Liga Acadêmica de Ciências Cannabicas: uma iniciativa para discussão da Cannabis Medicinal

Academic League of Cannabis Sciences: an initiative to discuss Medicinal Cannabis.

Liga Académica de Ciencias del Cannabis: una iniciativa para discutir el Cannabis Medicinal.

AUTORES: 

Guilherme Carneiro Montes -  Orcid:  0000-0003-4946-9056 - Universidade do Estado do Rio de Janeiro /Prof de Farmacologia

Fabrícia Lima Fontes Dantas - Orcid:   0000-0002-5201-0927, Universidade do Estado do Rio de Janeiro /Prof de Farmacologia

Filipe Eloi Alves - Orcid:  0000-0002-9821-8301, Estudante de Iniciação da UERJ e graduando de Biomedicina da UNIGRANRIO

Vitória Macario de Simas Gonçalves- Orcid: 0009-0009-3706-4490 - Bolsista do projeto de extensão LACICAN_UERJ e estudante de do curso de licenciatura de ciências biológicas da UERJ

RESUMO

Após a descoberta do sistema endocanabinoide no final do século XX abriram-se as portas para os estudos a respeito da Cannabis na forma de tratamento medicinal. Desde então inúmeros ensaios clínicos mostraram que a Cannabis é eficaz no tratamento de algumas condições médicas e há uma crescente pressão pública e política para promulgar leis que permitam o seu uso para fins medicinais. Com o intuito de propiciar a divulgação de informações científicas verdadeiras e acessíveis para a sociedade, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro organizou um projeto de extensão universitária intitulada Liga de Ciências Cannábicas (LACICAN). Este artigo tem o objetivo de relatar as ações do projeto de extensão universitária voltadas para a discussão da Cannabis Medicinal. Diferentes materiais informativos, com linguagem acessível foram produzidos e divulgados via redes sociais desde abril de 2022 até o e julho de 2023. Além disso, a LACICAN organizou o seu primeiro ciclo de debates sobre Cannabis Medicinal em 2022 de forma remota, com palestrantes renomados na área. Ao final do evento, os participantes responderam um questionário online a fim de entendermos os conhecimentos teóricos adquiridos. Na nossa principal rede social, o Instagram®, que já tem 32 publicações desde sua criação, com 1699 curtidas e 254 comentários no total. Durante o ciclo de debates, conseguimos reunir mais de 130 inscritos das regiões Sudeste (64 %), Nordeste (31%) e Sul (5%) do Brasil. Interessantemente, 100 % dos participantes, relataram que indicaria o ciclo de debate para alguém em uma próxima edição. Dessa forma, o projeto busca a manutenção do debate entre universidade e a comunidade sobre a Cannabis Medicinal, seu consumo com fins medicinais, legislação e as pesquisas científicas sobre o tema que estão em andamento no Brasil.

Palavras-chave: Cannabis medicinal, Divulgação científica, Redes sociais, Extensão universitária. 

ABSTRACT

After the discovery of the endocannabinoid system at the end of the 20th century, the doors were opened for studies on Cannabis in the form of medicinal treatment. Since then, numerous clinical trials have shown that cannabis is effective in treating some medical conditions and there is growing public and political pressure to enact laws that allow its use for medicinal purposes. To promote the dissemination of true and accessible scientific information to society, the State University of Rio de Janeiro organized a university extension project entitled League of Cannabis Sciences (LACICAN). This article aims to report the actions of the university extension project focused on the discussion of Medicinal Cannabis. Different informative materials, with accessible language, were produced and disseminated via social media from April 2022 to July 2023. In addition, LACICAN organized its first cycle of debates on Medicinal Cannabis in 2022 remotely, with renowned speakers in the area. At the end of the event, participants answered an online questionnaire to understand the theoretical knowledge acquired. On our main social media, Instagram®, which already has 32 publications since its creation, with 1699 likes and 254 comments in total. During the cycle of debates, we were able to gather more than 130 subscribers from the Southeast (64%), Northeast (31%) and South (5%) regions of Brazil. Interestingly, 100% of the participants reported that they would recommend the debate cycle to someone in a future edition. In this way, the project seeks to maintain the debate between the university and the community about Medicinal Cannabis, its consumption for medicinal purposes, legislation, and scientific research on the subject that is in progress in Brazil.

Keywords: Medical Cannabis, Scientific dissemination, social media, University extension.

