RASTREIO DE DOENÇA RENAL CRÔNICA EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM.

SCREENING CHRONIC KIDNEY DISEASE IN NURSING PROFESSIONALS.

TAMIZAJE DE LA ENFERMEDAD RENAL CRÓNICA EN PROFESIONALES DE ENFERMERÍA.

Alaécio Silva Rêgo - Enfermeiro. Residente de enfermagem em Nefrologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. ORCID 0000-0002-3303-2573

Renan Simeone Moreira - Enfermeiro. Especialista em UTI Neonatal e Pediátrica,  Universidade do Estado do Rio de Janeiro. ORCID 0000-0002-8747-7615 

Tatiane da Silva Campos - Enfermeira. Doutoranda em Bioética, ética aplicada e saúde coletiva pela ENSP/FIOCRUZ, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. ORCID: 0000-0002-9790-0632

Joyce Martins Arimatea Branco Tavares - Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela EEAN/UFRJ, Docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. ORCID: 0000-0002-7014-4654 

Livia Azevedo Bahia - Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela EEAN/UFRJ, Docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. ORCID:0000-0002-4556-8009

Silvia Maria de Sá Basílio Lins - Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela EEAN/UFRJ, Docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. ORCID: 0000-0002-6717-9223 

Rayane Alves Beserra - Enfermeira. Residente de enfermagem em Pediatria, Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). ORCID: 0000-0003-3853-7973

Ana Claudia Rodrigues da Silva - Enfermeira. Residente de enfermagem clínica e cirurgia geral, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). ORCID: 0000-0001-5806-7484 

RESUMO

Objetivo: rastrear o risco do desenvolvimento da Doença Renal Crônica na equipe de enfermagem atuante no setor de nefrologia de um Hospital Universitário. Método: estudo transversal, descritivo e de abordagem quantitativa. Utilizou-se o Screening for Occult Renal Disease (SCORED) re-lacionando os dados sociodemográficos e fatores de risco associados à para avaliação. Resultados: Participaram 27 profissionais de enfermagem, sendo 88,89% enfermeiros, idade média 37,81 anos; 81,48% mulheres; etnia branca 55,56%; renda familiar maior que 2 salários mínimos 51,85%; sedentários 59,26%; nunca fumaram 88,89%; ingerem bebida alcoólica socialmente 70,37%; comparecem a consultas médicas regularmente 70,37% e não possuem comorbidades 59,26%. Histórico familiar da doença 92,59% e fizeram exame de creatinina 81,48% no último ano 51,85%. Dos parti-cipantes, 7,41% (n=2) apresentaram risco para desenvolver a doença. Conclusão: É notório que os profissionais possuem autocuidado a saúde renal, evidenciado pela frequência às consultas e realização de exames de creatinina.

DESCRITORES: Equipe de enfermagem; Insuficiência renal crônica; Autocuidado.

ABSTRACT

Objective: to track the risk of developing Chronic Kidney Disease in the nursing team working in the nephrology sector of a University Hospital. Method: cross-sectional, descriptive study with a quantitative approach. The Screening for Occult Renal Disease (SCORED) was used, listing socio-demographic data and risk factors associated with the evaluation. Results: 27 nursing professionals participated, 88.89% of whom were nurses, mean age 37.81 years; 81.48% women; white ethnicity 55.56%; family income greater than 2 minimum wages 51.85%; sedentary 59.26%; never smoked 88.89%; consume alcohol socially 70.37%; 70.37% attend medical consultations regularly and 59.26% do not have comorbidities. Family history of the disease 92.59% and creatinine test 81.48% in the last year 51.85%. Of the participants, 7.41% (n=2) were at risk for developing the disease. Conclusion: It is clear that professionals have self-care for kidney health, as evidenced by the frequency of consultations and the perfor-mance of creatinine tests.

DESCRIPTORS: Nursing team; Chronic renal failure; Self-care.

