A IMPORTÂNCIA DO PRÉ-NATAL PSICOLÓGICO NA PREVENÇÃO DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA
THE IMPORTANCE OF PSYCHOLOGICAL PRENATAL CARE IN PREVENTING POSTPARTUM DEPRESSION: AN INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW
LA IMPORTANCIA DE LA ATENCIÓN PSICOLÓGICA PRENATAL EN LA PREVENCIÓN DE LA DEPRESIÓN POSPARTO: UNA REVISIÓN BIBLIOGRÁFICA INTEGRADORA
Carla Tayane Nogueira de Sousa
Especializanda em Saúde da Família e Comunidade (ESP)
ORCID: https://orcid.org/0009-0002-2912-5344
Amanda Soares
Doutora em Saúde Coletiva (UFRN)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8063-4131
Dayane Menezes Santos
Especialista em Gestão em Saúde e Qualidade e Segurança do paciente (FaHol)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5866-4323
Jeferson Falcão do Amaral
Doutor e Mestre em Farmacologia (UFC)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0426-0347
Jéssica Barreto Pereira
Mestra em enfermagem pela (UFPB)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1274-6024
Averlândio Wallysson Soares da Costa
Mestre em Saúde Coletiva (UFRN)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9305-9965
Eliane Clares Barbosa
Mestra em Psicologia e Políticas Públicas (UFC)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8828-683X
Bárbara Letícia de Queiroz Xavier
Doutoranda em Saúde Coletiva (UFRN)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1622-9128
RESUMO
O objetivo do presente estudo foi compreender a importância do pré-natal psicológico para a prevenção da depressão pós-parto. Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura. O levantamento de dados ocorreu por meio de pesquisa em base de dados: Periódicos Capes, Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS/MeSH) utilizados foram: “Cuidado pré-natal”, “Gravidez”, “Depressão Pós-Parto”, em conjunto com o operador booleano AND. Foram incluídos sete artigos no estudo e categorizados em quatro categorias para discussão. O estudo demonstrou que o pré-natal psicológico tem um impacto positivo não apenas na prevenção da depressão pós-parto, mas também em outros transtornos mentais, ajudando as mulheres e suas famílias a enfrentar as transformações desse período.
DESCRITORES: Cuidado pré-natal. Gravidez. Depressão Pós-Parto.
ABSTRACT
The aim of this study was to understand the importance of psychological prenatal care in preventing postpartum depression. This is an integrative literature review. The data was collected by searching the following databases: Periódicos Capes, Scientific Electronic Library Online (SciELO), Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS). The Health Sciences Descriptors (DeCS/MeSH) used were: ‘Prenatal Care’, ‘Pregnancy’, ‘Postpartum Depression’, together with the Boolean operator AND. Seven articles were included in the study and categorised into four categories for discussion. The study showed that psychological prenatal care has a positive impact not only on the prevention of postpartum depression, but also on other mental disorders, helping women and their families to cope with the transformations of this period.
DESCRIPTORS: Prenatal care. Pregnancy. Postpartum Depression.
RESUMEN
El objetivo de este estudio fue comprender la importancia de la atención prenatal psicológica en la prevención de la depresión posparto. Se trata de una revisión bibliográfica integradora. Los datos fueron recolectados a través de búsquedas en las siguientes bases de datos: Periódicos Capes, Scientific Electronic Library Online (SciELO), Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS). Los Descriptores en Ciencias de la Salud (DeCS/MeSH) utilizados fueron: «Prenatal Care», «Pregnancy», «Postpartum Depression», junto con el operador booleano AND. Se incluyeron siete artículos en el estudio y se clasificaron en cuatro categorías para su discusión. El estudio mostró que la atención psicológica prenatal tiene un impacto positivo no sólo en la prevención de la depresión posparto, sino también en otros trastornos mentales, ayudando a las mujeres y sus familias a hacer frente a las transformaciones de este período.
DESCRIPTORES: Atención prenatal. Embarazo. Depresión postnatal.