RESUMEN

Tras el descubrimiento del sistema endocannabinoide a finales del siglo XX, se abrieron las puertas a los estudios sobre el Cannabis en forma de tratamiento medicinal. Desde entonces, numerosos ensayos clínicos han demostrado que el Cannabis es eficaz en el tratamiento de algunas afecciones médicas y existe una creciente presión pública y política para promulgar leyes que permitan su uso con fines medicinales. Con el fin de promover la difusión de información científica veraz y accesible a la sociedad, la Universidad del Estado de Río de Janeiro organizó un proyecto de extensión universitaria denominado Liga de las Ciencias del Cannabis (LACICAN). Este artículo tiene como objetivo relatar las acciones del proyecto de extensión universitaria centrado en la discusión del Cannabis Medicinal. Se produjeron y difundieron a través de las redes sociales diferentes materiales informativos, con lenguaje accesible, desde abril de 2022 hasta julio de 2023. Además, LACICAN organizó su primer ciclo de debates sobre Cannabis Medicinal en 2022 de forma remota, con ponentes de renombre en el área. Al final del evento, los participantes respondieron un cuestionario en línea para comprender los conocimientos teóricos adquiridos. En nuestra principal red social, Instagram®, que ya cuenta con 32 publicaciones desde su creación, con 1699 me gusta y 254 comentarios en total. Durante el ciclo de debates, logramos reunir más de 130 suscriptores de las regiones Sudeste (64%), Nordeste (31%) y Sur (5%) de Brasil. Curiosamente, el 100% de los participantes informaron que recomendarían el ciclo de debate a alguien en una próxima edición. De esta forma, el proyecto busca mantener el debate entre la universidad y la comunidad sobre el Cannabis Medicinal, su consumo con fines medicinales, la legislación y la investigación científica sobre el tema que está en curso en Brasil.

Palabras clave: Cannabis medicinal, Divulgación científica, Redes sociales, Extensión universitaria.

Tipo de artigo: Artigo Original

Recebido: 10/07/2023 Aprovado: 07/08/2023

INTRODUÇÃO

Ao longo de muito tempo, as plantas serviram como fonte principal de alimentação bem como para fins medicinais. Nesse contexto, as plantas do gênero Cannabis já foram relatadas na literatura como algumas das primeiras plantas cultivadas pelo homem para uso de suas fibras para confecção de cordas, tecidos, entre outros usos, desde 4000 a.C. na região da China (KOLB, 2019). Além dos chineses, a Cannabis foi utilizada para fins medicinais por povos tais como egípcios, gregos, indianos os quais usavam também para rituais religiosos. Na África, relatos históricos datados de até 2000 anos atrás, antes do contato europeu, sugerem que a Cannabis tenha sido introduzida na região sul por comerciantes árabes, e logo se espalhado por toda a costa oriental e região tropical. A dispersão em toda a África foi, muito provavelmente, lenta, no entanto, seu uso religioso e medicinal foi mantido e, além, disso, a planta passou a ter novas aplicações terapêuticas (1-3).

No século XVI as sementes da planta chegaram ao Brasil, trazida pelos escravos africanos. No início do século XX, a Cannabis era facilmente encontrada, sob a forma de cigarro, nas farmácias brasileiras. Em meados dos anos 30, era corriqueiramente citada em compêndios médicos e em catálogos de produtos farmacêuticos. Entretanto, nesta mesma década, tem início a repressão de seu uso com a criação da Comissão Nacional Fiscalizadora de Entorpecentes. Em 1938, foi decretada a Lei nº 891 do Governo Federal, proibindo o plantio, cultura, colheita e exploração da planta no Brasil (4).

Na década de 60, o interesse pelo uso de derivados de canabinoides teve um importante crescimento após identificação de um dos fitocanabinoides, o delta-9-tetrahidrocanabidiol (THC). Esta substância é identificada como psicotrópica e está associada aos principais efeitos colaterais do uso, bem como o potencial de abuso e vício devido aos níveis elevados de dopamina. O canabidiol (CBD), um outro fitocanabinoide, foi identificado e isolado da Cannabis. Desprovido de atividade psicotrópica, o canabidiol tem ação anti-inflamatória, antioxidante e neuroprotetora. Embora o THC e CBD sejam fitocanabinoides mais estudados, existem outras moléculas como canabivarim, canabigerol que vem sendo estudados as propriedades farmacológicas (5-7).