RESUMEN

Objetivo: rastrear el riesgo de desarrollar Enfermedad Renal Crónica en el equipo de enfermería que actúa en el sector de nefrología de un Hospital Universitario. Método: estudio transversal, descriptivo con abordaje cuantitativo. Se utilizó el Screening for Occult Renal Disease (SCORED), listando datos sociodemográficos y factores de riesgo asociados a la evaluación. Resultados: Participaron 27 profesionales de enfermería, de los cuales 88,89% eran enfermeros, edad media 37,81 años; 81,48% mujeres; etnia blanca 55,56%; ingreso familiar mayor a 2 salarios mínimos 51.85%; sedentarios 59,26%; nunca fumó 88,89%; consumen alcohol socialmente el 70,37%; El 70,37% acude a consultas médicas de forma habitual y el 59,26% no presenta comorbilidades. Antecedentes familiares de la enfermedad 92,59% y prueba de creatinina 81,48% en el último año 51,85%. De los participantes, 7,41% (n=2) estaban en riesgo de desarrollar la enfermedad. Conclusión: Es claro que los profesionales tienen autocuidado de la salud renal, evidenciado por la frecuencia de las consultas y la realización de pruebas de creatinina.

DESCRIPTORES: Equipo de enfermería; Falla renal cronica; Cuidados personales.

RECEBIDO: 18/01/2023
APROVADO: 28/02/2023
 
INTRODUÇÃO

A Doença Renal Crônica (DRC) é um processo de lesão dos néfrons que acontece de forma contínua, lenta, progressiva e silenciosa, gerando danos irreversíveis à função renal. Na maioria das vezes os sintomas só aparecem quando a DRC já está em estágio avançado e esse paciente terá a necessidade de iniciar a Terapia Renal Substitutiva (TRS). Os tratamentos impactam diretamente nos hábitos e modo de vida do indivíduo, além de gerar muitos gastos em saúde pelo alto custo e dependência das terapias. A DRC é considerada um problema de saúde pública e o número de casos aumenta gradativamente. Por esse motivo, é de extrema importância o diagnóstico precoce e a detecção dos fatores de risco para a doença, evitando agravos1.

São muitos os fatores de risco associados à DRC: envelhecimento, obesidade, hipertensão (HAS), diabetes, doenças cardiovasculares, tabagismo, má nutrição, ingesta hídrica inadequada, entre outros. Nessa perspectiva, é preciso investir nos mais diversos níveis de atenção para que haja a identificação precoce das pessoas com fatores de risco ou já com a DRC em estágio inicial, a fim de serem dirigidas ações de saúde com efetividade1.

O exercício do profissional de enfermagem é complexo, diverso e multifacetado. Os trabalhadores que compõem essa categoria podem estar inseridos em diversos segmentos do mercado de trabalho e podem atuar nos diferentes níveis de atenção à saúde. Ao executar suas atividades, esses trabalhadores se expõem continuamente a uma série de riscos ocupacionais: físicos, químicos, biológicos, mecânicos e de acidente, ergonômicos e psicossociais2.

No Brasil, os profissionais da enfermagem se comprometem com múltiplos vínculos, com pouco descanso e jornada dupla de trabalho, e por vezes, esquecem de cuidar de si, se distanciando da vida social e negligenciando seu autocuidado, o que implica em adoecimento, principalmente por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). O mau hábito alimentar e o descuido com a qualidade da alimentação são fatores desencadeados pela alta complexidade do trabalho da enfermagem. Seu tempo no ambiente hospitalar é quase todo voltado para a assistência, assim sua alimentação fica prejudicada. Frequentemente, o profissional consome alimentos de fácil preparo, com baixa qualidade nutricional, o que pode afetar seu estado nutricional3-4.

A Enfermagem é uma das profissões da saúde cuja essência e especificidade é o cuidado ao ser humano, seja de forma individual, na família ou na comunidade, desenvolvendo atividades de promoção à saúde e prevenção de doenças, recuperação e reabilitação da saúde. Essa profissão é responsável pelo cuidado, conforto, acolhimento e bem-estar dos clientes, seja prestando o cuidado, coordenando outros setores para a prestação da assistência ou promovendo a autonomia dos mesmos através da educação em saúde5.