Recebido: 27/02/2025 Aprovado: 14/03/2025
Tipo de artigo: Revisão de Literatura
INTRODUÇÃO
A assistência pré-natal é um programa destinado ao cuidado da gestante durante a gravidez, no parto e no pós-parto. É formado por um conjunto de intervenções clínicas e educativas que visam a detecção precoce, diagnóstico e tratamento de complicações comuns nesse período, além do monitoramento do desenvolvimento fetal e da saúde da mãe e do bebê. As ações incluem a promoção da saúde, prevenção de doenças e a preparação da gestante para o parto e a amamentação.1
A gravidez acarreta mudanças significativas nas esferas física, fisiológica, psicológica, social e cultural, impactando a vida da mulher e de sua família. A descoberta da gestação também pode gerar diversas reações, como o planejamento da gravidez, adaptação de novos papéis e a formação de uma nova identidade. Cada mulher lida com essas transformações de maneira única, podendo reagir positivamente ou negativamente, de acordo com seus recursos de enfrentamento.2
Diante disso, essas mudanças podem criar um ambiente propício para o desenvolvimento da Depressão Pós-Parto (DPP) e outras condições psicológicas no período pós-parto. No Brasil, estima-se que 25% das mulheres apresentam sintomas depressivos, com causas atribuídas a diagnósticos e tratamentos inadequados, estigmas sociais e falta de conhecimento sobre a patologia.3 Nesse cenário, percebe-se que os programas de saúde voltados para a mulher frequentemente priorizam os aspectos biológicos, deixando em segundo plano a avaliação de fatores psicossociais, que são cruciais tanto para a mãe quanto para o bebê.4
Contudo, um avanço significativo ocorreu recentemente com a promulgação da Lei nº 14.721/2023, que amplia o acesso à assistência psicológica para gestantes e estabelece atividades educativas e de conscientização sobre a saúde mental durante a gestação e o pós-parto. Essa nova legislação modifica os artigos 8º e 10º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e garante que as mulheres sejam encaminhadas para atendimento psicológico após avaliação médica.5
A psicóloga desempenha um papel essencial na assistência perinatal, desde o início da gestação até o pós-parto, devendo atuar de forma ética e empática, criando espaços que promovam a autoexpressão e incentivem o ajuste criativo. Sua atuação também envolve a promoção e prevenção da saúde mental, oferecendo escuta qualificada e um espaço para diálogo, elucidação de dúvidas e acolhimento das preocupações das gestantes.6
Reconhecendo a importância do suporte emocional, o Pré-natal Psicológico (PNP) surge como uma estratégia de cuidado dos aspectos psicossociais, visando uma assistência integral durante a gestação. Trata-se de uma intervenção preventiva que pode ser realizada por meio de grupos psicoeducativos focados em gestação, parto e pós-parto, facilitados por psicólogas para fornecer suporte socioemocional e orientações sobre tópicos relacionados à maternidade.7
Atuando como complementar ao modelo tradicional de pré-natal, o PNP busca humanizar a experiência gestacional, incentivar a participação da gestante e sua família e oferecer suporte psicoterapêutico, prevenindo condições emocionais adversas, como ansiedade, estresse e depressão, ou evitando sua intensificação no pós-parto.6
Atualmente, os estudos sobre o PNP ainda são limitados, dado que a Psicologia Perinatal é uma área de conhecimento recente no país e se encontra em processo de expansão. Diante disso, o presente estudo poderá colaborar com a disseminação do PNP, visando contribuir com a comunidade científica, uma vez que se trata de um tema que ainda é pouco explorado. Esse estudo tem como objetivo compreender a importância do pré-natal psicológico para a prevenção da depressão pós-parto, por meio de uma revisão de literatura.
Os termos “mulher” e “gestante” são utilizados neste estudo por ter como corrente teórica o feminismo materialista, que entende as demandas políticas baseadas na materialidade e não na autoidentificação. E a utilização do termo “psicóloga” se dá de acordo com o Conselho Federal de Psicologia (CFP), considerando que mais de 80% da categoria é composta por mulheres.
METODOLOGIA
Este estudo consiste em uma revisão integrativa da literatura, considerada uma ferramenta significativa no campo da saúde, pois permite a síntese de pesquisas disponíveis sobre um tema específico e fundamenta práticas em conhecimento científico. As etapas metodológicas incluídas foram: 1) Identificação do tema e formulação da pergunta norteadora; 2) Definição de critérios para inclusão e exclusão de estudos; 3) Avaliação dos achados e definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) Análise e interpretação dos resultados; 5) Apresentação da revisão e síntese do conhecimento.8
A formulação da pergunta norteadora é crucial, pois determina os estudos a serem incluídos, os métodos de identificação e as informações coletadas. A pergunta de pesquisa desenvolvida foi: “Qual a importância do Pré-Natal Psicológico na prevenção da Depressão Pós-Parto?”. A estratégia utilizada para o desenvolvimento foi o método POV (P= population; V= variable; O= outcome) em que: P= gestantes; V= assistência humanizada, prevenção e promoção de saúde; O= a relevância do pré-natal psicológico.