A Cannabis está passando rapidamente de uma substância ilícita para uma disponível legalmente e amplamente utilizada para fins medicinais. Em regiões em que a regulamentação do uso já está mais avançada, como é o caso de alguns estados dos EUA, a implementação de programas educacionais abrangentes para pacientes, profissionais de saúde e o público em geral tem sido alvo de grande debate(8). Na ponta do iceberg dos principais desafios tem sido a forma que os usuários de Cannabis medicinal obtém informações, que tem sido predominantemente de suas próprias experiências pessoais e da Internet (KRUGER et al., 2020). Com o intuito de propiciar a divulgação de informações científicas verdadeiras e acessíveis para a sociedade, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro organizou um projeto de extensão universitária intitulada Liga de Ciências Cannábicas (LACICAN). Este artigo tem o objetivo de relatar as ações do projeto de extensão universitária voltadas para a discussão da Cannabis Medicinal.

MÉTODO

Utilizou-se a estratégia descritiva, baseada no relato de experiência com abordagem quantitativa, desenvolvido a partir das vivências de docentes e discentes que participam Liga Acadêmica intitulada “Liga de Ciências Cannábicas- LACICAN”, desenvolvida nas dependências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), localizada no Rio de Janeiro. A LACICAN foi criada no ano de 2022 com o objetivo de desfazer o mito que cerca a Cannabis, divulgar novos estudos, as mudanças na legislação e curiosidades. A LACICAN, possui a contribuição de diversos alunos de diferentes instituições, desde a privada as instituições públicas. Ao todo atualmente a LACICAN conta com o apoio de 14 estudantes, sendo um deles de mestrado, e 2 professores. Os alunos participam ativamente da administração das redes sociais, da pesquisa para a produção de postagens, da ampla divulgação da Liga e da organização de eventos e atividades educacionais.

De acordo com as normas legais e os princípios da bioética, projetos de extensão que possuem vínculo direto com pesquisas que envolvem seres humanos devem ser submetidos à análise para aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos. Neste sentido, a LACICAN não está envolvida com nenhum projeto de pesquisa, e esse artigo foi produzido a partir da análise descritiva das publicações em redes sociais, e anonimização de todos os indivíduos participantes do ciclo de debates. Além disso, de acordo com que dispõe a Lei Geral de Proteção de Dados no art.13.709/2018, os resultados das análises de bancos de dados mantidos em ambiente controlado e seguro, que não contenham dados sensíveis, podem ter dispensa de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

A LACICAN possuí como objetivo principal levar o conhecimento científico para a população de forma simples para que todos, sem nenhuma discriminação, possam entender e expandir o conhecimento a respeito da Cannabis para que, assim, sendo bastante falada e conhecida possa ser desmistificada e tratada como um assunto que merece atenção e investimento para pesquisa. As principais atividades da Liga estão divididas em divulgação científica a através das redes sociais e eventos proporcionados pela Liga. 

No âmbito das redes sociais, a Liga produz materiais informativos em formato de pequenos textos com imagens, interpretação de artigos científicos publicados em revista de renome no formato de vídeos e compartilhamento de informações relevantes de fontes verificadas. A linguagem utilizada é de fácil acesso, sem abandonar o pensamento e rigor científico do meio acadêmico. Todos os materiais produzidos são avaliados pelos docentes participantes da Liga.

A LACICAN foi criada ainda no contexto da pandemia da COVID-19, e com o intuito de promover um debate mais profundo sobre o tema, o projeto organizou no final do ano de 2022 um ciclo de debates no formato completamente online. Pesquisadores de renome na área foram convidados para ministrar uma palestra sobre os mais variados assuntos. O ciclo de debates foi aberto ao público, independente de classe social ou grau de formação acadêmica, o ciclo teve a duração de 3 dias, sendo uma vez por semana. A inscrição foi feita através de um formulário do Google Forms que foi disponibilizado no Instagram da Liga. Os debates foram transmitidos através do Google Meet, a qual está sendo uma plataforma importante pois recebe uma quantidade razoável de indivíduos, conectados, e permite que os ouvintes possam interagir com os palestrantes e com os outros participantes. 

Os convidados foram, respectivamente, Dra. Maria Eline Matheus, M.Sc. Gustavo Mendes Lima Santos e B.Sc. Margarete Brito. Eline é farmacêutica e ministrou a palestra “Fisiologia e farmacologia dos canabinoides”. O Gustavo também é farmacêutico que atuou durante 19 anos na ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil) e ministrou a palestra “Legislação de produtos à base de Cannabis no Brasil”. E, a Margarete é advogada, fundadora e diretora da Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal (APEPI) e ministrou a palestra “Desafios do cultivo de Cannabis no Brasil”. Na primeira noite de palestras foi obtido 39 espectadores; na segunda noite foram 34 ouvintes; já na terceira e última noite somente 23 pessoas participaram.