Diante deste contexto, o objetivo do trabalho foi rastrear o risco do desenvolvimento da DRC na equipe de enfermagem atuante no setor de nefrologia de um Hospital Universitário.

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal, descritivo e com abordagem quantitativa. O cenário foi um hospital universitário localizado no município do Rio de Janeiro, classificado como unidade terciária, que conta com o serviço de Nefrologia, composto pelo transplante renal, hemodiálise, diálise peritoneal e tratamento conservador.

Os participantes da pesquisa foram os membros da equipe de enfermagem, dos plantões diurno e noturno, e os docentes de enfermagem atuantes no serviço de nefrologia, totalizando 61 profissionais, entre eles enfermeiros, residentes de enfermagem, técnicos e auxiliares de enfermagem. Foram incluídos no estudo todos os profissionais de enfermagem, em qualquer uma das categorias, atuantes no serviço de Nefrologia com mais de 18 anos. Foram excluídos os profissionais que tinham DRC diagnosticada.

Os questionários foram enviados por meio eletrônico, através de e-mail e aplicativo de mensagem (WhatsApp) a todos os profissionais de enfermagem atuantes no setor de Nefrologia no período de março a maio de 2021, através de um link do Google formulários, o participante tinha acesso ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para leitura e após o aceite, era direcionado para responder aos questionários de caracterização sociodemográfica e fatores de risco associados à DRC, produzido pelos pesquisadores e o Rastreamento de Doença Renal oculta Screening for Occult Renal Disease (SCORED). O principal objetivo da SCORED é facilitar o rastreamento de pessoas com DRC, predizendo a chance de o indivíduo apresentar a doença. Baseado nesse questionário, o indivíduo com mais de 4 pontos apresenta uma chance em cinco de ter DRC. A validação deste e a tradução para a população brasileira foi realizada por Magacho6 apontando sensibilidade de 80%, especificidade de 65%, valor preditivo positivo de 14%, valor preditivo negativo de 97% e acurácia de 66%.

Ao final do preenchimento do questionário, o participante pode observar suas chances de ter DRC, como também algumas condutas a serem tomadas frente ao resultado do SCORED. Os pesquisadores forneceram orientações adequadas sobre como e quando procurar auxílio para tratamento de saúde dentro do próprio questionário. As respostas foram tratadas de forma anônima e confidencial.

Todos os profissionais que atendiam aos critérios de inclusão foram convidados a participar do estudo, porém, apenas 27 responderam à pesquisa. Os dados foram armazenados e registrados em uma planilha Excel contida dentro do Google Drive, ligado diretamente ao formulário com os questionários que foram preenchidos pelos participantes. Foi criado um e-mail específico para o trabalho onde os dados representativos e suas variações ficaram armazenados, com acesso apenas aos autores. Os dados foram analisados no Excel e apresentados em formato de gráficos, com obtenção dos valores relativos e absolutos (média), permitindo fazer conclusões importantes sobre a população a partir do levantamento dos dados.

 A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, através da Plataforma Brasil sob o parecer 4.567.511 e CAAE 42542321.9.0000.5282. Foram respeitados todos os preceitos éticos, incluindo o direito dos usuários em querer ou não participar do estudo.

RESULTADOS

Dos 27 profissionais que responderam à pesquisa, nenhum era auxiliar de enfermagem, 13 (48,15%) eram enfermeiros e 11 (40,74%) residentes de enfermagem. Já os técnicos de enfermagem, que são a maior força de trabalho e representam a maioria nesse setor, apenas 3 (11,11%) responderam à pesquisa.

A média de idade dos participantes da pesquisa que foi de 37,81 anos. Entre os técnicos de enfermagem as idades variavam entre 35 e 66 anos; Enfermeiros entre 33 e 58 anos; Residentes de Enfermagem entre 23 e 38 anos.