A coleta de dados ocorreu entre agosto e outubro de 2024, utilizando as bases de dados: Periódicos Capes, Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS/MeSH) utilizados foram: “Cuidado pré-natal”, “Gravidez”, “Depressão Pós-Parto”, em conjunto com o operador booleano AND.
Os critérios de inclusão definidos para seleção dos estudos foram artigos com resumos disponíveis online e texto completo nas bases de dados selecionadas, publicados nos anos de 2014 a 2024, no idioma português e que abordassem o tema referido. Excluíram-se publicações duplicadas, editoriais, cartas e artigos não relacionados ao tema.
Em seguida, foram selecionados os artigos, avaliados seus resumos e posteriormente foi realizada uma leitura exploratória das publicações. Para análise e categorização dos artigos foi realizada uma leitura interpretativa e a análise descritiva dos dados de acordo com o objetivo proposto.
Para simplificar a análise dos artigos incluídos nesta revisão integrativa, foi elaborado um formulário que abordou as questões pertinentes à coleta de dados e que atendia o objetivo da pesquisa. Nesse formulário conteve as seguintes informações: título, autores, ano de publicação, periódico e delineamento.
A análise dos dados foi realizada utilizando a técnica de análise de conteúdo, que envolve um conjunto de ferramentas destinadas a examinar o material da pesquisa e a interpretar o conteúdo após a coleta dos dados, com o objetivo de analisar o material reproduzido por meio de unidades de registro.9
RESULTADOS
Após a seleção, foram encontrados 23 artigos que estão representados logo abaixo na Figura 1, dos quais 12 foram escolhidos para leitura do título e resumo. Após essa leitura e a aplicação dos critérios de exclusão, restaram 7 artigos para compor esta revisão integrativa.
Figura 1. Fluxograma de seleção dos artigos para a Revisão Integrativa. Morada Nova, Ceará, Brasil, 2024.
Fonte: Elaborado pela autora, 2024.
A amostra final foi organizada em um quadro sinóptico, apresentando informações relevantes sobre cada artigo, como título, autores, ano de publicação e periódico. No Brasil, Brasília foi a pioneira na implementação do PNP, criado pela psicóloga Fátima Bortoletti, originalmente denominado Psicoprofilaxia, com a evidência de avanços na utilização do programa em outros estados.10
Quadro 1. Síntese dos artigos selecionados para compor a revisão. Morada Nova (CE), Brasil, 2024.
N | Título | Autores e Ano | Periódico | Delineamento |
1 | A maternidade e seus impactos psicológicos na depressão pós-parto. | Silvério; Paiva, 2023. | Rev. Saúde dos vales | Pesquisa qualitativa, com utilização de Revisão Integrativa de Literatura |
2 | Sintomatologia depressiva no termo da gestação, em mulheres de baixo risco | Silva et al., 2019. | J Bras Psiquiatr. | Estudo transversal, quantitativo, descritivo e correlacional. |
3 | Fatores de Risco e Proteção Associados à Depressão Pós-Parto no Pré-Natal Psicológico | Arrais; Araújo; Shiavo, 2018. | Psicologia: Ciência e Profissão | Pesquisa longitudinal, de curta duração, com delineamento baseado na metodologia da Pesquisa-Ação. |
4 | O Pré-Natal Psicológico como Programa de Prevenção à Depressão Pós-Parto | Almeida; Arrais, 2016. | Psicologia: Ciência e Profissão | Recorte de um projeto de pesquisa maior. |
5 | O pré-natal psicológico como programa de prevenção à depressão pós-parto | Arrais; Mourão; Fragalle, 2014. | Saúde Soc. | O método utilizado foi a pesquisa-ação. |
6 | Pré-natal psicológico na prevenção de depressão perinatal e ansiedade | Araújo e Cerqueira-Santo, 2022. | Revista da SPAGESP | Delineamento quase-experimental do tipo ensaio clínico, longitudinal e não randomizado. |
7 | Sintomas depressivos na gestação e fatores associados: estudo longitudinal | Lima et al., 2017 | Acta Paul Enferm. | Estudo longitudinal realizado em três etapas. |
Fonte: Elaborado pela a autora, 2024.
DISCUSSÃO
Objetivando compreender segundo a literatura recente, a importância do Pré-Natal Psicológico na prevenção da Depressão Pós-parto, após delimitação em quadro dos artigos, leitura na íntegra e análise dos estudos incluídos nesta revisão integrativa, emergiram-se quatro categorias temáticas: Depressão pós-parto (DPP); Fatores de risco da depressão pós-parto; Fatores de proteção da depressão pós-parto; Pré-natal Psicológico (PNP).
