muito medo de chuva, muito medo de vento. Eu adorava o barulho da chuva antes e agora eu não suporto o barulho da chuva. (...) Duas vezes já, eu carreguei o carro. Eu ficava com medo, e daí começavam a falar, vai dar enchente, vai dar enchente. Eu fazia mochila, duas vezes eu fiz. Mochila de comida, mochila de roupa, documento, botei dentro do carro.”
Participante 8
Além disso, pode-se identificar o impacto no relato da Participante 8. Por ser, mãe de um menino de 4 anos, a mesma referiu que mesmo após mais de um ano do evento, há impacto emocional negativo para a criança:
“Ele tem muito medo, ele fala todo santo dia na enchente. Todo santo dia ele toca nesse assunto, do que ele tinha e que ele não tem mais”.
Participante 8
Crianças podem ser mais suscetíveis aos estressores que os eventos climáticos extremos podem causar, podendo levá-las a desenvolver TEPT, depressão, distúrbios do sono, entre outros. A exposição precoce a esses eventos pode acarretar em dificuldades permanentes ou a longo prazo, dificultando o controle das próprias emoções, problemas no comportamento e aprendizagem (27).
Observação naturalística e registros fotográficos do ambiente
A observação dos comportamentos dos sujeitos perante o ambiente é um método importante para a compreensão do fenômeno (11), porém trata-se de uma técnica preliminar que pode fornecer pistas sobre a situação local. Além disso, para os mesmos autores, destaca-se a análise dos vestígios que permite a compreensão e a inferência a respeito das relações existentes entre o espaço e as pessoas. Para complementar esta análise, a equipe de pesquisa empregou o registro fotográfico de espaços onde identificou-se o impacto do ciclone no território. Destas imagens, realizou-se o registro como elemento ilustrativo de diário de campo agregando matizes sobre os resultados brutos.
As zonas onde realizaram-se as observações e os registros são pontos da cidade, especialmente a margem do Rio do Sinos, onde foi fortemente impactado pelo ciclone. Além disso, foi o local onde a mídia massivamente noticiou a ocorrência dos estragos e perdas materiais.
O primeiro local onde se realizou o registro fotográfico foi um pequeno mercado. Ao acessar, solicitou-se autorização ao proprietário da realização das fotos, além de explicitar os objetivos da pesquisa. Nas Figuras 1 e 2, pode-se registrar um mural de fotos localizado ao fundo do mercado. O proprietário relatou que a construção do mural “Não é uma boa memória, mas foi criado para não cair no esquecimento”. Pode-se identificar Resiliência para a reconstrução do seu mercado que seria inaugurado um dia após o ciclone, conforme relatado pelo proprietário. Por outra parte, podemos inferir que a construção de um memorial de fotos como o construído, possa estar relacionado ao processo de luto, destacado por Franco (18), na tentativa de mobilizar as pessoas e de não enclausurar comunidades no passado.
Figura 1
Mercado Com Mural Fotos do Ciclone
Nota: Fonte do autor, 2024.
Figura 2
Mural De Fotos
Nota: Fonte do autor, 2024.
O segundo local visitado foi uma borracharia. Nesta, a equipe, após a apresentação da pesquisa, realizou a escuta do proprietário ao relatar a noite da ocorrência do ciclone. Observou-se, conforme a Figura 3, uma revivência do evento: após a descrição, o proprietário, visualmente abalado, mesmo após mais de um ano do ocorrido, as marcas da água na parede seguem presentes. Identifica-se os vestígios descritos por (11) como marcas depositadas no território que evocam emoções despotencializadoras.
Em um segundo momento, o proprietário convidou a equipe a dirigir-se ao fundo da borracharia, até uma janela que tem vista para o rio. Neste momento, o proprietário, participante 9, se emociona e menciona que o ambiente se torna desagradavel a cada chuva que ocorre: “Ah, com o rio ali atrás é terrível. Começa a chover, é terrível”.
Figura 3
Borracharia Com Marcas Da Enchente
Nota: Fonte do autor, 2024.
Ambos registros trazem consigo dados coletados in loco e somente foram considerados por agregarem facetas do fenômeno do impacto emocional dos desastres. A equipe de pesquisa compreendeu que estes ilustram pequenos mas potentes fragmentos da realidade enfrentada por esta comunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo buscou compreender como um desastre climático por ciclone extratropical impactou emocionalmente a comunidade. A partir dos resultados, pode-se entender os impactos negativos figurados na socialização de Emoções despotencializadoras e Ansiedade Climática. Destaca-se o impacto emocional nas pessoas atingidas pelo ciclone mesmo após um ano e meio do ocorrido, quando as memórias sobre o fato todavia evocam emoções, medos e comportamentos que antes do ocorrido não eram habituais. Ao mesmo tempo, foi possível verificar as estratégias de resiliência autogerenciadas por esta comunidade, sendo umas apoio para as outras na tentativa de se recuperar desse Desastre Ambiental.
O número de participantes do Grupo Focal e das Entrevistas foram iguais, contudo o número de aparições dos temas propostos para o presente trabalho no Grupo focal foi menos prevalente. Pode-se inferir que os participantes do grupo estavam intencionalizados na reconstrução das suas casas, sendo este o direcionamento durante o grupo. Esta observação também fez-se presente na análise do Grupo de Comunicação Virtual (WhatsApp). De todas formas, pode-se identificar os impactos emocionais e vulnerabilidades desencadeadas pelo ciclone, o que também contribuiu para estas considerações.
Entre as limitações, destacam-se o acesso aos participantes, onde muitos estavam fragilizados e o acesso a eles se tornou difícil. Ainda, o tempo permanecido no local, dificulta um acompanhamento longitudinal dos participantes para que se possa compreender a extensão das vivências subjetivas.
Por fim, para continuidade do estudo, sugere-se um aprofundamento da memória visual das marcas da enchente, compreendendo seu potencial recuperativo e reivindicatório. Da mesma forma, com vistas a promoção de saúde mental para esta comunidade, faz-se necessário um levantamento quantitativo de indicadores de sintomas prevalentes em pós-desastre como depressão, ansiedade e TEPT para assim direcionar o poder público para ações direcionadas e assertivas.
REFERÊNCIAS
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