O atendimento a pessoas transexuais e travestis na atenção primária à saúde: uma revisão integrativa

Care for transgenderandtransvestitepeople in primaryhealthcare: anintegrative review

Atención a personas transgénero y travestis enlaatención primaria de salud: una revisión integradora

Amanda Luisa Mendonça -  Graduada em Enfermagem (2022) pela Universidade Paulista (UNIP) ORCID: 0000-0002-9822-5616

Bianca Forti Queiroz - Graduada em Enfermagem (2022) pela Universidade Paulista (UNIP) ORCID: 0000-0001-8211-9926

Claire de Souza - Graduada em Enfermagem (2022) pela Universidade Paulista (UNIP) ORCID: 0000-0003-2670-8851

Mariana Rodrigues dos Reis -  Graduada em Enfermagem (2022) pela Universidade Paulista (UNIP) ORCID: 0000-0002-1779-6987

Sara Dornelas de Oliveira - Graduada em Enfermagem (2022) pela Universidade Paulista (UNIP) ORCID: 0000-0002-7973-2399

Marilene Neves da Silva Bragagnolo - Pós doutorado em Queimaduras e Doutorado em Dermatologia Clínica e Molecular pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).ORCID: 0000-0002-0885-1083

RESUMO

Objetivo: Relatar os obstáculos de acesso à Atenção Primária à Saúde (APS) por parte da população travesti e transexual (TT) e reconhecer as possíveis condutas dos profissionais de saúde no atendimento a essa população. Método: Trata-se de um estudo de revisão integrativa de literatura com coleta de dados nas plataformas Scielo, BVS e Lilacs. Foram selecionados artigos publicados na íntegra entre os anos de 2019 e 2022. Resultados: Os principais resultados encontrados foram a dificuldade no acolhimento desta população na APS, a rejeição pessoal dos profissionais, o fluxo inadequado da unidade, as barreiras estruturais dos serviços como a dificuldade de criar vínculo. Conclusão: Para que haja um acesso equitativo, livre de preconceitos e de discriminação faz-se necessário implementar na APS melhorias nas políticas públicas a fim de qualificar os profissionais no atendimento às necessidades e acolhimento da população TT bem como respeitá-la e protegê-la contra o preconceito.

Descritores: Travestilidade; Pessoas Transgênero; Saúde Pública.

ABSTRACT

Objective: To report obstacles to accessing Primary Health Care (PHC) by the transvestite and transsexual (TT) population and to recognize the possible conduct of health professionals in providing care to this population. Method: This is an integrative literature review study with data collection on the Scielo, BVS and Lilacs platforms. Articles published in full between 2019 and 2022 were selected. Results: The main results found were the difficulty in welcoming this population in the PHC, the personal rejection of professionals, the inadequate flow of the unit, the structural barriers of services such as the difficulty to create a bond. Conclusion: In order to have equitable access, free of prejudice and discrimination, it is necessary to implement improvements in public policies in PHC in order to qualify professionals in meeting the needs and reception of the TT population, as well as respecting and protecting them against prejudice.

Descriptors: Crossdressing – Transgender People – Public Health

RESUMEN

Objetivo: Reportar los obstáculos para acceder a la Atención Primaria de Salud (APS) por parte de la población travesti y transexual (TT) y reconocer la posible conducta de los profesionales de la salud en la atención a esa población. Método: Se trata de un estudio integrador de revisión bibliográfica con recolección de datos en las plataformas Scielo, BVS y Lilacs. Se seleccionaron artículos publicados íntegramente entre 2019 y 2022. Resultados: Los principales resultados encontrados fueron la dificultad para acoger a esta población en la APS, el rechazo personal de los profesionales, el flujo inadecuado de la unidad, las barreras estructurales de los servicios como la dificultad para crear un vínculo. Conclusión: Para tener un acceso equitativo, libre de prejuicios y discriminaciones, es necesario implementar mejoras en las políticas públicas en APS con el fin de capacitar a los profesionales en la atención de las necesidades y la acogida de la población TT, así como en su respeto y protección contra el prejuicio.

