CONHECIMENTO DE ADOLESCENTES SOBRE A DOAÇÃO DE SANGUE 

TEENAGERS' KNOWLEDGE ABOUT BLOOD DONATION

CONOCIMIENTOS DE LOS ADOLESCENTES SOBRE LA DONACIÓN DE SANGRE

Autores:

Gabriel David Nogueira: Graduando de enfermagem na  Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Orcid: https://orcid.org/0009-0002-6301-5472

Elias Marcelino da Rocha: Enfermeiro, Mestre e  Docente Adjunto na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0086-8286

Daniel Ferreira de Oliveira: Biólogo. Mestre. Docente na Secretaria de Estado de Educação - Mato Grosso. Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Orcid: https://orcid.org/0009-0008-3399-0158

Aline Aparecida Rodrigues: Graduanda de enfermagem na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Orcid: 0000-0002-6886-5022

Cássio Soares Ribeiro: Licenciado em Matemática, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Orcid: https://orcid.org/0009-0007-6114-0719

Ellen Gabriela Gomes - Graduanda em Enfermagem; Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Orcid: https://orcid.org/0009-0007-7269-0951

RESUMO  

Objetivou-se conhecer e avaliar o perfil de adolescentes do ensino médio sobre a doação sangue. Trata-se de um estudo transversal, com abordagem quantitativa, realizado em uma instituição de educação pública localizada em município no interior de Mato Grosso, na Amazônia Brasileira. Participaram da pesquisa 114 adolescentes com idade entre 15 e 19 anos. A coleta aconteceu em 2023 por meio de um questionário. A análise estatística foi feita no programa EpiInfo. A maioria dos adolescentes era do sexo feminino (57,9%); a prevalência de idade foi de 17 anos; sendo que somente 8 desses já fizeram a doação de sangue. O principal motivo citado para a falta de interesse pela doação foi a escassez de incentivo (69%), medo de passar mal durante a doação, além dos mitos e tabus perpetrado culturalmente. Em relação ao conhecimento, de forma geral, os resultados mostraram lacunas entre os adolescentes sob vários aspectos relacionados ao processo de doação de sangue, sendo a falta apoio dos responsáveis legais, estilo de vida estressante, correria do dia a dia, divergência de interesse entre os pais e os adolescentes. Percebe-se a necessidade de trazer a abordagem dessa temática para as instituições de ensino, a fim de instigar a solidariedade sobre o assunto.  

DESCRITORES: Doadores de Sangue; Conhecimento; Adolescentes.   

ABSTRACT

The objective was to understand and evaluate the profile of high school adolescents regarding blood donation. This is a cross-sectional study, with a quantitative approach, carried out in a public education institution located in a municipality in the interior of Mato Grosso, in the Brazilian Amazon. 114 teenagers aged between 15 and 19 participated in the research. Collection took place in 2023 through a questionnaire. Statistical analysis was performed using the EpiInfo program. The majority of adolescents were female (57.9%); the age prevalence was 17 years; only 8 of these have already donated blood. The main reason cited for the lack of interest in donating was the lack of incentive (69%), fear of getting sick during the donation, in addition to culturally perpetrated myths and taboos. Regarding knowledge, in general, the results showed gaps among adolescents in several aspects related to the blood donation process, such as lack of support from legal guardians, stressful lifestyle, day-to-day rush, divergence of interest between parents and teenagers. There is a perceived need to bring this topic to educational institutions, in order to instigate solidarity on the subject.

DESCRIPTORS: Blood Donors; Knowledge; Teenagers.

RESUMEN

El objetivo fue comprender y evaluar el perfil de los adolescentes de secundaria respecto a la donación de sangre. Se trata de un estudio transversal, con enfoque cuantitativo, realizado en una institución de educación pública ubicada en un municipio del interior de Mato Grosso, en la Amazonía brasileña. En la investigación participaron 114 adolescentes de entre 15 y 19 años. La recogida se realizó en 2023 mediante un cuestionario. El análisis estadístico se realizó mediante el programa EpiInfo. La mayoría de los adolescentes eran mujeres (57,9%); la prevalencia de edad fue de 17 años; sólo 8 de ellos ya han donado sangre. La principal razón citada para la falta de interés en donar fue la falta de incentivo (69%), el miedo a enfermarse durante la donación, además de mitos y tabúes perpetrados culturalmente. En cuanto al conocimiento, en general, los resultados mostraron lagunas entre los adolescentes en varios aspectos relacionados al proceso de donación de sangre, como falta de apoyo de los tutores legales, estilo de vida estresante, prisas del día a día, divergencia de intereses entre padres y adolescentes. Se percibe la necesidad de llevar este tema a las instituciones educativas para instigar la solidaridad al respecto.