Após as três noites de ciclo de debates foi disponibilizado um formulário que ficou disponível durante 1 mês para que os participantes respondessem e nós dessem o feedback. Foi obtido 51 respostas dos inscritos no ciclo de debate. Neste novo formulário buscamos a avaliação dos participantes perante as palestras, o novo questionário possuía 7 questões e uma área destinada a crítica, elogios e sugestões. 

RESULTADOS

Durante o primeiro ano de atividade da LACICAN, foram produzidos materiais informativos nas redes sociais Facebook, Instagram, Twitter e TikTok. O perfil @lacican_uerj no Instagram é a principal rede social utilizada e conteúdo já alcançou bastante pessoas. As postagens são divididas nas seguintes categorias: Cannabis de A a Z; Indicação de filme; Você sabia?; e produção de vídeos com informações de artigos científicos. Atualmente temos 408 seguidores, 32 publicações com 1699 curtidas e 254 comentários no total. As métricas do Instagram®, com as impressões de curtidas, comentários e salvos feitos ao decorrer das 32 postagens são apresentadas na Tabela 1. 

Tabela 1 – Métricas do Instagram® entre os períodos 14/04/2022 a 08/07/23 do perfil @lacican_uerj no Instagram®.

Em relação ao primeiro ciclo de debates a Liga reuniu inscritos de grande parte do Brasil, sendo majoritariamente os inscritos do estado do Rio de Janeiro. Na tabela abaixo podemos analisar mais detalhadamente o perfil de cada inscrito, tais como: sexo, região de moradia; nível de escolaridade e caso for profissional a sua área (Tabela 2).

Tabela 2 – Análise do formulário de inscrição do 1º ciclo de debate promovido pela LACICAN

O nível de conhecimento sobre o assunto que a Liga aborda foi avaliado antes e depois das palestras. Nas respostas adquiridas com o formulário de inscrição podemos observar como é pouco, ou nada, falado sobre a Cannabis durante a vida acadêmica do seja durante o ensino básico, a graduação, ou até mesmo a pós-graduação. É notório também uma falta de informação em fontes como jornais, rádios e podcast. O percentual de inscritos que já obteve informações sobre a Cannabis medicinal em alguma disciplina foi somente de 29%. Quando é analisado a porcentagem de participantes que sabem sobre a quantidade de produtos à base de Cannabis que possuem autorização para serem comercializados no Brasil o número é de 9,9% das pessoas tem essa informação

Através do formulário pós debate podemos analisar como o ciclo de debates foi de grande importância para os nossos inscritos pois além de expandir o conhecimento deles a respeito da Cannabis (Tabela 3), mostrando que ela pode ser usada como um ativo farmacêutico de grande potencial, conseguimos mostrar a linha do tempo da e as notícias atuais. Um especial destaque foi relacionado ao debate sobre as inovações atuais a respeito da Cannabis e debatemos sobre a legislação Brasileira e sua atual situação na ANVISA.

Tabela 3 – Análise do formulário pós-ciclo de debate promovido pela LACICAN

DISCUSSÃO

Com a pandemia de Covid-19 todo o mundo teve que se reinventar na sua forma de comunicação já que tivemos que ficar confinados em casa para nossa própria proteção, mas para além de se reinventar tivemos que nos acostumar. As chamadas de vídeo e aulas online já existiam antes da pandemia, então coube a todos nós, até mesmo quem não tinha muita habilidade com a tecnologia, trazermos tudo isso para o nosso dia a dia pois estávamos todos confinados, mas nossas vidas tinham que seguir de alguma forma. Desta forma nasceram as inúmeras palestras, mesas-redondas, debates, congresso, e a divulgação científica foi cada vez mais disseminada de forma online. 