Descriptores: Travestismo – Personas Transgénero – Salud Pública

RECEBIDO : 01/02/2023
APROVADO : 10/03/2023

INTRODUÇÃO

A sociedade discute de forma assídua sobre questões de gênero e é notável que haja uma grande hostilidade por trás da ignorância da população sobre as definições dos termos Travesti e Transexual (TT). A violência e discriminação iniciam na infância, fase de descoberta, envolvendo muito medo e vergonha. Apesar da conquista de obtenção dos direitos legais e sociais pelo público LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexuais e Assexuais) uma fração ainda se encontra indefeso diante das definições e na sua aprovação perante sociedade.1,2

A partir dos anos 80 o movimento LGBTQIA+ ganhou forte destaque através das manifestações sociais em busca do respeito, autonomia e liberdade. Essas mobilizações trouxeram grande destaque positivo para o público, que refletem em grandes debates, aguçando assim os olhares para esse grupo.Os conceitos repetidos e preconceitos vividos pelos cidadãos cooperam para um conflito em separar o gênero da orientação sexual. A identidade de gênero é definida como o gênero com o qual um ser se identifica, podendo ser o atribuído ao nascer ou não. Já a orientação sexual, é definida como o sentimento de atração de um indivíduo por outras pessoas, podendo ser do mesmo sexo, do sexo oposto, de ambos os sexos ou ainda sem referência ao sexo ou ao gênero, e quem não sente atração por outras pessoas (assexuais). Dentro do grupo de Transexuais, existem as pessoas travestis que são homens que criam uma expressão feminina e as pessoas transexuais que se identificam com o sexo oposto ao que lhe foi designado ao nascer.1, 3

Em junho de 2019 o Brasil aprovou a criminalização da transfobia, entretanto a lei não se aplica a realidade e o país continua sendo o que mais mata pessoas TT em todo o mundo, visto que o número de mortes disparou no ano de 2020. No mundo 375 assassinatos foram registrados entre 1 de outubro de 2020 e 30 de setembro de 2021. O Brasil é o país que registra a maioria dos assassinatos (125), seguido pelo México (65) e Estados Unidos (53). Os dados demonstram que 4.042 pessoas trans e de gênero diverso foram assassinadas entre 1º de janeiro de 2008 e 30 de setembro de 2021.4

A Constituição Federal Brasileira do ano de 1988 define saúde como um direito fundamental a todos os cidadãos e é dever do Estado garantir a redução de desigualdades e instalar políticas públicas voltadas a esse público. Os direitos civis implementados na Constituição encorajaram vários movimentos sociais voltados para a atenção sobre a população LGBTQIA+, que gerou a aprovação da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Travestis (PNSI – LGBTQIA+) em 2011 por meio da Portaria 2836 do Ministério da Saúde.Esse foi um marco histórico para a população adscrita, pois gerou visibilidade às exigências de saúde e trouxe dúvidas diante os cuidados específicos a esse público. Apesar dos desafios e da necessidade de amplo comprometimento governamental, oPrograma Nacional de Saúde Integral (PNSI) vem ajudando a produção do conhecimento e a prevenção da discriminação entre as diversas instancias do Sistema Único de Saúde (SUS) dentre os gestores e trabalhadores da saúde.1,5,6.

É de extrema importância que os profissionais da saúde de todas as instâncias estejam atentos às questões éticas e legais quanto ao cuidado ao usuário TT e suas demandas, evitando assim a marginalização dos serviços de saúde e contribuindo para um serviço de boa qualidade, prezando para a humanização e acolhimento.1

A Atenção Primária à Saúde (APS) trata-se da principal porta de entrada do SUS e conecta com toda Rede de Atenção do SUS, caracterizada por um conjunto de ações de saúde, individuais e coletivas, abrangendo a promoção e a proteção à saúde,  prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento,  reabilitação e  manutenção da saúde.7

No Brasil o preconceito e a discriminação com os TT são grandes, e ocorre porque esse grupo ostenta uma identidade de gênero diversa da imposta pelos padrões heteronormativos em que homem é homem e mulher é mulher, qualquer coisa que fuja dessa norma é encarada com estranhamento, que no caso dos TT se traduz em violência e assassinato. A entrada dessa população no SUS requer uma atenção mais específica de como abordar as questões referentes à saúde de TT, muitas fazem o uso abusivo e indiscriminado de diversos hormônios, orientadas por outras Trans, existe também a utilização indevida do silicone líquido industrial. A doença HIV/AIDS trouxe para a população TT a procura mais assídua pelos serviços de saúde, dado que no início da epidemia, a população foi vista como “grupo de risco” por ser mais propensa a se infectar com a doença. Atualmente a população TT frequenta de modo mais tranquilo as unidades de saúde do SUS e é compreendida como uma população que tem outras enfermidades além dessas descritas.8