DESCRIPTORES: Donantes de Sangre; Conocimiento; Adolescentes.

Tipo de artigo: Artigo Quantitativo

Recebido:25/06/2024 Aprovado: 25/07/2024

INTRODUÇÃO   

A ciência avançou exorbitantemente nos últimos tempos e fez várias descobertas na área da saúde, porém quando uma pessoa precisa de uma transfusão sanguínea, ela só pode contar com a solidariedade de outras pessoas1.  É essencial a sensibilização na população, porém o medo devido a mitos está a mais tempo enraizado e só serão vencidos através da educação, não, e tão somente, a educação realizada por profissionais de saúde em ambientes escolares, mas principalmente, a educação, realizadas por profissionais de educação, que em sua práxis profissional, promovam a cultura da doação de sangue2.  

No Brasil, não há dados disponíveis sobre quantas pessoas morrem ou sofrem algum tipo de dano à sua saúde devido à falta de doação de sangue. Estima-se que, a cada mil habitantes 16 são doadores de sangue no país. O percentual corresponde a 1,6% da população brasileira, e está dentro dos parâmetros preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que recomenda que 1 a 3% da população seja doadora3. No entanto, estima-se que no Brasil necessita, diariamente, mais de 5.000 bolsas de sangue e, para suprir essa demanda, precisa de um número muito maior de doadores4.  

Desde 2011, o Ministério da Saúde no Brasil, reduziu a idade mínima necessária para se candidatar à doação de sangue, passando a incluir adolescentes de 16 e 17 anos, desde que com consentimento formal do responsável legal para cada doação5. Os profissionais da saúde e da educação devem levar em consideração as mudanças biológicas que ocorre na adolescência e incentivar atitudes que poderão contribuir com a fidelização de doadores de sangue ainda na nessa fase.   

A escola é um espaço destinado a formação socioeducacional capaz de contribuir significativamente na formação dos sujeitos, de modo pleno, integral e saudável6. Neste sentindo, pode-se afirmar, que a sensibilização para fidelização de doadores de sangue na fase da adolescência, poderá ter um peso maior no futuro, pois é nesta etapa que o comportamento e maturidade como indivíduo está em formação social. Ressalta-se que a escolaridade e conhecimento tem grande contribuição no perfil de doadores de sangue, e para a captação de novos doadores sanguíneo, é preciso levar informações de forma estratégica que  promova a sensibilização na população de adolescentes.    

Portaria n° 1.353 do Ministério da Saúde adota algumas definições para esclarecer as diferenças entre os tipos de doadores e doações5. A doação pode ser: Doação autóloga/autodoação: doação do próprio paciente para seu uso exclusivo, principalmente em caso de cirurgia previamente agendada; Doação de reposição: quando a doação é advinda do indivíduo que doa para atender à necessidade de um paciente, feitas por pessoas motivadas pelo próprio serviço, família ou amigo dos receptores de sangue para repor o estoque do serviço de hemoterapia; Doação espontânea: quando é realizada por pessoas motivadas decorrente de um ato de altruísmo7   

Diante desta contextualização, como estudante de enfermagem, senti-me instigado em desvendar o universo da solidariedade da doação de sangue, bem como os mitos e tabus que distanciam as pessoas do hemocentro. A iniciativa de desbravar a doação de sangue entre adolescentes, pairava dia e noite pensando em estratégias para captação de doadores, frente a constante baixa no estoque do hemocentro e das intensas campanhas veiculada pelas mídias locais.  Neste cenário, objetivou-se em conhecer e avaliar o perfil de estudantes do ensino médio, bem como os possíveis entraves que dificultam a doação de sangue entre adolescentes.  