Depressão pós-parto
A DPP é caracterizada como um episódio de depressão maior que ocorre até quatro semanas após o parto.11 No entanto, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) modificou essa definição, passando a ser designada como episódios do periparto ou depressão perinatal, abrangendo o período gestacional e as quatro semanas iniciais pós-parto. Estudos indicam que cerca de 50% dos casos de depressão pós-parto têm início antes do parto.12 Contudo, no presente estudo foi adotado o termo Depressão Pós-Parto, pois o novo termo ainda não era amplamente utilizado nos artigos que fizeram parte dessa revisão e dessa forma a busca nas bases de dados poderiam ser prejudicadas.
Os sintomas da DPP são semelhantes aos da depressão maior, incluindo tristeza intensa, baixa autoestima, sentimentos de incapacidade, oscilações de humor, culpa excessiva, perda de motivação e ideação suicida. A literatura destaca que dentre esses sintomas, o sentimento de culpa e de incapacidade para desempenhar o papel maternal, são os mais frequentes.13
Os sintomas depressivos costumam ser pouco valorizados pelas mulheres e até mesmo por profissionais por atribuírem que fazem parte do processo gestacional, sendo, muitas vezes, aceitos como alterações normais da gravidez e passíveis de ajustamento com o decorrer do tempo. Embora esses sintomas sejam relativamente comuns nessa fase, profissionais de saúde devem estar atentos a essas manifestações e realizar triagens precoces para possibilitar diagnósticos e intervenções adequadas, que podem beneficiar a mãe, o bebê e a família.14
O rastreio desta sintomatologia deve ser realizado numa fase inicial da gestação para ser possível diagnosticar a depressão perinatal e dar início ao tratamento. Um diagnóstico preciso e uma intervenção antecipada levam à redução dos sintomas depressivos, nesse período, e importantes benefícios para a mãe e o bebê, assim como para a família.3
Fatores de risco da depressão pós-parto
Os fatores de risco para a DPP são os comportamentos, as condições ou as situações que aumentam a probabilidade de ocorrência de problemas físicos, psicológicos e sociais. Os fatores de risco da DPP são eventos já estabelecidos que aumentam as chances do surgimento de problemas emocionais após o parto.10
Na revisão de literatura que foi a base para o presente estudo, observou-se que os fatores de risco da DPP incluem condições psicológicas, sociais e físicas que aumentam a probabilidade de problemas emocionais após o parto. Entre os fatores psicológicos, destacam-se histórico de episódios depressivos antes ou durante a gestação, gravidez indesejada e vivência de eventos estressantes.11
Os fatores sociais, como falta de apoio familiar e condições socioeconômicas desfavoráveis, também são relevantes. A ausência de apoio do genitor, rede de suporte familiar e social fragilizada, relacionamento conjugal insatisfatório, exposição à violência doméstica, baixa assistência no período gravídico-puerperal e condições socioeconômicas desfavoráveis são os mais evidenciados pela literatura.10
No tocante aos fatores físicos, que se mostraram mais presentes, incluem complicações obstétricas como sangramentos, hipertensão e diabetes gestacional, que pode acarretar na mulher o sentimento de medo quanto a possiblidade de agravamento do quadro; histórico de perdas gestacionais; parto prematuro; má formações; natimorto; complicações na placenta; e parto traumático anterior.11
Diante disso, é fundamental que os profissionais identifiquem esses fatores durante as consultas pré-natais para planejar ações preventivas e diagnosticar a DPP precocemente. Isto permite um tratamento adequado para as mães e para a relação mãe-bebê e, futuramente, para o equilíbrio emocional da criança. Desse modo, o impacto na vida dos envolvidos demanda um cuidado não só numa perspectiva curativa, mas também preventiva, a fim de evitar que esse grave transtorno se instale.12
Portanto, se as gestantes apresentam alguma dessas histórias, principalmente a depressão gestacional, que é um dos grandes fatores de risco para a DPP, elas necessitam de mais atenção tanto dos familiares quanto dos profissionais de saúde nesse período.10 Contudo, isso é algo que costuma ser esquecido pelos profissionais que as acompanham no pré-natal ginecológico, devido a atenção da equipe estar mais voltada para os aspectos biológicos e não para o cuidado integral.