O Instagram® é a principal rede social utilizada para a divulgação científica da LACICA, pelo fato de ter como base aspectos mais visuais e possibilidade de manter uma porta de discussão sempre aberta. A compreensão sobre a Cannabis medicinal é geralmente modesta entre o público em geral e entre os usuários (KRUGER et al., 2020). As mídias sociais viraram um grande aliado como um mecanismo para compartilhar informações sobre a Cannabis, incluindo links para sites informativos e reportagens da mídia (9). No entanto, ainda permanece um grande desafio em relação da utilização de fontes de confiança. Em nossas publicações, temos a preocupação de verificar todas as informações e não deixar o conteúdo extenso, cansativo e/ou pouco atrativo para quem tenha interesse de acessar. Conforme observado em alguns comentários, os interessados parecem ser estudantes ou profissionais da área da saúde.

É de grande relevância usar as redes sociais como instrumento de divulgação da informação científica, pois por ser fácil de usar e de alto potencial de acesso, poderemos diminuir a disseminação de informações errôneas e opiniões pré-concebidas. De acordo com o Professor e Filósofo brasileiro Paulo Freire “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas mudam o mundo.”. Para além das redes sociais, os debates também ajudaram a expandir os conhecimentos dos participantes da LACICAN e serviu para nos mostrar o que sabíamos, como a falta de conhecimento e informação a respeito do assunto é grande em qualquer nível acadêmico. Acima de tudo ficou claro como nosso trabalho através da divulgação cientifica é de grande importância.  

É importante destacar que em todas as etapas de execução do projeto, inclusive na organização do ciclo de debates, os alunos foram os protagonistas com a contribuição de ideias para a elaboração das atividades e conteúdo. Buscamos que os debates e os futuros eventos organizados por nós possam expandir os conhecimentos, certezas e opiniões dos nossos ouvintes e estamos pesquisando novas formas de fazer isso, não somente com o nosso Instagram e os eventos, mas também com a inserção desse assunto em outras esferas da sociedade. Futuramente, junto a APEPI, levaremos palestras e bate-papos para dentro das escolas para que os alunos da educação básica também tenham a oportunidade de ser inserido no assunto pois é importante que ele seja introduzido em todos os níveis acadêmicos, desde o ensino básico à pós-graduação. As palestras serão inseridas através das feiras de ciências, evento muito comum em grande parte das escolas brasileiras, falaremos brevemente da história da planta e enfatizaremos todas as formas medicinais de uso mostrando todo o potencial da planta. O ciclo de debates nos proporcionou essa oportunidade incrível de poder fazer uma parceria com a APEPI (Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal) através da Margarete Brito, participou do ciclo de debates. 

Nesta nuvem de palavras formada a partir de palavras deixadas pelos espectadores podemos ter uma noção de como os ouvintes se sentiram em relação as palestras. A LACICAN, organizou tudo para que além de atrativo as palestras somassem na vida dos inscritos e essas palavras são imensamente agregadoras para os próximos eventos.

Figura 1 Elogios deixados pelos inscritos sobre o ciclo de debates

Com a vida online sendo cada vez mais “normalizada”, fortemente pós-Pandemia juntamente à sua imensa praticidade foi observado como as palestras no formato remoto abrange uma diversidade enorme de estudantes de todas as partes do país e até mesmo do mundo, já que a Internet não possui fronteiras e tampouco limitações. Juntamente a diversidade cultural tem também a diversidade de escolaridade, conhecimento e saberes. Ao redor do mundo existe diversas opiniões divergente sobre a Cannabis, desde a crença de que é uma planta que une o indivíduo com uma parte espiritual superior e até mesmo a sua ancestralidade ou crer que a Cannabis é uma planta que se enquadra o nicho das drogas, que causa dependência podendo mais fatalmente acarretar a morte.

Quando paramos para analisar o Brasil como um todo temos todas essas opiniões juntas em um só país, podendo ser até em um mesmo estado ou família. Temos grupos que são fortemente a favor da legalização do Estado sobre a planta, não só para o uso medicinal, mas também para o seu uso recreativo. Também tem grupos que são totalmente contra a legalização e concordam com a condenação da planta pois a muito tempo é semeado na população a “demonização” da planta com o argumento da dependência e posteriormente a morte. Já os grupos a favor da legalização, como foi citado, é a favor da desmistificação baseado tanto em estudos científico já publicados onde mostra os diversos benefícios de vários fitocanabinoides componentes da planta Cannabis, tal qual os benefícios no tratamento da epilepsia, insônia e até mesmo TEA (Transtorno do Espectro Autista), quanto na análise profunda onde é estudado a relação da criminalização das drogas com o alto índice de diversos tipos de violência com a população das classes sociais mais pobres, em especial o extermínio e o encarceramento em massa da população negra (RYBKA; NASCIMENTO; GUZZO, 2018). 