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal, exploratório, descritivo com abordagem quantitativa, entre estudantes cursando o ensino médio em uma escola do setor central, localizada em uma cidade no interior de Mato Grosso, na região centro-oeste do Brasil.  Todos os estudantes estavam devidamente matriculados e levaram o termo de livre consentimento livre e esclarecido para os pais ou responsável autorizar a participação na pesquisa.  

Buscou-se o embasamento metodológico da pesquisa-ação, pois, ela está voltada para a sensibilização dos estudantes por meio da educação em saúde, que facilita o desenvolvimento dos alunos, tornando-o agente de sua própria transformação por meio da solidariedade manifestada pela doação de sangue. A pesquisa-ação facilita o envolvimento do pesquisador na prática participativa com os pesquisados, através da observação participante e da interação estabelecida entre a população envolvida8.   

A coleta de dados foi devidamente autorizada pela direção da escola e foi coordenada por um Docente da Universidade Federal do Mato Grosso e responsável do projeto de extensão “Doe sangue, doe vida!” e auxiliado pelos estudantes de enfermagem, bem como por um professor de Biologia que atuava na escola. Após conhecer a população pesquisada, a equipe do projeto DOE SANGUE DOE VIDA reuniu com todos os estudantes do ensino médio para vivenciar o momento de interação e sensibilizá-los, a fim de que os mesmos sejam doadores voluntários de sangue por meio da educação transformadora.   

Como critério, foram incluídos no estudo adolescente de ambos os gêneros, com idade entre 15 e 18 anos. Foi aplicado um questionário descritivo e com objetivo de avaliar o conhecimento dos estudantes sobre doação de sangue. A coleta de dados foi realizada em sala de aula, com 114 estudantes no segundo semestre de 2023, por meio da aplicação de um questionário semiestruturado contendo questões objetivas, que abordavam sobre doação de sangue.   

Após a coleta de dados, os questionários foram organizados, numerados e tabulados no software Epi Info, em sua versão 3.5.1. A análise ocorreu de forma descritiva e os resultados estão apresentados em tabelas. Tendo aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Mato Grosso, sob número CAAE: 65604317.2.0000.5587 e protocolo nº 2.062.048, respeitando a Resolução nº466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).  

RESULTADOS E DISCUSSÃO  

Nesta etapa serão apresentados os principais resultados do estudo realizados com adolescentes.   

Tabela 1. Distribuição do perfil sociodemográfico dos adolescentes que participaram da pesquisa, Mato Grosso, Brasil (n=114) 2024.  

Variáveis   

n  

%  

Aspectos sociodemográficos  

Sexo  

  

  

Masculino  

48  

42,1%  

Feminino  

66  

57,9%  

Idade  

  

  

15   

16  

14,0%  

16  

32  

28,1%  

17  

50  

43,9%  

18  

11  

9,6%  

19   

5  

4,4%  

  

Ano escolar   

Primeiro  

32  

28,1%  

Segundo  

47  

41,2%  

Terceiro   

35  

30,7%  

Fonte: Nogueira G D, 2024  

A pesquisa deu-se com uma amostra de 114 estudantes do ensino médio, sendo que a prevalência de idade foi de 17 anos (43,9%) e (57,9%) pertencente ao gênero feminino, 87% são solteiros, sendo que somente oito (8) destes já fizeram doação de sangue. Estudo realizado em 2015 sobre potenciais doadores de sangue em campanha de sensibilização e captação, em Sergipe, mostraram que 65,2% eram femininos9.  

Neste contexto, outro estudo com 331 estudantes do ensino médio sobre Intenção da doação de sangue em escolas de Uberaba/MG, com idade de 15 a 18 anos, sendo que 72,21% tinham entre 16 e 17 anos, fase da adolescência que permite da doação de sangue10. Todavia, quando questionados, se já realizou a doação, demonstraram que apenas 3,6% dos pesquisados realizaram doação de sangue, no entanto, ao final das ações extensionistas, foi possível identificar que 84,6% demonstraram interessem em se tornarem doadores. Devido aos mitos e tabus, há um abismo entre a intenção em ser doador e a prática de solidariedade em salvar vidas através da doação de sangue.  