O perfil sociodemográfico dos participantes está apresentado na tabela 1. Nenhum participante se declarou como indígena ou amarelo; ou que possuía renda familiar menor que 1 salário mínimo. Há ainda a predominância feminina na área e de pessoas que se autodeclaram da etnia branca.

Tabela 1 – Perfil sociodemográfico dos profissionais de enfermagem. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021.

Fonte: dados dos autores, 2021.

Dentre os participantes, 1 (3,70%) referiu ter sido alcoólatra por 25 anos e fumante por 10 anos. Outros 2 (7,41%) relataram o uso de fumo na atualidade e que bebem socialmente. A tabela 2 apresenta características relacionadas à saúde dos participantes da pesquisa.

Tabela 2 – Características relacionadas à saúde dos profissionais de enfermagem. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021.

Fonte: dados dos autores, 2021.

Dentre os 11 participantes que relataram apresentar alguma comorbidade, 3 (11,11%) apresentaram HAS e 4 (14,82%) obesidade, condições essas que são fatores de risco para DRC. Dentre esses, 1 (3,70%) relatou que possui mais de uma comorbidade.

A tabela 3 apresenta os dados referentes à avaliação da função renal dos participantes, segundo autorrelato.

Tabela 3 – Avaliação do cuidado a saúde renal dos profissionais de enfermagem. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021.

Fonte: dados dos autores, 2021.

Quanto aos profissionais que relataram que fizeram exame de creatinina sérica, 11 (40,74%) são enfermeiros, 9 (33,33%) residentes e 2 (7,41%) técnicos.        

A tabela 4 apresenta o perfil de respostas dos participantes ao SCORED.

 Tabela 4 – Perfil de respostas ao SCORED. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021.

Fonte: dados dos autores, 2021.

Foi possível avaliar a pontuação obtida por cada participante e identificar os que apresentaram risco para desenvolvimento de DRC, apresentada na tabela 5.

Tabela 5 – Pontuação dos participantes no questionário SCORED. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021.

Fonte: dados dos autores, 2021.

Dentre os 2 participantes que possuem risco para DRC pelo SCORED, um informou que está na faixa etária entre 50 e 59 anos (2 pontos), é do sexo feminino (1 ponto), teve ou tem anemia (1 ponto) e possui HAS (1 ponto). O outro informou faixa etária entre 60 e 69 anos (3 pontos), sexo feminino (1 ponto) e indicou possuir HAS (1 ponto). Assim, pelo questionário SCORED, as participantes possuem 1 chance em 5 de ter DRC, e o próprio questionário indicou a elas que na próxima visita ao médico solicite um exame de creatinina para identificação precoce. Correlacionando os dados obtidos no SCORED e os dados sociodemográficos identificou-se que ambos os indivíduos apresentam fatores de risco para a progressão da DRC (um sinalizou que foi tabagista por 10 anos, alcoólatra por 25 anos, possui HAS e tem ou teve anemia; o outro sinalizou que possui HAS).

Relacionando o perfil de comorbidade e atividade física, 16 (59,26%) relataram não possuir comorbidades. Dentre esses, 10 (62,50%) são enfermeiros, 4 (25,00%) são residentes e 2 (12,50%) são técnicos de enfermagem; 8 (50,00%) realizam atividade física. Já dentre os 11 (40,74%) profissionais que possuem comorbidade, 7 (63,64%) são residentes, 3 (27,27%) são enfermeiros e 1 (9,09%) é técnico de enfermagem. Somente 3 (27,27%) relataram que realizam atividade física.

Dentre os 27 participantes, somente 1 (3,70%) dos residentes de enfermagem possui pontuação 3 no SCORED, sendo o mais próximo do possível risco de DRC. Entre os enfermeiros, 3 (11,11%) possuem pontuação 3; e 1 (3,70%) possui pontuação 5 apresentando risco de DRC. Somente 1 (3,70%) técnico apresentou o risco de DRC, os outros tiveram pontuação menor que 1 no SCORED.