Fatores de proteção da depressão pós-parto
Os fatores de proteção são recursos que podem melhorar a resposta diante de eventos de risco, como redes de apoio, estabilidade emocional, autoestima, tolerância ao sofrimento, estabilidade emocional, habilidades para resolver problemas, autonomia e otimismo.11
Os fatores de proteção para a DPP encontrados nos estudos foram: o apoio de outra mulher, principalmente de uma mulher com mais experiência a respeito da maternidade; a detecção precoce dos sintomas depressivos; o suporte social; uma boa relação conjugal e suporte emocional do companheiro; gravidez planejada; gravidez desejada; estabilidade socioeconômica; rede de apoio familiar; um trabalho de prevenção como o pré-natal psicológico.10
O suporte social, especialmente do parceiro, é um indicador de proteção contra a DPP, que refere-se ao apoio prestado através do afeto, da companhia, da assistência por meio da divisão de responsabilidades tanto de cuidado como financeira. Isso proporciona à mulher sentir-se cuidada, valorizada e segura. Assim, é muito importante que haja o engajamento do parceiro, da família e dos amigos para assegurar a percepção de suporte social, que atua como um fator de proteção contra a DPP.12
A literatura também evidencia que o acompanhamento pré-natal realizado através de uma abordagem psicoterapêutica específica para as gestantes, atua como um fator de proteção de grande relevância. Um estudo11 realizado com gestantes de alto risco de um hospital público em Brasília, fez a comparação de dois grupos de gestantes, sendo um grupo intervenção com gestantes que participaram do PNP e um grupo controle com as que não participaram.
Os resultados apontaram que os dois grupos apresentavam vulnerabilidades para o desenvolvimento da DPP, porém, apenas as participantes do grupo controle que não participaram do PNP desenvolveram o transtorno, o que sugere o PNP como um fator de proteção contra a DPP. Para as mulheres que participaram do grupo intervenção, o PNP, por meio de intervenções psicoterapêuticas, mostrou-se um fator de proteção significativo, contribuindo para a segurança, vínculo entre gestantes e desmistificação da maternidade. 11
Outro estudo15 realizado com 60 mulheres atendidas em serviços obstétricos público ou privado, na cidade de Aracaju, Sergipe, comparou as porcentagens de participantes dos grupos intervenção e controle, e constatou-se que participantes do grupo intervenção apresentaram menores índices de sintomatologia depressiva em relação às participantes do grupo controle.
Pré-natal Psicológico
O Pré-Natal Psicológico é um tipo de atendimento perinatal que raramente é encontrado em serviços obstétricos por ser um conceito novo e pouco difundido. Trata-se de um programa que se iniciou com a proposta de humanizar o processo gestacional, promovendo a integração da gestante e da família durante todo esse processo, através de encontros com ênfase na preparação e construção da maternidade.10
O principal objetivo do PNP é oferecer escuta qualificada sobre o processo da gravidez e um espaço seguro para que as mães compartilhem sobre as suas vivências, seus medos, suas fantasias e suas ansiedades provenientes dessa fase, além de viabilizar a troca de experiências, descobertas e informações com outras mulheres que compartilham sentimentos em um momento semelhante, porém vivido de maneira singular por cada uma delas. Esse cuidado também se estende à família, em especial ao parceiro e aos avós, visando sua participação na gestação e no puerpério.12
Não existe um modelo único para a realização do PNP, porém os estudos sobre essa temática mostram que as intervenções têm sido feitas por meio de grupos onde são trabalhados temas como: mudanças proporcionadas pela maternidade e paternidade, mudanças no relacionamento familiar, vínculo mãe-bebê, cobranças sociais, bebê real versus bebê imaginário, tipos de parto, estados emocionais do pós-parto e amamentação.15 Para participar do pré-natal psicológico, não é necessário que a gestante apresente dificuldades emocionais ou demandas específicas de saúde mental. Basta demonstrar o interesse pelo acompanhamento psicológico para uma vivência mais saudável nesse período.
CONCLUSÃO
O período gravídico-puerperal representa um momento de vulnerabilidade significativa para a saúde mental da mulher, podendo resultar em adoecimentos emocionais. Assim, o acompanhamento por meio do PNP é essencial, pois pode ajudar a prevenir e reduzir sintomas de ansiedade e depressão.
A intervenção psicológica durante a gestação proporciona suporte emocional e psicoeducação sobre as mudanças emocionais características desse período. O apoio da psicóloga é fundamental, dado seu conhecimento sobre saúde mental e a capacidade de realizar intervenções psicoterapêuticas. O estudo demonstrou que o PNP tem um impacto positivo não apenas na prevenção da DPP, mas também em outros transtornos mentais, ajudando as mulheres e suas famílias a enfrentar as transformações desse período
REFERÊNCIAS
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