ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO PROCESSO DE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS EM MORTE ENCEFÁLICA

THE NURSE'S ROLE IN THE ORGAN DONATION PROCESS IN BRAIN DEATH

EL PAPEL DEL ENFERMERO EN EL PROCESO DE DONACIÓN DE ÓRGANOS EN MUERTE ENCEFÁLICA

Autores:

Ana Júlia Pavan

Enfermeira pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Campus Erechim, RS.

ORCID: https://orcid.org/0009-0006-4502-1413

Paula Dallagnol

Mestre em Ciências Biomédicas pela Universidade Federal da Fronteira Sul, SC

Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Campus de Erechim, RS.

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1445-0059

Rafael Antônio Narzetti

Mestre em Ciências Biomédicas pela Universidade Federal da Fronteira Sul SC. Professor do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Campus de Erechim, RS.

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0264-6186

Deived Junior Levinski

Enfermeiro especialista em Terapia Intensiva Adulto, Pediátrico e Neonatal pela Faculdade de Ciências, Educação, Saúde, Pesquisa e Gestão - Sensupeg. Professor do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Campus de Erechim, RS.

ORCID: https://orcid.org/0009-0002-1107-9562

Angela Maria Brustolin

Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Campus de Erechim, RS.

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2281-8642

Tiago Luan Labres de Freitas

Doutorando em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Ciências da Reabilitação na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. RS.

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1391-8593

Angélica Fátima Grave Kuffel

Enfermeira no Hospital Universidade Dr. Miguel Riet Corrêa Jr. (HU-FURG/Ebserh). Especialista em urgência e emergência pré e intra hospitalar pela Fundação Universidade Regional de Blumenau e  em Captação, doação e Transplantes de Órgãos e tecidos pela Centro Universitário Internacional.

ORCID: https://orcid.org/0009-0004-6892-475X

Silvia Silva de Souza

Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora do  Curso Graduação em Enfermagem na Universidade Federal da Fronteira Sul.

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6111-5632

 

RESUMO

O objetivo deste estudo foi compreender a atuação do enfermeiro no processo de doação de órgãos na condição de morte encefálica, identificando as barreiras no processo de trabalho do enfermeiro. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, utilizou-se a estratégia PICo, com busca nas bases de dados PubMed e BVS, entre 2014 e 2024. Resultados e Discussões: Foram obtidos estudos que enfatizam a resistência na confiança perante as doações e o sistema de transplante, processos, aspectos técnicos e éticos da doação;  Os enfermeiros carecem de mais educação em saúde e conhecimento específico sobre os procedimentos no contexto, sendo esse temática uma das fragilidades da enfermagem. Conclusões: Percebemos que o papel da comunicação e educação em saúde se fazem fundamentais para o enfermeiro. Nota-se o impacto que uma comunicação ativa, esclarecida e empática promove para a mudança desse cenário, fazendo-se necessária a capacitações que agreguem o aperfeiçoamento das condutas.

DESCRITORES: Papel do profissional de enfermagem; Obtenção de tecidos e órgãos; Morte encefálica; Transplante; Enfermagem.

ABSTRACT

The objective of this study was to understand the role of the nurse in the organ donation process in the condition of brain death, identifying the barriers in the nurse's work process. Methodology: This is an integrative literature reviewA, using the PICo strategy, with searches in the PubMed and BVS databases between 2014 and 2024. Results and Discussion: Studies were obtained that emphasize the resistance in trust towards donations and the transplant system, processes, technical and ethical aspects of donation; nurses lack more health education and specific knowledge about procedures in this context, with this theme being one of the weaknesses of nursing. Conclusions: It is evident that the role of communication and health education is essential for nurses. The impact of active, clear, and empathetic communication is noticeable in promoting change in this scenario, highlighting the need for training that enhances conduct improvement.

KEYWORDS: Role of the nursing professional; Tissue and organ procurement; Brain death; Transplantation; Nursing.