Tabela 2. Fatores que determinam a doação de sangue, região centro-oeste, Mato Grosso, Brasil,  (n=114) 2024.  

Variáveis   

n

%  

 

As informações sanam as dúvidas?  

  

  

Sim  

30  

26,3%  

Não  

84  

73,7%  

Pessoas entre 16 e 17 anos podem doar sangue?  

  

  

Sim   

63  

55,3%  

Não 

18  

15,8%  

Não sei  

33  

28,9%  

Já foi incentivado a doar sangue

Sim  

35  

31%  

Não  

79  

69%  

 

Possui parentes que doam sangue 

  

  

Sim  

44  

38,6%  

Não  

70  

61,4%  

Sabe onde é o banco de sangue?

  

  

Sim   

31  

27,2%  

Não 

83  

72,8%  

Mulher menstruada pode doar sangue

Sim  

36  

31,6%  

Não  

18  

15,8%  

Não sabe

            60

              52,6%

Tem projeto de lei sobre isenção da taxa de inscrição no ENEM

  

  

Sim  

5  

4,4%  

Não  

109  

95,6%  

Fonte: Nogueira G D, 2024  

   
     

Da população pesquisada, 28,9% responderam não saber se adolescentes de 16 e 17 anos podem ser doadores de sangue e 73,7% responderam que as informações transmitidas para a população, não sanam as dúvidas sobre a doação de sangue. Para que a captação de novos doadores ou de futuros doadores seja possível, os serviços de hemoterapia devem procurar diversificar estratégias para aumentar a adesão, recorrendo, entre outras ideias, a programas nas escolas, visto que o ambiente escolar é o contexto ideal para que práticas promotoras de conhecimento sejam desenvolvidas11.   

Essas barreiras só serão vencidas através da educação, não, e tão somente, a educação realizada por profissionais de saúde em ambientes escolares, mas principalmente, a educação, realizadas por profissionais de educação, que em sua práxis profissional, promovam a doação de sangue2

Da amostra, 72,8% responderam não saber onde fica o banco de sangue, a vista disso, 69% disseram que nunca foram incentivados a serem doadores de sangue, destaca-se que 61,4% alegaram que não possui parentes que doam sangue. Em relação a promoção da doação voluntária na arte de captar doadores de sangue na realidade brasileira não é algo fácil, nem mesmo simples. O propósito de captar, é tornar esse hábito da doação voluntária parte dos costumes, da agenda de vida dos brasileiros e transmitido de geração em geração, tal como ocorre nos países de primeiro mundo12.   

Até a década de 90 o principal incentivo para doação de sangue se dava pelo recebimento em dinheiro, no entanto com o passar do tempo no Brasil esse pensamento foi sendo modificado, alterando assim, a motivação em dinheiro por solidariedade e humanização, sem envolver nenhuma remuneração no processo13.  

A primeira Lei Federal que traz incentivo para a doação de sangue foi a Lei n.º 1.075, (1950), na qual é incentivado a doação voluntária de sangue, tendo como benefício ao trabalhador público, civil, de serviço de autarquia ou militar, o direito a ser dispensado do trabalho no dia da doação14. Neste sentido, o processo de decisão em ser um doador potencial de sangue poderá estar associado as questões culturais, sendo um processo individual, podendo ser incentivado pelos pais, amigos e professores15.  

Do questionário, 52,6% responderam não saber se mulheres no período de menstruação pode doar sangue. Pesquisa realizada com 82 estudantes de enfermagem do Campus Universitário do Araguaia, encontrou-se resultado semelhante que 61% não sabem se a mulher menstruada pode doar sangue16.  

Enfatiza-se que a mulher menstruada poderá doar sangue normalmente no período menstrual, exceto se estiver com sintomas de tensão pré-menstrual, hematócrito abaixo do valor preconizado pelo Ministério da Saúde, bem como que após a doação de sangue não diminuirá o fluxo de sangramento. De acordo com a RDC de nº 153 de 2004, a menstruação não contraindica a doação de sangue, porém, se a mulher apresentar doenças relacionadas à menstruação, ela deve ser avaliada pelo médico do hemocentro e em caso necessário, ele poderá encaminhá-la para um hematologista16.   