A atenção básica tem papel fundamental de receber e acolher o público TT. Cabe aos profissionais de saúde conhecer os aspectos desse público, identificar sofrimentos pessoais e sociais pelos quais estão submetidos, propondo e oferecendo ações para o cuidado individual. O acolhimento é uma diretriz da Política Nacional de Humanização (PNH) que é essencial no atendimento. Seu objetivo aos TT é promover a saúde integral, omitindo o preconceito, bem como ofertando a redução das desigualdades e a consolidação das doutrinas do SUS, como sistema universal, integral e equitativo. O acolhimento não é um espaço ou um local, mas uma postura ética, de inclusão; acolher é admitir, aceitar e dar ouvidos ao paciente. O acolhimento é um dispositivo que vai muito além da simples recepção do usuário numa unidade de saúde, considerando toda a situação de atenção a partir de sua entrada no sistema.” 9, 10, 11

Este estudo busca descrever os obstáculos dos TT na APS e as possíveis mudanças de atitude dos profissionais de saúde no atendimento à população adscrita; relatar os obstáculos dos transexuais e travestis (TT) na Atenção Primária à Saúde (APS) e reconhecer as possíveis substituições de conduta profissional no atendimento ao público-alvo.

MÉTODOS

Realizou-se uma revisão integrativa de literatura sobre o atendimento a pessoas transexuais e travestis na atenção primária à saúde com coleta de dados nas plataformas Scielo, BVS e Lilacs de acordo com a estratégia PICO. A descrição da estratégia PICO é composta por quatro componentes sendo eles P- Paciente ou Problema podendo ser um único paciente ou um grupo com uma condição em particular, I- Intervenção de interesse podendo ser terapêutica, preventiva, diagnóstica, prognóstica, administrativa ou relacionada a assuntos econômicos, C- Controle ou Comparação que é definida como uma intervenção padrão, sendo a mais utilizada ou não tendo nenhuma, e O- Outcome/ desfecho representa os resultados esperados. Assim, a estratégia PICO orienta a construção da pergunta e ajuda na busca bibliográfica, permitindo que o pesquisador localize de modo rápido e fácil a melhor informação científica disponível.12

Foram selecionados artigos publicados na íntegra entre os anos de 2019 e 2022. Na estratégia de pesquisa foram utilizados os seguintes termos de acordo com os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Travestilidade,Pessoas Transgênero, Saúde Pública. Para realizar o cruzamento entre os termos, a lógica booleana AND e OR foram empregadas com a finalidade de obter o maior número de resultados possíveis.

Estabeleceu-se como critério de inclusão artigos selecionados a partir das bases de dados previstas, utilizando-se os descritores considerados para o estudo; foram incluídos artigos que abordam a temática “Atendimento à população transexual”; nos idioma português, inglês espanhol, disponíveis online na íntegra. Optou-se por excluir artigos de revisão bibliográfica e artigos que não condizem com o tema, ano e idioma de publicação. Por se tratar de um estudo de revisão integrativa, houve dispensa da aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) conforme Resoluções 466/12 e 510/16 do Conselho Nacional de Saúde.

Dessa maneira, a pergunta norteadora do presente estudo é: Quais são os obstáculos enfrentados pela população TT no serviço da Atenção Primária à Saúde (APS)? Quais as possíveis transformações que podem ser realizadas na conduta dos profissionais no atendimento à população adscrita?

RESULTADOS

Foram selecionados 72 artigos nas bases de dados Scielo, BVS e Lilacs, permanecendo após as análises e exclusões, um total de 15 artigos publicados nos idiomas português e espanhol (Quadro 1).

Quadro 1: Artigos selecionado, 2022.

Tabela1: Descrição de artigos incluídos, 2022.

Referências

Título

Objetivo

Metodologia

Resultados

Qingna LV, YanyunZhan- g,YanyanLi, etal(2022)10

Pesquisa sobre a construção de um modelo de gestão de ensino de Enfermagem base- ado em um modelo baseado em pequenos dados e sua aplicação

Construir estrutura de geren- ciamento de ensino em Enfer- magem, onde se desenvolva relação deaprendizagem volta da para a antecipação compor- tamental do aluno, afim de se obter melhores resultados em sua capacitação profissional em Práticas clínicas

Método de amostragem por conveniência-grupo controle

–incluindo 200 estudantes em estágio em hospital no período de agosto 2014 a abril de 2015

Aplicação de um modelo de prática de Enfermagem

holística que otimiza a apli- cação da realidade da carga de trabalho da Enfermagem no contexto multicanal pro- fessor-aluno-plataforma.