RESUMEN

El objetivo de este estudio fue comprender el papel del enfermero en el proceso de donación de órganos en la condición de muerte encefálica, identificando las barreras en el proceso de trabajo del enfermero. Metodología: Se trata de una revisión integrativa de la literatura, utilizando la estrategia PICo, con búsquedas en las bases de datos PubMed y BVS entre 2014 y 2024. Resultados y Discusión: Se obtuvieron estudios que enfatizan la resistencia en la confianza hacia las donaciones y el sistema de trasplante, los procesos, aspectos técnicos y éticos de la donación; los enfermeros carecen de más educación en salud y conocimiento específico sobre los procedimientos en este contexto, siendo este tema una de las debilidades de la enfermería. Conclusiones: Se percibe que el papel de la comunicación y la educación en salud es fundamental para los enfermeros. Se nota el impacto que una comunicación activa, clara y empática tiene para promover el cambio de este escenario, destacando la necesidad de capacitaciones que mejoren las conductas.

DESCRIPTORES: Papel del profesional de enfermería; Obtención de tejidos y órganos; Muerte encefálica; Trasplante; Enfermería.

Recebido: 20/02/2025 Aprovado: 05/03/2025

Tipo de artigo: Revisão Integrativa

INTRODUÇÃO

A morte encefálica (ME) é definida como óbito permanente, irreversível e verídico e configura a parada de todas as funções do cérebro mesmo que haja a funcionalidade hemodinâmica, sendo que o prognóstico é reservado 1. Na atualidade é possível utilizar, de doador vivo, tecidos, córneas, medula óssea, um dos órgãos duplos (ex: rim), parte do fígado e do pulmão. De pessoa com diagnóstico de ME, pulmões, coração, fígado, pâncreas, intestino, rins, córnea, pele, veias, válvulas cardíacas, ossos e tendões2.

Podemos identificar que, ao passar dos anos, ocorre uma consciência progressiva da importância da doação de órgãos, bem como, o impacto que sua finalidade pode representar. No ano de 2021, o Brasil ainda obteve uma baixa adesão à doação de órgãos comparado aos anos seguintes, realizando apenas 23,5 mil transplantes e tendo como procedimento mais efetivo o transplante de rim (4,8 mil)3. No entanto, a recusa dos parentes, mesmo com o diagnóstico de morte encefálica confirmado, foi o principal fator para o baixo índice de doações neste ano, correspondendo a 43% das famílias contatadas2. Em termos de doadores falecidos, o Brasil (18,1) se configura atrás da Argentina (19,6) e do Uruguai (22,86) quando comparadas as regiões da América Latina4.

Os Estados Unidos, com uma população média de 334.8 milhões, lidera o ranking de doações de órgãos e no ano de 2022 foram realizados aproximadamente 50 mil transplantes, sendo 40 mil com órgãos de pessoas falecidas e 6 mil com pessoas vivas5. O Brasil realizou aproximadamente 22 mil transplantes no ano de 2022, sendo que na fila de espera aguardavam 59 mil pessoas3.

O presente estudo busca preencher a lacuna que emerge na atuação do enfermeiro no processo de doação de órgãos em condição de morte encefálica. Nesse sentido, ressalta-se a necessidade de pesquisar sobre as carências existentes nesse processo de enfermagem, a escassez de recursos humanos com conhecimento na área pesquisada, materiais e instrumentos que favoreçam a identificação do possível doador, comunicação dessa condição aos familiares, manutenção da viabilidade dos órgãos para transplante, na realização da entrevista familiar e na liberação do corpo do doador para sepultamento6.

Com isso, os objetivos da revisão foram compreender a atuação do enfermeiro no processo de doação de órgãos na condição de morte encefálica, identificando as barreiras no processo de trabalho do enfermeiro para uma doação de órgãos efetiva; e, elencar as potencialidades que o enfermeiro oferece no processo de doação de órgãos, caracterizando a sua atividade no âmbito profissional.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, descritiva, que busca evidenciar o conhecimento atual sobre uma temática específica, já que é conduzida de modo a identificar, analisar e sintetizar resultados de estudos referidos ao assunto determinado7. Nesse contexto, por se tratar de uma pesquisa qualitativa, a mesma é regida pela identificação de um fenômeno no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisada de forma integral.

A pesquisa qualitativa investiga a realidade social de grupos pré-definidos, observando a complexa realidade de fenômenos, fatos e processos daquele determinado “cenário”8. A finalidade desse instrumento de análise é proporcionar informações fidedignas e concisas sobre o exposto, relatando minuciosamente o que o objeto de estudo propõe9.