 Neste estudo evidenciou-se que 95,6% disseram que desconhecem o projeto de Lei que luta pela isenção na taxa de inscrição do ENEM, proposta como incentivo para adolescentes de escola pública. O Brasil traz iniciativas para jovens doadores de sangue, destacando-se que alguns estados têm leis no qual traz isenções de 100 a 50% de benefícios na entrada em alguns ambientes, e no Maranhão os doadores de sangue regulares tem o direito a meia-entrada em eventos culturais, esportivos e de lazer, realizados em locais públicos17, conforme à Lei 9.496.   

Tabela 3. Mitos e tabus sobre doação de sangue, região centro-oeste, Mato Grosso, Brasil,  (n=114) 2024.  

Mitos e tabus  

SIM  

NÃO  

  

n  

%  

n  

%  

Medo de agulha  

27  

23,7%  

87  

76,3%  

Medo de passar mal  

22  

19,3%  

92  

80,7%  

Medo de afinar o sangue  

10  

8,7%  

104  

91,3%  

Contrair doenças  

7  

6,1%  

107  

93,9%  

Fonte: Nogueira G D, 2024  

Dos entrevistados, 23,7% responderam ter medo de agulhas, o que é uma problemática já que a única forma de ocorrer a retirada do sangue do doador. Já em relação ao medo de sentir dor durante o procedimento 31,7% concordam totalmente e 48,5% concordam parcialmente18. Há, portanto, a necessidade de eliminar os mitos em volta da doação de sangue e muitas pessoas escolhem não doar por acreditarem nestes19.   

Nesta pesquisa evidenciou-se ainda que, 19,3% responderam ter medo de passar mal. Neste contexto a pesquisa no Estado do Pará, com 52.932 doadores20, foram identificadas 254 reações, representando um total de 0,4%, sendo: Lipotimia, palidez cutânea, desmaio, convulsão, náusea, vomito, hipotensão e hematoma. Destaca-se que entre os cuidados de enfermagem intrinsecamente relacionado a baixa incidência de reações adversas é a permanência do doador jovem e/ou doador de primeira vez na poltrona de doação, por 15 minutos após a finalização da coleta.  

Complementando este assunto, um estudo publicado em 2011, ressaltou que 30,7% de 232 da sua amostra estudada no município de Quixadá no estado do Ceará, citaram o medo como motivo para a não doação, confirmando os tabus existentes no processo de doação sanguínea, mesmo em se tratando de estudantes da área da saúde21.   

Contribuindo neste cenário, destaca-se que organismo humano tem condições de recuperar naturalmente o volume de sangue doado, facultando-lhe uma nova doação dentro do intervalo de tempo protocolado5. O volume de sangue coletado é baseado no peso e na altura do doador, sendo em média de 8mL/Kg, sendo coletado aproximadamente 450 ml, compatível com a quantidade de anticoagulante existente na bolsa. Além disso, o organismo repõe todo o volume líquido de sangue doado nas primeiras 24 horas após a doação e em média de 72 horas os outros elementos (sais, proteínas, vitaminas) principalmente quando o doador estiver bem hidratado e alimentado, podendo chegar a 4 semanas para reposição de ferro22.  

Dos entrevistados, 8,7% acreditam que a doação de sangue pode afinar o sangue e bem como 34,2% mencionaram que há alteração no organismo após a doação. Fator que está aliado à falta de conhecimento, sensibilização e conscientização da população, estão os mitos que envolvem a doação. Um deles sugere que o sangue do doador irá “afinar” após a doação, indicando o surgimento de um possível problema de saúde23. A reposição do sangue doado é suprida pela medula óssea, por tanto se o organismo estiver saudável, ela liberará a quantidade de células sanguíneas suficientes para repor o que foi doado23.  

Entre os entrevistados, 6,1% acreditam que há perigos em contrair doenças na doação sanguínea. De acordo com a RDC N° 34, DE 11 DE JUNHO DE 2014  que dispõe sobre as boas práticas no ciclo do sangue exige que todos os materiais e insumos que entram diretamente em contato com o doador são estéreis, apirogênico e descartáveis24.  Acrescenta-se que para auxiliar na promoção do acolhimento da doação de sangue, primeiramente quando o candidato adentra na sala de coleta deve lavar abundantemente a fossa braquial, para evitar qualquer tipo de contaminação.   