Hooke MC, Linder LA(2019)11

Sintomas em crianças que recebem tratamento para- câncer. ParteII: dor, tristeza e a grupamento desintomas

Avaliar dor e tristeza com o objetivo de direcionar pesqui- sas na Área de Enfermagem, na oferta de apoio ao paciente e seus familiares no contexto de enfrentamento do câncer

Revisão sistemática, com foco na avaliação, incidência, correlatos, trajetória e bio marcadores rela- cionados aos sintomas em crian- ças e adolescentes com câncer

Obtenção de parâmetros norteadores para pesquisa no campo de Enfermagem na abrangência do apoioa pacientee família no enfren- tamento do câncer infantil

Withy- combeJC, HaugenM, Zupanec,etal (2019)12

Recomendações de Consenso do Simpósio estado da ciên- cia da disciplina de Enferma- gem do grupo de oncologia infantil:avaliação desintomas durante tratamento de CA

Reconhecer e abordar sofri- mento relacionado ao câncer infantil

Reconhecer e abordar sofrimen- to relacionado ao câncer infantil

Revisão literária da correla- ção entre sintomas comuns e tratamento de crianças com câncer com faixa etária de 6-12 anos

 

Linder LA, Wawrzynski SE. (2018)13

Percepções da equipe

sobre sintomas, abordagens para avaliação entre crianças com câncer

Caracterizar a descrição dos sintomas efetuadas pela equipe de saúde no atendi- mento às crianças em idade escolar acometidas por câncer

Coleta de dados através de questionário demográfico, apli- cados a 22 pacientes pediátricos e seus responsáveis através de 4 sessões com grupos focais

O estudo demonstrou a forma      como a equipe de saúde respondem à avalia- ção primária dos

sintomas de pacientes aco- metidos pelo câncer infantil

Crane S, M Croop J, Lee J, et al (2021) 14

Percepções dos pais sobre ensaios clínicos da fase I de oncologia pediátrica

Compreender a vivência de crianças e suas famílias duran- te aplicação de ensaio clínico pela abordagem de aspectos específicos durante fase 1

de estudo em tratamento do câncer infantil

Estudo fenomenológico, versão do método de Colaizzi aplicados a pais durante ensaio clínico de filhos com câncer

Identificação de pontos a serem reforçados       para melhora das experiências en- tre pacientes e suas famílias, no tocante a coordenação

de cuidados e obtenção de informações que amenizem as dificuldades no decorrer da aplicação do estudo.

Costa V, Lourençatto G, Medeiros T, Anders

J, Souza A. (2014) 15

O diagnóstico precoce

do câncer infantojuvenil: o caminho percorrido pelas famílias

O estudo visa realizar a descri- ção do caminho percorrido pela criança e o adolescente junto com sua família desde o início dos sinais e sintomas do câncer.

Trata-se de entrevista semiestru- tura- da com recurso para coleta de matérias empírico com 10 fa- miliares de crianças e adolescen- tes com câncer, em tratamento quimioterápico.

Um estudo descritivo- explorató- rio, com abordagem qualitativa.

Para contribuir com o cuidado de enfermagem foram envol- vidos em torno de dois a cinco profissionais para cada caso. Com esse cenário evidencia que os profissionais de saúde precisam identificar os sinais do câncer infanto-juvenil, para possibilitar um diagnóstico precoce, com isso um sucesso terapêutico.

Sales C, San- tos G, Santos J, Marcon S. (2017) 16

O impacto do diagnóstico do câncer infantil no ambiente familiar e o cuidado recebido.

Aprender o impacto ocorrido no seio familiar após o diagnóstico de câncer.

Trata-se de um estudo qualitativo tendo como alicerce a fenomeno- logia existencial heideggeriana. Realizado com familiares que estavam vivenciando o cuidar de uma criança com câncer.

O aparecimento do câncer em seus lares remete os pais a uma situação de abandono perante o mundo. A enfer- magem deve ser analisada como um modo de privação decorrente da própria condi- ção mundana do ser humano, cabendo aos profissionais da saúde compreender esses significados, sem pressupos- tos e preconceitos.