Para construção da mesma, foram necessárias algumas estratégias para a escolha do tema e o direcionamento científico da pesquisa, onde a pergunta de pesquisa foi submetida à estratégia PICo para que a busca bibliográfica fosse mais acessível e baseada em evidências da literatura. Dessa forma, o P(população) foi definido como “Papel do enfermeiro”, o I(Intervenção) como “doação de órgãos na morte encefálica” e o Co (Contexto) como “hospital/UTI”. Posteriormente foi feito a busca no site de Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) os termos identificados na PICo, originando como descritores:

Tabela 1 - Estratégia PICo.

PICo

Descritor

Termos Alternativos

P= Papel do enfermeiro

Papel do Profissional de Enfermagem

Escopo de Prática de Enfermagem

Papel da Enfermeira

Papel do Enfermeiro

Papel dos Enfermeiros

Papéis dos Enfermeiros

Perfil de Competências de Enfermeiros

Prática do Âmbito do Enfermeiro

I= Doação de Órgãos na morte encefálica

Obtenção de Tecidos e Órgãos

Morte Encefálica

Doação de Tecido

Doação de Tecidos

Doação de Tecidos e Órgãos

Doação de Órgão

Doação de Órgãos

Doação de Órgãos e Tecidos

Obtenção de Tecidos

Obtenção de Órgãos

Obtenção de Órgãos e Tecidos

Morte Cerebral

Morte Clínica

Morte Cortical

Co= Hospital/UTI

Unidades de Terapia Intensiva

Centro de Terapia Intensiva

Unidade de Terapia Intensiva de Adulto

Unidade de Terapia Intensiva Especializada

UTI

Decorrente a esse processo, a busca foi realizada nas bases de dados da PubMed, Portal Regional da BVS, sendo colocado todos os descritores e termos alternativos na barra de pesquisa avançada, separando os assuntos com a palavra “OR” e incluindo todos os termos com a palavra “AND”, sendo selecionados “Título, resumo, assunto”. O descritor “Unidade de Terapia Intensiva” e os termos alternativos não foram submetidos à pesquisa devido à severa seleção de artigos, que restringia a zero documentos apresentados. Foram utilizados como motivo de exclusão: “Não é artigo”, “Artigo de revisão”, “Artigo repetido”, “Não responde a pergunta da pesquisa”, “Texto incompleto”, “Artigo Pago”; à partir dessa organização foram identificados 35 artigos, por fim foi aplicado o ícone “Texto completo” que redefiniu o total para 12 artigos e “Intervalo de ano de publicação” para “Últimos 10 anos” finalizando com 6 artigos.

Tabela 2 - Estratégia de Busca.

Base de dados e Portais Eletrônicos

Estratégias de Busca

PubMed e Portal Regional da BVS

“Papel do Profissional de Enfermagem” OR “Escopo de Prática de Enfermagem” OR “Papel da Enfermeira” OR “Papel do Enfermeiro” OR “Papel dos Enfermeiros” OR “Papéis dos Enfermeiros” OR “Perfil de Competências de Enfermeiros” OR “Prática do Âmbito do Enfermeiro” AND “Obtenção de Órgãos e Tecidos” OR “Doação de Tecido” OR “Doação de Tecidos” OR “Doação de Tecidos e Órgãos” OR “Doação de Órgão” OR “Doação de Órgãos” OR “Doação de Órgãos e Tecidos” OR “Obtenção de Tecidos” OR “Obtenção de Órgãos”

Fonte: O autor.

RESULTADOS

 Dos artigos selecionados são pesquisas qualitativas (83,3%) majoritariamente. Com exceção de um artigo, possuem de forma unânime a escrita por profissionais de enfermagem. Os estudos foram realizados nos anos: 2014, 2016, 2018, 2019 e 2021. Em relação ao continente o qual os artigos foram publicados, pertencem à América do Sul e à Europa.

Quadro 1. Estudos selecionados para análise de dados.

Ano

Autores

Título

Revista

 

 

 Objetivo

País de realização do estudo  

2014

Grammenos et al., 2014

Einstellung von potenziell am Organspendeprozess beteiligten Ärzten und Pflegekräften in Bayern zu Organspende und Transplantation

DMW - Deutsche Medizinische Wochenschrift

Avaliar a atitude das equipes frente ao transplante.

Alemanha

2016

Marujo Nunes da Fonseca; Tavares, 2016.