Sabe-se que a doação de sangue enfrenta muitas barreiras, sendo a falta de conhecimento da população uma das principais. Além disso, existem mitos que influenciam na decisão de doar ou não, dessa forma pode-se exemplificar como: engrossar ou afinar o sangue, engordar ou emagrecer, e principalmente o maior fator é o medo: medo da dor, da picada da agulha, passar mal, de ser obrigado a doar sempre, ou até mesmo de contrair alguma infecção25.   

O entendimento sobre o passar mal durante a doação ou após, poderá estar diretamente relacionado com informações insuficientes ou até mesmo devido ao entendimento e comportamento das recomendações básicas para a doação de sangue. Entre os desconfortos mais comuns relatado e encontrado na literatura no momento da doação, estão: tontura, desmaio, boca seca, náuseas, vômitos, visão turma, sensação de fraqueza, palidez e hipotensão arterial; após a doação alguns desses sintomas poderão permanecer ou tendo a possibilidade hematoma ou dor no local da punção venosa.   

A cultura brasileira tem se mostrado adversa à doação voluntária, habitual e espontânea de sangue em decorrência de mitos, preconceitos e tabus socialmente arraigados, contexto sociocultural resultante de inúmeros e interligados fatores que permeiam a evolução da política de sangue e sua implementação no país1.  

Desse modo, se faz necessário difundir o conhecimento à população para que, ela se torne ciente da realidade com relação à doação sanguínea, para que essas falsas informações, que acabam sendo disseminadas entre a população, deixem de interferir na vontade e iniciativa de doar sangue13.

Tabela 4.  Conhecimento de adolescentes sobre doação de sangue. Região centro-oeste, Mato Grosso, Brasil,  (n=114) 2024.  

Conhecimento geral  

SIM  

NÃO  

  

n  

%  

n  

%  

Nunca me interessei pelo assunto   

26  

22,8%  

88  

77,2%  

Salvar vidas   

106  

93%  

8  

7%  

Fonte: Nogueira G D, 2024  

Nesta pesquisa com adolescentes, identificou-se que 72,2% mencionaram nunca ter tido interesse no assunto, mas 93% afirmaram reconhecer a importância da doação de sangue em salvar vidas. Assim, se faz necessário planejar e desenvolver atividades pedagógicas que estimule a população a refletir, a adquirir conhecimentos e informações que minimizem os medos, dúvidas e inseguranças em doar sangue, e fortaleçam o desejo consciente de participar ativamente12.  

Pode-se afirmar que a falta pelo interesse sobre a doação de sangue é relevante, mas a população estudada apresentou ter reconhecimento que a doação de sangue salva vidas. Mais que o desejo de ajuda humanística, as pessoas estão expressando consciência de dever cívico, senso de corresponsabilidade pela saúde coletiva. Podemos considerar, portanto, que o conhecimento preponderante acerca da importância da doação de sangue habitual reside na garantia de “salvar vidas”1.   

CONSIDERAÇÕES FINAIS   

Conclui-se que há um porcentual baixo de doadores na amostra de adolescentes pesquisada. Mesmo tendo sido implantada há mais de 10 anos a lei que permite adolescentes entre 16 e 17 anos a doar sangue, os dados apresentam baixa iniciativa destes, bem como elementos que afastam ou distanciam os mesmos do hemocentro.  

Considera-se que a falta de informação eficaz, medo, mitos e tabus foram os principais achados na pesquisa que interfere na adesão dos adolescentes na doação sanguínea. Diante deste contexto, os resultados despertam a necessidade de estratégias para levar o conhecimento transformador, por conseguinte sensibilizar adolescentes para a contribuição com o abastecimento dos estoques dos bancos de sangue.   