Green E, Yuen D, Chasen M, Amernic H, Shabestari O, Brundage M, et al. (2017)

17

Atitudes dos enfermeiros de oncologia em relação ao sistema de avaliação de sinto- mas de Edmonton: resultados de um grande estudo da Cancer Care Ontario.

Examinar as atitudes dos enfermeiros de oncologia e o uso relatado do Edmonton

Symptom Assessment System (ESAS) e determinar se o tempo de experiência de trabalho e

a presença de certificação em oncologia estão associados às suas atitudes e uso relatado.

Estudo exploratório, de méto- dos mistos, empregando um questionário onde enfermeiros de oncologia participaram de um estudo maior em toda a província que pesquisou 960 provedores interdisciplinares em ambientes de cuidados oncológicos.

Os enfermeiros oncológicos são essenciais para forne- cer cuidados centrados na pessoa de alta qualidade.

Admi H,

Eilon- Moshe Y, Ben-Arye E. (2017) 18

A Medicina Complementar e o Papel do Enfermeio Oncológico em um Hospital de Cuidados Agudos: A Diferença entre Atitudes e Prática.

Descrever conhecimentos de enfermeiros hospitalares em relação à medicina complmentar (MC); comparar o conhecimento e as atitudes dos enfermeiros gerentes aos enfermeiros da equipe com experiência em on- cologia diversificada; e avaliar as atitudes em relação à integração do MC no papel do enfermeiro de oncologia hospitalar, atitudes e práticas.

Estudo descritivo, transversal empregando um questionário onde foi avaliado uma amostra de conveniência de 434 enfermeiros hospitalares com experiencia

em oncologia variada.

Os enfermeiros carecem de conhecimento e desconhecem os riscos associados ao MC.

 

Hasen M, Bhargava R, Dalzell C, Pereira JL. (2016)19

Atitudes de oncologistas em relação aos cuidados paliativos e o Edmonton Symptom Assessment System (ESAS) em um centro de câncer de Ontário no Canadá.

Câncer Care Ontario promove o Sistema de Avaliação de Sin- tomas Edmonton (ESAS) para

triagem sistemática padroniza- da e avaliação de sintomas em centros de câncer em Ontário, Canadá. Atitudes de oncologis- tas médicos (MOs), oncologistas de radiação (ROs) e clínicos gerais em oncologia (GPOs) em relação aos cuidados paliativos.

Foi desenvolvido um questionário de quatro partes, com base em itens de estudos semelhantes onde foram avaliadas as atitudes de oncologistas em relação aos cuidados paliativos e Edmonton Symptom Assessment System (ESAS) em um centro de câncer de Ontário no Canadá.

MOs e GPOs parecem mais positivos do que ROs em relação ao uso regular de ESAS. Há discordância entre o que é percebido como um instrumento útil e benéfico versus o uso real do instrumento na prática diária. As razões para essa lacuna precisam ser mais bem compreendidas em estudos futuros.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022

DISCUSSÃO

Resultados de estudos apontam que um dos fatos tido como barreira para a entrada aos serviços de saúde refere-se a associação dos TT a doença HIV/AIDS, visto que durante a epidemia esse grupo foi fortemente associado à disseminação do vírus, fortalecendo a estigmatização social. Os profissionais fazem distinção durante o atendimento às travestis e transexuais, decidindo calçar luvas após descobrirem, relacionando-as a pessoas com doenças infectocontagiosas.13,28

Novamente a desinformação e a ignorância acerca da população acaba rotulando as pessoas trans, fortalecendo para a desvalorização, desigualdade e abandono da sua saúde. Estudos enfatizam o discurso do "tratar todos iguais" quando questionadas sobre a necessidade de qualificação profissional, visto que a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais de 2008 determina: incluir o tema do enfrentamento às discriminações de gênero, orientação sexual, raça, cor e território nos processos de educação permanente dos gestores, trabalhadores da saúde e integrantes dos Conselhos de Saúde.13,28

Os "estranhamentos" ocorridos no cotidiano dos profissionais com esse público, está diretamente ligado ao afastamento e adoecimento dos TT a respeito dos serviços de saúde, aponta Tagliamento & Baccarim (2020).13