Em relação ao perfil de salário de cada área de atuação tivemos na faixa de mais de 5 salários mínimos, 10 (37,04%) enfermeiros, 2 (7,41%) residentes e 1 (3,70%) técnico. Entre 2 e 5 salários mínimos tivemos 3(11,11%) enfermeiros, 9 (33,33%) residentes e 2 (7,41%) técnicos.

DISCUSSÃO

O autocuidado dos profissionais entrevistados é elevado para a ida a consultas médicas e realização de exames de creatinina, porém é notório que os indivíduos possuem baixa adesão à prática de exercícios físicos. Araújo7 revelou que os trabalhadores de enfermagem conhecem a prática do autocuidado, mas não o priorizam. Silva8 indicou que estes declaram possuir bom quadro de saúde, entretanto, relataram ter problemas de saúde que podem ser amenizadas com a implementação do autocuidado. Já é conhecido que o letramento funcional em saúde e o conhecimento em relação à DRC inadequado tem associação com piora da função renal. O conhecimento é fundamental para promoção do autocuidado e evitar a progressão da doença9.

Segundo o censo 2021 da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), o maior percentual de pacientes que realizam diálise está principalmente nas faixas de 45 a 64 anos com (41,5%), seguido por 65 a 74 anos (22,8%) e respectivamente 20 a 44 anos com (21,6%), faixas essas que foram predominantes nos profissionais da enfermagem no setor de nefrologia pesquisado. Além disso, podemos perceber que os profissionais que obtiveram pontuação acima de 3 pontos no SCORED ficaram principalmente na faixa de 45 a 64 anos. Estudos demonstram que em populações com menos de 50 anos, os indivíduos têm menos chances de DRC. Os profissionais que pontuaram 4 ou mais, possuem idade superior a 50 anos. Já é sabido que o envelhecimento é um fator de risco para DRC, pois com o passar dos anos pode vir a ocorrer diminuição da taxa de filtração glomerular (TFG)10-15.

No que tange a identidade de gênero é notável que o número de mulheres na enfermagem é expressivamente maior do que o número de homens e, por esse motivo, é difícil estabelecer uma relação. Na pesquisa nenhum homem pontuou no SCORED, somente mulheres pontuaram, chegando a marcar mais de 4 pontos. Um trabalho recente também apresenta uma maior prevalência de DRC nos estágios 1 a 4 na população feminina, entretanto a doença progride mais rápido na população masculina, o que eleva a prevalência de homens em terapia dialítica, como aponta o censo da SBN10-11.

A religião não está diretamente relacionada com a prevalência de DRC, embora estudos atribuam a espiritualidade como benéfica na melhora da função renal, não identificamos pesquisas que digam que a religião previna a doença ou ajude ao não desenvolvimento da mesma16-17. Nesse estudo não podemos relacionar a religião ao risco de DRC.

O nível de escolaridade está relacionado à capacidade do indivíduo de conhecer e entender as doenças de bases, dentre elas algumas que podem levar a DRC, melhorando a capacidade de prevenção e controle. Pesquisas mostram que a maior parte dos pacientes com DRC possuem baixa escolaridade10,12,18. Os profissionais participantes possuem em sua grande maioria bom nível de escolaridade. Isso pode evidenciar a baixa prevalência de DRC, além de que todos são atuantes em um setor de nefrologia em um hospital universitário onde a assistência está ligada à pesquisa.

Em relação à renda, a baixa prevalência de DRC neste grupo pode estar relacionada aos salários mais altos, pois é sabido que a DRC está associada em maior prevalência em grupos onde a renda é menor que 2 salários mínimos. A baixa renda dificulta uma boa qualidade de vida e o acesso aos serviços de saúde12.

Para Bezerra18 a etnia geralmente está associada como fator de risco para o desenvolvimento da DRC. Estudos colocam a afrodescendência como fator de risco por caracterizar evolução mais rápida da DRC. Na pesquisa os profissionais negros apresentaram obesidade e o pardo apresentou HAS. Há na literatura a relação das comorbidades que levam a DRC em afrodescendentes com a baixa renda10,19-20.