Destaca-se ainda, como entrave na adesão de pessoas entre 16 e 17 anos, a falta de interesse, incentivo e apoio dos responsáveis legais. Todavia, para as pessoas menores de 18 anos, doarem sangue precisa ter o termo de consentimento assinado por pai, mãe ou responsável legal, e ainda presença dos mesmos. Diante do estilo de vida estressante, correria do dia a dia, divergência de interesse e falta de afeto, muitas famílias não conseguem ser um bom exemplo de cidadania para os filhos, pois não tem tempo para expressar amor ao próximo por meio da doação de sangue.  

Frente aos dados evidenciados, os profissionais de saúde e da educação necessitam estabelecer condutas permanente sobre a cultura da doação de sangue para criar futuramente doadores de sangue fidelizados. É preciso levar conteúdo que sensibilize e implante conceitos na sociedade que envolvem a solidariedade da doação do sangue, e assim criar conhecimento em prol de dissipar mitos e tabus que impossibilitam a captação de doadores.   

Salienta-se que o desconhecimento, falta de incentivo e divulgação consistente sobre doação de sangue é um fenômeno transgeracional, que necessita ser interrompido. Destaca-se que a necessidade de (re)pensar sobre os horários de atendimentos no hemocentro, bem como estabelecer um calendário para realizar coletas externas em parceria com faculdades, empresas, igrejas, exército e outras instituições que tenham grande quantidade de adolescentes.   

Mas antes de tudo é preciso que as equipes do hemocentro instiguem e sensibilizem os adolescentes e a juventude, levando em consideração os aspectos da cultura local, para assim arquitetar estratégias de adesão da doação de sangue. Detalhar minuciosamente os benefícios e vantagens em se tornar um doador de sangue fidelizado ainda na adolescência, apontando a diferencia entre a doação por solidariedade e emoções vivenciados quando um amigo necessita de sangue em decorrência de um acidente ou cirurgia de urgência.  

Profissionais do hemocentro podem trabalhar capacitando diretores, coordenadores e professores sobre os requisitos básicos para doação. Ressalta-se que o conteúdo seja repassado forma divertida, utilizando gincanas, jogos educativos e dinâmicas nas desconstruções dos entraves que impedem ou distanciam a população dos bancos de sangue.  

Acredita-se que metodologia pesquisa-ação utilizada proporcionou-se aos adolescentes um diálogo reflexivo. Inicialmente fez o levantamento dos principais fatores que impedem a doação de sangue e posteriormente trouxe a participação dos sujeitos através da práxis transformadora.  Associou-se as necessidades para manter abastecido o estoque do banco de sangue, bem como dissipar mitos e tabus do imaginário social e incentivar a fidelização de futuros doadores de sangue.  

REFERÊNCIAS

1 - Moura AS, Moreira CT, Machado CA, Vasconcelos NJA, Machado MF. Doador de sangue habitual e fidelizado: fatores motivacionais de adesão ao programa - doi:10.5020/18061230.2006. p61. Rev Bras Promoc Saúde [Internet]. 4 de janeiro de 2012 [citado 2024 Jan 10];19(2):61-7. Disponível em: https://ojs.unifor.br/RBPS/article/view/963 

2- Paiva PHR. Elaboração e validação de material audiovisual para conscientização de doadores de sangue [dissertation]. Ribeirão Preto: University of São Paulo, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto; 2016 [citado 10 de fev de 2024]. doi:10.11606/D.17.2017.tde-07062017-120732. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17155/tde-07062017-120732/en.php 

3 - VENTURA C. Dezesseis a cada mil brasileiros doam sangue. Ministério da Saúde do Brasil – Agência Saúde, [Internet] 14 de jun de 2019. [Citado 2024 jan 11] Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/dezesseis-a-cada-mil-brasileiros-fazem-doacao-de-sangue>.   

4 - Ministério da Saúde Brasil. Manual de orientações para promoção da doação voluntária de sangue [Atenção a saúde]. [Citado 2024 fev 7]: Secretaria de Atenção à Saúde; 2015. 151 p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_orientacoes_promocao_doacao_voluntari a_sangue.pdf  

5 - Ministério da Saúde Brasil. Portaria nº 1.353, de 13 de junho de 2011. Aprova o Regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos. Diário Oficial da União [da] República Federativa do Brasil. [Internet] 2011 jun 14; [Citado 2024 Jan 15]; 148(113 Seção 1):27.  

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