Nesse modelo remoto é muito interessante observar o encontro dessas opiniões tão diversas e polarizadas, e ver as pessoas reavaliando suas opiniões e certezas. Novamente, foi visto como o modelo online é importante, sem negar a importância do presencial, mas é incomparável como o remoto une todas as pessoas de uma forma muito mais fácil, simples e acessível. Essa união se faz muito importante principalmente para uma divulgação bem ampla do conhecimento que está sendo compartilhado, no caso da Liga se faz extremamente importante para a desmistificação e um maior conhecimento a respeito da Cannabis. Fazer esse conhecimento chegar a diferentes áreas do país é completamente enriquecedor para a sociedade. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Portanto, é evidente como as redes sociais e palestras online se fizeram ferramenta de grande ajuda quando o mundo se viu confinado em decorrência da pandemia de Covid-19. Descobrimos também que ainda se faz muito necessário um maior investimento em divulgação científica, para que assim a sociedade tenha acesso às pesquisas que estão em andamento no Brasil.

Podemos então concluir como a criação não somente de palestras, ciclos de debates, mas também de projetos de extensão universitária se faz importante em uma sociedade que se tem tão pouco conhecimento sobre um determinado assunto. É sempre agregador que a sociedade seja integrada e esteja ciente do que vem sendo descoberto e estudado no âmbito universitário.  A LACICAN continua sempre buscando inserir o cidadão na ciência e busca sempre expandir seus conhecimentos, tudo isso de forma fácil e acessível. 

*Colaboradores no projeto e coautores do LACICAN

Alexandra Eliza Fajardo- Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Ana Clara de Oliveira Faria- Unigranrio-Afya University

Bismarck Rezende- Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Bruna Piseto- Unigranrio-Afya University

Izabele da Conceição Sales- Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Letícia Bottino-Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Lilith Antoniely Lima Porto- Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Lorenna Moreira Santos- Unigranrio-Afya University

Luana Guzman Lugones Cardoso- Unigranrio-Afya University

Lucas Miranda Veiga- Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Raiane Katlin da costa Pires- Unigranrio-Afya University

Tainá Barbalho dos Santos Bernardes da Conceição- Unigranrio-Afya University

AGRADECIMENTOS

Nós da LACICAN agradecemos principalmente ao Departamento de extensão da Universidade do Estado do Rio de Janeiro por ter permitido e destinado recursos para a criação de uma Liga para falar a respeito de Cannabis Medicinal e assim inserir este conhecimento na sociedade. Gostaríamos de agradecer ASSOCIAÇÃO DE APOIO À PESQUISA E PACIENTES DE CANNABIS MEDICINAL (APEPI) pelo incentivo e contribuição sobre as discussões da cannabis medicinal 

REFERÊNCIAS

  1. Touw M. The religious and medicinal uses of Cannabis in China, India and Tibet. J Psychoactive Drugs. 1981;13(1):23-34.
  2. Leal-Galicia P, Betancourt D, Gonzalez-Gonzalez A, Romo-Parra H. [A brief history of marijuana in the western world]. Rev Neurol. 2018;67(4):133-40.
  3. Crocq MA. History of cannabis and the endocannabinoid systemDialogues Clin Neurosci. 2020;22(3):223-8.
  4. Carlini EA. A história da maconha no Brasil. Jornal Brasileiro de Psiquiatria 2006;55:314-7.
  5. Abrams DI, Guzman M. Cannabis in cancer care. Clin Pharmacol Ther. 2015;97(6):575-86.
  6. Mallick-Searle T, St Marie B. Cannabinoids in Pain Treatment: An Overview. Pain Manag Nurs. 2019;20(2):107-12.
  7. Porter BE, Jacobson C. Report of a parent survey of cannabidiol-enriched cannabis use in pediatric treatment-resistant epilepsy. Epilepsy Behav. 2013;29(3):574-7.
  8. Terry AL, Stewart M, Fortin M, Wong ST, Kennedy M, Burge F, et al. Gaps in primary healthcare electronic medical record research and knowledge: findings of a pan-Canadian study. Healthc Policy. 2014;10(1):46-59.
  9. Dakkak H, Brown R, Twynstra J, Charbonneau K, Seabrook JA. The perception of pre- and post-natal marijuana exposure on health outcomes: A content analysis of Twitter messages. J Neonatal Perinatal Med. 2018;11(4):409-15.