Evidenciamos uma baixa adesão para a realização de atividades físicas. As participantes que possuem risco elevado de desenvolver DRC relataram não realizar atividade física. Reforçamos que exercícios físicos podem auxiliar de forma direta na prevenção de agravos e melhora na qualidade de vida, pois auxiliam na perda de peso, evitando obesidade, além de ajudar no controle de DCNT como a HAS.

Fukushima21 indicou que o controle inadequado da pressão arterial, diabetes, tabagismo, obesidade, entre outros, são fatores de risco tradicionais para o desenvolvimento e progressão da DRC, onde a prática de atividade física pode ser um fator de proteção capaz de atenuar as mudanças causadas pela doença e pelo tratamento, diminuindo seu ritmo de progressão. Outro estudo revelou que indivíduos que realizam atividades físicas possuem probabilidade de desenvolver DRC 10% menor que indivíduos sedentários22.

Para Souza Júnior et al.23, além do grande prejuízo na saúde do indivíduo, o comprometimento do sistema renal provoca ainda um impacto no sistema econômico, visto que o tratamento medicamentoso e dialítico resulta em um custo alto para os cofres públicos e ainda provoca a retira do mercado os indivíduos em idade laboral produtiva, afetando assim o sistema de previdência pública e seguridade social.

Foram elencados 3 artigos que utilizaram o questionário SCORED e esses referem a sua capacidade de predizer o risco de desenvolvimento da DRC e sugerem sua implementação no contexto da saúde pública, visto que é um método de rastreio simples12,24-25

Os dados obtidos em nossa pesquisa corroboram com os achados na literatura, onde a impressão final revela que o questionário é de fácil manuseio e implementação, apresenta capacidade de indicar riscos para a saúde renal e sobretudo, permite conhecer patologias que de forma direta ou indiretamente estão ligadas ao diagnóstico de base da DRC.

Devido à pandemia de COVID-19, ocorreram algumas limitações no estudo em relação à captação de um número maior de participantes, pois as recomendações de distanciamento social acabaram por quebrar o link direto de comunicação dos pesquisadores com o público alvo. Obteve-se uma inexpressiva resposta, onde apenas 44,26% da população convidada respondeu ao questionário. Talvez uma abordagem presencial de conscientização e incentivo a pesquisa pudesse resolver este déficit.

CONCLUSÃO

Apesar do número pequeno de participantes foi possível o levantamento de dados que demonstram a suscetibilidade da equipe de enfermagem a desenvolver DRC, provocando assim reflexão com o seu autocuidado. Essa reflexão indiretamente incentiva uma melhoria na assistência, pois entende-se que esse por saber como evitar determinada patologia, passará tal conhecimento a diante.  Na pesquisa foi possível a fomentação de elementos para futuras pesquisas, visto que o cenário atual se apresenta escasso de conteúdo que trata da temática abordada. Assim, acredita-se que se atingiu o ideal de produção de conteúdo inédito, pois o estudo apresenta informações não encontradas na literatura.

Conclui-se que a população estudada possui fatores de risco que podem propiciar danos à função renal. Parte desta população possui fatores clássicos para a doença e possuem uma baixa adesão a atividades físicas. Entretanto, é notório que a grande maioria realiza exame de creatinina, porém menos da metade dos participantes souberam informar com exatidão o valor. Acreditamos que por serem profissionais lotados no setor de Nefrologia, os mesmos possuem tal mentalidade da importância da aferição dos níveis de creatinina.

Sugerimos o rastreio em todos os profissionais da enfermagem, a fim de identificar possíveis problemas e traçar estratégias de cuidado com estímulo à preservação da função renal. Percebemos como ponto forte dessa pesquisa a possibilidade de geração de conteúdo inédito na temática abordada. Salientamos que os dados identificados vão ao encontro dos disponíveis na literatura.

 

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