Mantendo essa vertente, Ferreira & Bonan (2021) entrevistaram 32 profissionais que trabalham na Estratégia Saúde da Família (ESF) no estado do Piauí, o estudo revelou que os responsáveis por acolher a população, são os mesmos que oferecem negações, violências, e negligência no cuidado. Um depoimento distorce o princípio de equidade do SUS, revelando.15

Esse relato exemplifica o desvio dos conceitos, chocando-se como princípio de Universalidade, onde todos têm direito e acesso à saúde, entretanto cada um com suas particularidades e necessidades específicas.15

Ferreira & Bonan (2021) apontam a escuta como a chave para o respeito, o reconhecimento das necessidades e dos corpos LGBTQIA+ como usuários ativos. Além do acolher, ouvir, respeitar suas expressões, seus desejos,  identidades e diferenças.15

Um estudo original, descritivo qualitativo realizado nas Clínicas da Família na Zona Oeste do estado do Rio de Janeiro, destacou a importância do serviço público focado a APS que deve ser a porta de entrada do usuário no SUS, e percebeu importantes entraves como: poucos insumos para tratamento, acesso dificultoso devido preconceitos e despreparo dos profissionais durante o acolhimento. Nesse sentido, os autores destacam o preconceito e estigma social, refletindo que as Políticas direcionada ao LGBTQIA+ necessitam ser implementadas de forma mais eficiente dentro das instituições de atenção básica. 23

Estudos afirmam que, além do preconceito vindo dos profissionais, os depoimentos trazem uma percepção de invisibilidade dos próprios usuários onde afirmam se autoexcluírem do sistema devido sentimento de invalidade social e não pertencimento ao SUS. Fortalecendo esse sentimento, o usuário opta muitas vezes por procurar meios não seguros à sua saúde.23,29

Pesquisas afirmam que o direito à saúde para a população TT não está sendo garantida, se contradizendo com as políticas e princípios de saúde SUS que não admite exclusão de qualquer natureza e tem o dever de promover a equidade, é de suma importância o acolhimento dessa população, fruto das desigualdades de um mundo misógino, que relega corpos a desumanidade, podendo ser substituído por uma implementação de promoção de uma vida sem exclusões.27,29

CONCLUSÃO

O preconceito e a discriminação contra o TT ainda são grandes, pois, a identidade de gênero desse grupo é diferente da imposta pelos padrões heteronormativos, o que se traduz em violência e assassinato. A APS é a principal porta de entrada do SUS, conectando toda a rede de Atenção SUS, abrangendo promoção e proteção à saúde, prevenção de doenças, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde. Essa população que ingressa no SUS precisa de um enfoque mais específico sobre como abordar as questões relacionadas à saúde do TT, como o processo de automedicação, sabendo que serão discriminados no serviço. O acesso a APS, por meio do público-alvo da pesquisa é desatualizada, impessoal e preconceituosa, demonstrando assim a necessidade de discussão desse tema. Os profissionais não são treinados e poucos entendem os protocolos já existentes, gerando atendimentos constrangedores para ambos quando eles têm contato com usuários TT.

Verificou-se que ocorre uma rejeição do profissional a essa temática, havendo desconhecimento do nome social, desumanização, falta de abordagem específica, baixa qualificação profissional, ignorância sobre tema e ausência de educação continuada. Para reconhecer as possíveis substituições de conduta profissional no atendimento ao público descrito, a análise do estudo permitiu concluir que deve haver implementação de melhores políticas públicas, informarem de forma efetiva os profissionais sobre essa população e suas necessidades por meio de educação continuada e abordar atos de preconceito.

Com isso, a hipótese levantada, de que o atendimento a pessoas transexuais e travestis na Atenção Primária à Saúde passa por preconceitos se confirma, pois os profissionais fazem distinção durante o atendimento à população TT, decidindo calçar luvas após descobrirem, relacionando-as com pessoas portadoras de doenças infectocontagiosas. Além do preconceito vindo dos profissionais, os depoimentos trazem uma percepção de invisibilidade dos próprios usuários onde afirmam se autoexcluírem do sistema devido sentimento de invalidade social e não pertencimento ao SUS.

Pode-se concluir que implementação de melhor políticas públicas, ouvir mais, respeitar mais, qualificar melhor o acolhimento, informar mais os profissionais sobre essa população e suas necessidades por meio de educação continuada e abordar atos de preconceito e cortar, podem substituir a conduta profissional no atendimento ao público descrito.

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