Emoções vivenciadas por coordenadores de transplantes nas entrevistas familiares para doação de órgãos

Ciência, Cuidado e Saúde

Conhecer as emoções vivenciadas pelos coordenadores de transplantes na entrevista familiar para doação de órgãos.

Rio de Janeiro, Brasil

2018

Magalhães, et al., 2018

Significados do cuidado de enfermagem ao paciente em morte encefálica potencial doador

Revista Gaúcha de Enfermagem

Compreender os significados do cuidado ao paciente em morte encefálica potencial doador para enfermeiros, e construir um modelo teórico.

Rio Grande do Sul, Brasil

2019

Oliva et al., 2019

Un modello integrato per l’identificazione dei potenziali donatori: un

nuovo approccio nei trapianti di organi e tessuti.

Professioni Infermieristiche

Avaliar a eficácia dos Modelos Integrados de Compras em termos de identificação de potenciais doadores e do número de doações

Roma, Itália

2019

Magalhães, A. L. P. et al., 2019

Gerência do cuidado de enfermagem ao paciente em morte encefálica

Revista de Enfermagem UFPE Online

Compreender a  gerência  do  cuidado  de enfermagem aos     pacientes em     morte encefálica   na   perspectiva   de   enfermeiros atuantes no processo de doação e transplantes de órgãos.

Santa Catarina, Brasil

2021

Fernandes de Oliveira; Honorato; dos Santos Goulart Oliveira, 2021

Revista Nursing

Desvelar as fragilidades e a vivência de enfermeiros na abordagem de família do doador de órgãos e tecidos

São Paulo, Brasil

        Fonte: O autor.

A partir da seleção de estudos que atendessem a metodologia utilizada, foram alcançadas as seguintes considerações:

O estudo intitulado: “Einstellung von potenziell am Organspendeprozess beteiligten Ärzten und Pflegekräften in Bayern zu Organspende und Transplantation” destaca uma queda significativa na confiança pública e profissional perante as doações e o sistema de transplante, motivado principalmente pelos escândalos marcantes daquele ano. Além de mencionar também que aproximadamente um terço dos médicos e enfermeiros ainda sentem insegurança na obtenção de informação que possuem sobre o processo de doação de órgãos e os aspectos técnicos e éticos da doação10.

Outro estudo, “Emoções vivenciadas por coordenadores de transplantes nas entrevistas familiares para doação de órgãos" consiste em uma pesquisa qualitativa realizada com coleta de dados na Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) do Estado do Rio de Janeiro, nos meses de janeiro a maio de 2012. O texto aborda que as emoções sentidas são as básicas: negativas, positivas e neutras, potencializando as negativas como por exemplo: desconforto à doação e contrárias ao diagnóstico de ME, podendo condicionar consequências na desenvoltura técnica do enfermeiro como ocasionar dificuldade na hora de informar a família sobre o óbito do ente e em digerir as reações que os parentes possam vir a ter11.

Considerando a temática, o estudo “Significados do cuidado de enfermagem ao paciente em morte encefálica potencial doador” se trata de uma pesquisa qualitativa com enfermeiros envolvidos em práticas assistenciais da terapia intensiva ou no processo de captação de órgãos e tecidos de um Hospital Universitário do nordeste brasileiro, no período de dezembro de 2010 a junho de 2011. O texto infere que os enfermeiros necessitam identificar e diferenciar os pacientes internados, no âmbito da UTI encontram-se os pacientes críticos, potencialmente recuperáveis ou com prognóstico negativo, como o paciente em ME. A definição de cuidado ao paciente em ME é compreendida pelo enfermeiro como algo delicado, de difícil execução, que exige atenção integral e que necessita de práticas organizativas de cuidado para manter a estabilidade hemodinâmica e manejo das alterações fisiopatológicas do paciente em ME potencial doador12.

O estudo “Integrated Procurement Model: A new approach to Tissue and Organ Procurement: Un modello integrato per l'identificazione dei potenziali donatori: un nuovo approccio nei trapianti di organi e tessuti” 13 evidencia os resultados anteriores e após a implementação do Modelo Integrado de Aquisição (MIP) em um hospital universitário em Roma. Este novo modelo organizacional destaca o enfermeiro como um profissional crucial para a aquisição de órgãos e tecidos, otimizando e padronizando o processo, aumentando o número de doadores e doações reais14.

O artigo “Gerência do cuidado de enfermagem ao paciente em morte encefálica” consiste em uma pesquisa qualitativa com 35 participantes, sendo 25 enfermeiros, divididos em 15 enfermeiros atuantes em Comissões Hospitalares de Transplantes (CHT) de hospitais de Santa Catarina, 6 enfermeiros dos serviços de emergência, 4 de unidades de terapias intensivas, no período de julho de 2014 a outubro de 2015. Dos pesquisados a maioria era do sexo feminino, com idade média de 35 anos e um tempo médio de 11 anos de exercício na profissão de enfermeiro; quanto à maior titulação, 13 deles possuíam o título de especialista, 9 de mestre e outros 3 graduados. Conforme a pesquisa evidenciada no texto, os enfermeiros relatam limitação de infraestrutura, recursos humanos, recursos materiais e alta demanda de atendimento, que propiciam interferências no cuidado de pacientes em ME, sendo de responsabilidade do enfermeiro no âmbito gerencial, organização do trabalho e os instrumentos administrativos necessários para adequado funcionamento e gestão da unidade como, materiais, equipamentos e instalações, além dos instrumentos técnicos da gerência15.

Uma pesquisa qualitativa realizada com 7 enfermeiros de um hospital de médio porte no interior de São Paulo, no período de agosto a setembro de 2019 foi proposta no estudo: “Fragilidades e vivências de enfermeiros na abordagem à família do doador de órgãos e tecidos” . O texto possibilita verificar que o trabalho do enfermeiro com a família é imprescindível uma vez que o apoio oferecido pelos enfermeiros diante da questão emocional dos familiares e o conhecimento específico sobre todo o procedimento a ser empregado no contexto da captação de órgãos, podem animar o familiar a decidir e acolher a doação, sendo esse diálogo uma das fragilidades acometidas pelos profissionais de enfermagem6.

O presente estudo possibilitou evidenciar as vulnerabilidades existentes nas condutas ofertadas ao paciente com diagnóstico de ME, que por vez, afetam diretamente o processo de autorização e doação de órgãos. Diante disso, transplantar órgãos é um processo complexo, integral e multidisciplinar, envolvendo etapas cruciais, como o diagnóstico de ME, a manutenção clínica do doador e o acolhimento familiar, todos necessitando de profissionais devidamente treinados16. Falhas nesses estágios contribuem para o aumento da disparidade entre o número de pacientes em lista de espera e a disponibilidade de órgãos17.

Nesse contexto, a equipe de enfermagem exerce um papel estratégico, não só no manejo fisiológico do paciente, mas também na conduta humanizada prestada aos familiares, desfrutando de abordagens objetivas e claras, com postura ética moral e legal, para a obtenção da decisão da captação e distribuição dos órgãos18. O vínculo estabelecido com os familiares pode ser fundamental para o êxito do processo de doação e transplante.

Quando mencionado as atribuições da equipe de enfermagem no processo de ME e doação de órgãos, inclui o esclarecimento ético, moral e legal de forma sucinta e objetiva, em todas as fases do processo de captação e distribuição dos órgãos, prezando-se nesse e em todos os momentos, o respeito pelas opiniões, anseios e a dor a qual os familiares estão passando18.

Dessa forma, foi possível identificar a relevância de capacitações contínuas das equipes de saúde, em especial aos enfermeiros que dispõem de contato ativo com potenciais doadores e suas famílias, uma vez que pode-se entender que há vulnerabilidade no conhecimento técnico e preparo emocional desses profissionais12.

O enfermeiro exerce papel estratégico na abordagem familiar sobre a possível doação de órgãos, sendo um momento complexo e delicado para a aceitabilidade da família, principalmente por ver seu ente com batimentos cardíacos e não assimilar o óbito6. Segundo o estudo16 proposto, os fatores que agregam a insatisfação mencionados pelos familiares em relação ao atendimento de enfermagem são: a indiferença e desinteresse da equipe com a situação, a demora da liberação do corpo e as falhas de privacidade durante a entrevista com a família do doador.

Nessa perspectiva, a motivação que leva estes a autorizarem a doação, é a empatia e a busca de promover algum sentido à vida do outro, tanto a um potencial receptor quanto ao seu ente falecido16. Dessa forma, visando um melhor acolhimento, o enfermeiro pode optar por alguns processos de cuidados dentro das unidades, como a modificação e flexibilização das regras do setor a fim de fornecer uma assistência adequada aos familiares do paciente, podendo organizar visitas com maior quantidade de pessoas e fora do horário previsto pela instituição, mesmo que nas UTIs16.

Frente a esse aspecto é exigido dos profissionais preparo técnico-científico, competência e habilidade na comunicação terapêutica18. Pressupõem-se partindo da ideia de que esses atributos são primordiais para instituir um vínculo fundamentado em confiança mútua e humanística com o paciente e seus familiares, a fim de que esses cuidados mitiguem a angústia e aflição daquele momento e determinar a decisão de doação16.

Entretanto, quando consideramos que a equipe de enfermagem é também composta por indivíduos, que participam ativamente do processo morte e morrer, é essencial ofertar suporte técnico e emocional constante a esses profissionais. Além disso, deve-se insistir em programas de educação permanente a fim de esclarecer algumas questões que causam angústias e incertezas sobre o diagnóstico da ME. Esse suporte pode contribuir diretamente para aperfeiçoar a assistência prestada aos familiares18.

O exposto ressalta de maneira expressiva os programas de educação permanente, a fim de que dessa forma, possam proporcionar suporte técnico e emocional aos profissionais de saúde, mitigando suas angústias e promovendo uma assistência mais qualificada e empática18. A adoção de uma postura proativa e humanística por parte da equipe de enfermagem pode ser decisiva para aumentar as taxas de doação de órgãos, trazendo benefício tanto para os pacientes receptores quanto para os familiares dos doadores16.

CONCLUSÃO

Com o término do estudo, podemos perceber que é de fundamental importância os profissionais em saúde investirem no aprofundamento dos seus conhecimentos acerca da fisiopatologia que envolve um paciente com diagnóstico de ME. Esse estudo emergiu a percepção de que é imprescindível os enfermeiros e a equipe técnica participarem de capacitações, palestras e rodas de conversas para aperfeiçoar a realização de um cuidado integral e humanizado, atenuando a crescente desproporção gerada pelo processo de ME. Esse aspecto se faz determinante pois discorre entre órgãos viáveis para doação e transplantes bem sucedidos.

Assim sendo, percebemos que a decisão por não autorização da doação de órgãos pelos familiares, pode transcorrer em buscar mais estratégias para oferecer informações concisas e seguras. Ressaltamos as técnicas de abordagem no que tange os aspectos de esclarecimentos e segurança das informações sobre a condição vivenciada. Dessa forma, resgatamos mais uma vez, a relevância do impacto que uma comunicação ativa, esclarecida e empática promove para a mudança desse cenário, fazendo-se necessária a capacitações que agreguem o aperfeiçoamento das condutas em abordagem aos familiares. Se faz necessário, visto que, o enfermeiro segue sendo o profissional instruído para sensibilizar a aproximação dos familiares com o diagnóstico de ME e a importância da doação de órgãos.

Em termos de comunidade, pode-se evidenciar com a coletânea de informações e dados estatísticos referentes a não adesão das doações, que as famílias desaprovam a realização desses procedimentos, motivadas pelo desconhecimento da “vontade de doar em vida” do seu familiar, da compreensão do diagnóstico de ME e de como funciona o processo do transplante. Partindo dos fatores apresentados, conclui-se que há a necessidade de disseminar informações concretas, quebrando estigmas e dogmas interligados a esse assunto, para que dessa forma seja diminuído os anseios, dúvidas e angústias da população leiga quando houver a necessidade de ser ou autorizar a doação.  

O setor hospitalar é um ramo que possui um alto fluxo diário de pessoas, sendo porta de entrada para acidentes e situações que repercutem em ME. Dessa forma, a adesão de materiais informativos sobre a necessidade de doadores de órgãos, assim como a desmistificação do processo de doação e transplante, é uma alternativa interessante para estar exposta em cenários de bastante movimentação e rotatividade, partindo da ideia que muitos acompanhantes aguardam em salas de espera estando inertes a exposições de materiais no ambiente. A sociedade atual desfruta da era tecnológica, sendo primordial as abordagens nesse meio, uma vez que seja prezando atingir todos os públicos alvos.  

REFERÊNCIAS:

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